Para analistas, 'prévia do PIB' ficou no azul em junho e no 2º trimestre

Arícia Martins

17/08/2017

 

 

O desempenho bastante positivo do comércio e dos serviços deu impulso à economia em junho, compensando a estabilidade da indústria, segundo analistas. A estimativa média de 21 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) cresceu 0,76% em relação a maio, feitos os ajustes sazonais, depois de redução de 0,51% na medição anterior. As projeções para o indicador da autoridade monetária considerado um termômetro mensal do Produto Interno Bruto (PIB) vão de alta de 0,2% até 1,4%. O dado será divulgado hoje. Entre o primeiro e o segundo trimestres, a expectativa é que o IBC-Br tenha aumentado 0,25%, de acordo com a média de 17 analistas. Isso não significa, porém, que o PIB deve ter comportamento positivo, uma vez que a metodologia dos dois índices não é a mesma. Na passagem mensal, o volume prestado de serviços em todo o país avançou 1,3%, enquanto o volume de vendas no varejo restrito (que não inclui automóveis e material de construção) ficou 1,2% maior. A expansão do varejo ampliado, que considera os segmentos de veículos e material de construção, foi mais forte ainda, de 2,5%. São estes dois setores que influenciaram a alta de 0,43% prevista para o IBC-Br em junho, diz o economista Bruno Levy, da Tendências Consultoria.

A prestação de serviços e a atividade do comércio surpreenderam positivamente no sexto mês do ano, comenta Levy. Fatores como a liberação de recursos inativos do FGTS, a expansão da massa salarial como reflexo da desaceleração da inflação e a melhora dos dados de crédito ajudaram a elevar o poder de compra das famílias, afirmou. "A queda de juros já começou a surtir efeito na economia e isso tende a se intensificar mais." O primeiro semestre, diz o analista da Tendências, foi de estabilização da atividade, ao passo que o segundo deve marcar o início da retomada, ainda que em ritmo lento. O impacto do ciclo de flexibilização monetária ficará mais evidente a partir do terceiro trimestre, avalia. Além do desempenho um pouco mais robusto da demanda, Levy destaca que o setor externo continuará dando contribuição positiva para a economia, assim como a indústria, apesar do crescimento nulo registrado em junho. "O bom resultado do varejo ampliado deve ser compensado pelos dados desfavoráveis da indústria e do setor agrícola no mês", aponta a equipe econômica da MCM Consultores em relatório. Nos cálculos da consultoria, o IBC-Br subiu 1,3% na última medição, com alta de 0,2% sobre o mesmo mês de 2016.

Para os economistas do UBS, o IBC-Br está "crescendo lentamente". Nas estimativas do banco suíço, o indicador aumentou 0,9% de maio para junho. Os principais indicadores econômicos apontam para algo entre" estabilização recuperação lenta da atividade", afirmam os analistas. Segundo o UBS, os dados de junho devem confirmar desaceleração do crescimento no segundo trimestre, depois do resultado robusto de janeiro a março, quando o PIB avançou 1% sobre os três meses anteriores. No entanto, os dados de julho sugerem melhora da atividade no terceiro trimestre. O banco trabalha com expansão de 0,5% da economia em 2017. Levy, da Tendências, estima que o PIB deve ficar ligeiramente negativo de abril a junho, com desempenho perto da estabilidade. "Acreditamos que, nessa métrica, o IBC-Br deve vir melhor do que o PIB", disse.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4321, 17/08/2017. Brasil, p. A2.