Correio braziliense, n. 19740, 13/06/2017. Política, p. 3

 

Fachin dá cinco dias para a PF

Renato Souza 

13/06/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Ministro do Supremo prorroga prazo para que os policiais concluam investigação sobre suposta obstrução de Justiça por parte do presidente Temer. A corporação queria mais um mês de apuração. Defesa do peemedebista diz que há abusos judiciais no procedimento

A conclusão do inquérito que investiga se o presidente Michel Temer teria cometido o crime de obstrução de Justiça e corrupção passiva vai levar ao menos mais cinco dias. A Polícia Federal havia solicitado uma prorrogação de 30 dias para concluir a investigação, que será encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, com base no Código Penal, nos casos em que alguns investigados já estão presos, o ministro Edson Fachin decidiu estabelecer um período menor. Nesse procedimento, a PF busca apontar se o áudio da conversa entre Temer e o dono da JBS Joesley Batista sofreu ou não edições. No último dia 30, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, estabeleceu prazo de 10 dias para a conclusão dos trabalhos.

Além de Temer, o deputado Rodrigo Rocha Loures é investigado no mesmo processo. Loures já está preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Ele foi flagrado carregando uma mala com R$ 500 mil, que seriam provenientes de propina. O prazo para o relatório da investigação ser apresentado na suprema corte terminaria hoje. A intenção da investigação é apontar também a origem do dinheiro que foi encontrado com Loures, que é ex-assessor especial de Michel Temer, além de analisar outras provas e produzir um relatório sobre a possível participação de Temer na organização criminosa.

O prazo concedido pelo STF não impede que a Procuradoria-Geral da República (PGR) envie denúncia contra Temer antes mesmo da conclusão do inquérito. A expectativa é que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ofereça a denúncia até o próximo dia 19. Isso ocorrerá se a PGR entender que existem provas contundentes da participação do chefe de Estado nos crimes dos quais é acusado.

A defesa do presidente Temer apontou 50 possíveis edições no áudio gravado pelo empresário Joesley Batista. No entanto, a perícia ocorreu por meio de um profissional particular, em um tempo bem menor do que a PF julga ser necessário para dar um parecer conclusivo sobre a gravação apresentada. O presidente também se negou a responder 86 perguntas enviadas pela Polícia Federal, com questionamentos sobre o caso.

Em nota, a defesa do presidente Michel Temer alega que seu cliente é alvo de abusos judiciais. “O presidente e cidadão Michael Temer está sendo alvo de um rol de abusos e de agressões aos seus direitos individuais e à sua condição de mandatário da nação que colocam em risco a prevalência do ordenamento jurídico e do próprio Estado democrático de direito.”

Silêncio

Os advogados do ex-suplente de deputado Rodrigo Rocha Loures negam que o dinheiro flagrado com seu cliente tenha sido repassado pela JBS, em forma de propina. Em depoimento à PF, o ex-assessor decidiu permanecer em silêncio, por orientação de seus defensores, que afirmam que a prisão de Loures tem como objetivo forçar um acordo de delação premiada.