Para diretor-geral da OMC, desafio do Brasil é elevar a competitividade

Assis Moreira

18/08/2017

 

 

O cenário comercial internacional já esteve pior, mas continua repleto de riscos, e na economia brasileira persiste o desafio de ter de melhorar sua competitividade. É o que afirma o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, antecedendo uma visita ao Brasil na semana que vem.

Em entrevista ao Valor, ele aponta também oportunidades que estão se desenhando, como no comércio eletrônico, onde considera que o Brasil ainda tem muito a fazer.

Esta será a primeira visita do diretor-geral da OMC ao Brasil depois do recente exame da política comercial do país pela entidade, que resultou em 900 questões por parte dos países-membros e provocou muito debate no governo e setor privado.

Uma das conclusões do relatório de economistas da OMC foi a de que incentivos bilionários dados pelo governo ao setor industrial não resultaram na melhora da competitividade da economia e custam caro ao contribuinte.

Azevêdo deixou claro que não é seu papel falar sobre política econômica e industrial de país-membro, e que pretende focar nos desafios do comércio internacional nas conversas em Brasília, de quarta a sexta-feira, e em São Paulo na segunda e terça-feira da semana seguinte.

A seu ver, o cenário comercial global está cheio de riscos, tanto "geopolíticos como de retrocesso de políticas de liberalização comercial em vários lugares do mundo, e tudo isso precisa ser monitorado para evitar uma sequência de restrições que possam levar a uma escalada de protecionismo comercial".

O diretor-geral da OMC reconhece a ameaça de guerra comercial, embora evite diplomaticamente mencionar o confronto crescente entre os Estados Unidos e a China, as duas principais nações comerciantes do planeta, por exemplo.

"Esse risco [de guerra comercial] existe. Quando se ouve a retórica contra o comércio, isso se dá porque há correntes que advogam essas restrições", comentou o dirigente da OMC. "E o que temos de tentar fazer é evitar que essa linha de pensamento venha a prevalecer." Para Azevêdo, no Brasil um dos grandes desafios continua a ser o de elevar e competitividade da economia, afim de facilitar a integração de companhias brasileiras nas cadeias globais de valor.

"Isso é ainda mais importante num mundo cada vez mais integrado e pleno de incertezas", afirmou ele. "O Brasil tem bolsões de competitividade, mas não são a regra. Temos isso no agronegócio, em algumas áreas da indústria. Mas de maneira geral o produto industrializado brasileiro é pouco competitivo no exterior e isso precisaria ser melhorado", afirmou Azevêdo.

Para ele, o incremento da competitividade da economia brasileira envolve políticas muito abrangentes em todas as áreas, como fiscal, trabalhista, monetária, social, de educação. "São várias vertentes que precisam ser atacadas e os resultados não aparecerão da noite para o dia." O diretor-geral da OMC pretende tratar, no Brasil, de uma das oportunidades que surgem nas trocas globais, o caso do comércio eletrônico.

"O comércio eletrônico faz parte de uma estrutura muito diferente do que existia há 20 anos e toda a economia brasileira e seu marco regulatório têm que ter isso presente", afirmou.

Considera também que o Brasil pode facilitar as operações das pequenas e médias empresas, responsáveis por mais de dois terços dos empregos no país, para participarem mais ativamente do comércio internacional.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4322, 18/08/2017. Brasil, p. A4.