Correio braziliense, n. 19740, 13/06/2017. Política, p. 4

 

Não vou esmorecer, diz Temer em vídeo

Rosana Hessel e Luis Claudio Cicci 

13/06/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Presidente utiliza as redes sociais para reafirmar que não pretende deixar o Planalto, afirma que as denúncias são "artificiais" e arbitrárias e que a retomada da economia é prioridade

O presidente Michel Temer usou as redes sociais para dar o recado de que não pretende deixar o governo em meio à crise política e às denúncias envolvendo o chefe do Executivo e integrantes da cúpula do governo. Ele classificou essas acusações como “artificiais” e arbitrárias. “Não vou esmorecer. Não vou esmorecer. Seguirei liderando o movimento em favor da aprovação da agenda de reformas econômicas, políticas e sociais que está recolocando o Brasil no caminho da prosperidade e do crescimento”, disse Temer, em um vídeo de pouco mais de três minutos, divulgado pelo Palácio do Planalto na noite de ontem. Para ele, seu governo tem buscado ser democrático e tem avançado na aprovação de medidas inadiáveis para a retomada da economia. “A agenda de reformas é o resultado mais visível do respeito mútuo e do diálogo constante mantido entre o Poder Executivo e o Congresso Nacional”, disse.

Temer criticou membros do Judiciário ao destacar que o Estado Democrático de Direito não admite que as instituições públicas cometam ilegalidades sob qualquer justificativa ou motivo. “Na democracia, a arbitrariedade tem nome: chama-se ilegalidade. O caminho que conduz da Justiça aos justiceiros é o mesmo caminho trágico que conduz da democracia à ditadura. Não permitirei que o Brasil trilhe esse caminho”, afirmou. Sem mencionar uma suposta investigação pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre a vida do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente afirma no vídeo que “nenhuma intromissão foi ou será consentida”.

De acordo com o presidente, com “coragem e determinação”, o país alcançará os objetivos de retomar o crescimento e o emprego “sobre bases sustentáveis e seguras”. “O Brasil não pode esperar. O Brasil não vai parar”, concluiu.

Supremo

A presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, voltou a se posicionar ontem sobre a suspeita de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria investigado, por ordem do presidente Michel Temer, o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no STF. A ministra disse que não vai tolerar irregularidade em qualquer órgão estatal, inclusive a Procuradoria-Geral da República.

A revista Veja traz a denúncia da investigação na edição que começou a circular no último sábado. No mesmo dia, a ministra Cármen Lúcia classificou a possível investigação ilegal como crime gravíssimo e inadmissível. “Se comprovada a sua ocorrência, em qualquer tempo, as consequências jurídicas, políticas e institucionais terão a intensidade do gravame cometido, como determinado pelo direito”, avaliou.

A presidente voltou ao assunto depois que recebeu telefonema de Temer, em que o chefe do Executivo negou ter acionado a Abin para investigar Fachin. “O presidente da República garantiu não ter ordenado qualquer medida naquele sentido”, declarou Cármen Lúcia, conforme texto publicado no site do STF. “Não há o que questionar quanto à palavra do presidente da República”, encerrou.

Também no sábado, a Procuradoria-Geral da República publicou texto a fim de registrar perplexidade quanto à suposta ação para desmerecer membro da mais alta corte do país. “Há uma colossal diferença entre investigar dentro dos procedimentos legais, os quais preveem garantias aos acusados, e usar o aparato do Estado para intimidar a atuação das autoridades com o simples fito de denegrir sua imagem e das instituições a qual pertencem”, consta no texto assinado por Rodrigo Janot.