Título: Barreiras aos chineses
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 14/02/2012, Economia, p. 11

Desgastado pela concorrência dos produtos asiáticos, Brasil admite adotar salvaguardas contra Pequim A presidente Dilma Rousseff abriu ontem as portas do Palácio do Planalto ao vice-primeiro-ministro da China, Wang Qishan, para discutir o avanço das relações comerciais entre o Brasil e o gigante asiático. Mas Dilma deixou claro que não tolerará mais a invasão de produtos chineses no mercado nacional. No atual cenário, o governo não descarta nem mesmo medidas drásticas, como a adoção de salvaguardas — restrições aos importados chineses — para proteger a produção interna.

"Nós nos preocupamos com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro", ressaltou o vice-presidente Michel Temer, durante a II Reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), principal fórum de discussão de temas econômicos entre os dois países.

Embora a China seja o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, o envio de itens processados em território nacional para o gigante asiático está concentrado em produtos básicos, como soja em grão, petróleo, minério de ferro, têxtil e calçados. Temer pediu o empenho dos governos brasileiro e chinês na ampliação da pauta de exportações nacional. "Tratamos de alguns casos, como o aumento das exportações de produtos manufaturados para a China."

Por outro lado, o governo brasileiro ouviu queixas do primeiro-ministro chinês, que questionou a decisão do Brasil de aumentar em 30 pontos percentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos importados que não usarem ao menos 65% de componentes fabricados no Mercosul.

Carne suína Desde a última reunião do Cosban, em 2006, o fluxo comercial entre os dois países passou de US$ 16 bilhões para US$ 77 bilhões. Dados do boletim Economia Brasileira em Perspectiva, divulgados ontem pelo Ministério da Fazenda, mostram que a participação chinesa saltou de 1,22% para 17,31% das vendas brasileiras nos últimos 20 anos. Enquanto isso, a parcela do Mercosul passou de 4,2% para 10,88%. Na visão de Temer, no entanto, as exportações, além de pouco qualificadas, não refletem a relação estabelecida com o resto do mundo. "Brasil e China são economias industriais, com alto grau de diversificação, o que deve ser refletido no comércio bilateral", afirmou o vice-presidente.

Entre outros itens, Temer enfatizou o interesse do Brasil em aumentar a exportação de carnes, tanto suína quanto de aves e bovina. Não à toa, no almoço oferecido à delegação chinsesa, no Itamaraty, foi servida carne de porco, numa tentativa de derrubar a barreira ao ingresso desse produto no país asiático. O ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, espera que 15 novos estabelecimentos de suínos sejam autorizados a exportar para a China ainda no primeiro semestre de 2012.

Wang Qishan, por sua vez, ressaltou, que, além de melhorar a relação bilateral, por serem emergentes, Brasil e China têm papel importante no atual contexto de crise econômica internacional. "Precisamos trabalhar em conjunto e acelerar o combate ao protecionismo", afirmou.

Frango brasileiro taxado na África A União Brasileira de Agricultura (Ubabef) criticou ontem a aplicação de sobretaxas provisórias feitas pela África do Sul contra o frango brasileiro. Nas contas da entidade, os prejuízos das medidas antidumping do país contra o produto chegam a US$ 70 milhões por ano para o setor de aves. As mudanças atingem as exportações de frango inteiro e cortes desossados, com sobretaxas de 62,93% e 46,59%, respectivamente. Elas se somam às tarifas normais de importação, que são de 5% para o frango inteiro e de 27% para os cortes desossados. De acordo com o presidente-executivo da Ubabef, Francisco Turrar, o setor avícola e os órgãos governamentais vão recorrer da decisão da África do Sul.