Título: Agora, é tudo contigo, graciosa
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 14/02/2012, Economia, p. 9

Dilma Rousseff dá posse a Maria das Graças Foster na presidência da Petrobras e reitera papel estratégico da estatal

Numa disputada cerimônia, que contou com a presença da presidente Dilma Rousseff e de dezenas de políticos e empresários, a nova presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, tomou posse ontem prometendo continuidade e rígido cumprimento do plano de negócios da estatal. Ela destacou que a sua gestão será "sempre com foco na disciplina de capital, no cumprimento de metas e prazos, sem descuidar dos aspectos de segurança e ambiental". "Sabemos para onde vamos", assegurou.

A executiva, que substituiu José Sergio Gabrielli, fez questão de destacar o fato de ser "a primeira mulher a comandar uma empresa de petróleo desse porte no mundo" e se emocionou ao narrar sua trajetória na empresa, onde começou como estagiária no centro de pesquisa, em 1978. Graça Foster, como é conhecida, afirmou que se sente preparada para assumir o "grande desafio" do cargo, "maior que a soma de todos os desafios" que enfrentou até hoje.

A engenheira química que saiu de uma favela carioca para liderar a Petrobras trabalha há 31 anos na maior empresa brasileira, onde detinha o cargo de diretora de Gás e Energia. Sua vaga foi ocupada pelo gerente executivo de Operações e Participações em Energia, José Alcides Santoro Martins. "Há mais de 30 anos andamos juntos, crachá e eu. Aqui, todos os dias, registro mais um capítulo de minha história", ilustrou. A nova presidente da Petrobras emocionou os outros convidados na solenidade quando agradeceu o apoio do ex-presidente Lula. Ela chorou e interrompeu o discurso.

Na hora de falar, Dilma revelou estar emocionada com a coincidência de o governo e a Petrobras serem comandados por mulheres, em um momento em que a estatal e o país exibem crescimento. Para ela, a presidência da estatal "está em boas mãos" com a "competente Graça Foster", cujas qualidades disse conhecer bem. A presidente deixou claro que a Petrobras continuará sendo estratégica na economia doméstica, investindo prioritariamente no Brasil, "que é a principal fonte de sua energia e o principal destino de seus produtos". "Petrobras e Brasil são parceiros", resumiu.

Apesar de reconhecer o direito dos mais de 600 mil acionistas, "a quem a empresa deve mostrar desempenho", a presidente sublinhou o papel da multinacional brasileira do petróleo como defensora da soberania do país em um mercado "assimétrico e agressivo". Uma semana após o sucesso das concessões de três grandes aeroportos — Brasília, Guarulhos (SP) e Campinas (SP) —, Dilma Rousseff disse: "A Petrobras é poderosa em escala mundial e é estratégica dentro do Brasil. Felizmente, sobreviveu a todos os ventos privatistas e persistiu como empresa brasileira, com o controle do povo brasileiro, e hoje exerce papel fundamental no nosso processo de desenvolvimento".

Conteúdo local A presidente disse que seu governo não abrirá mão da obrigatoriedade de um percentual local nas compras feitas pela Petrobras e de que os projetos da estatal se orientem pelo "compromisso de fortalecer toda a cadeia produtiva do país e de estimular o desenvolvimento tecnológico do setor no Brasil". A declaração reforça a posição adotada por Dilma de proteger a indústria nacional, sobretudo diante da crise econômica internacional, que reduziu o consumo em diversas regiões do mundo.

O governo tenta reagir contra práticas comerciais que considera desleais e fomentar um crescimento mais expressivo da economia este ano. "Agora, é tudo contigo, graciosa", concluiu, bem-humorada, o discurso, revelando a estreita amizade com a executiva. Graça, a primeira no cargo de presidente vinda dos próprios quadros técnicos da estatal desde o governo de Fernando Collor (1990-1993), afirmou ter "gratidão e fidelidade incondicional" à presidente Dilma.

O agora ex-presidente Gabrielli, que fará parte do secretariado do governador Jaques Wagner (PT) na Bahia, lamentou que a capacidade de refino de petróleo tenha se esgotado no país, mas afirmou que foram criadas as bases para superar essa dificuldade. Na lista que apresentou das 10 conquistas na sua gestão, iniciada em julho de 2005, destacou a autossuficiência, o marco regulatório do pré-sal, a política de conteúdo nacional, a renovação da força de trabalho e a maior capitalização da história. Em setembro de 2010, a companhia lançou ações por um valor de R$ 120 bilhões, a maior emissão de títulos nos mercados mundiais.

Gabrielli disse ainda que introduziu a Petrobras no setor de energia verde. "Saio com a sensação de dever cumprido", disse. Sobre a sua sucessora, brincou: "Pena que é do Botafogo, mas é uma craque". Também deixou ontem a estatal o diretor de Exploração de Produção, Guilherme Estrella, sucedido por José Miranda Formigli Filho, ex-gerente executivo de Exploração e Produção do Pré-Sal.

Participaram da cerimônia os ministros Guido Mantega (Fazenda), presidente do Conselho de Administração da estatal, Edison Lobão (Minas e Energia) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), além do presidente da Vale, Murillo Ferreira, e o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT), que tentou mostrar que é próximo de Dilma num momento em que sofre desgaste na relação com o governo.

Cobrança A Petrobras promete cobrar posicionamento da venezuelana PDVSA sobre o projeto de parceria das duas estatais na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. O diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, informou que enviará carta à PDVSA, ressaltando que a sociedade pode ser confirmada até a refinaria começar a funcionar. A petroleira venezuelana ainda não apresentou as garantias exigidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para emprestar R$ 10 bilhões ao empreendimento. A PDVSA responderia por 40%. A Petrobras registrou em janeiro alta de 36% nas importações de gasolina.