Correio braziliense, n. 19751, 24/06/2017. Política, p. 2

 

Áudio entre Temer e Joesley sem edição

Paulo de Tarso e Renato Souza 

24/06/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Defesa do presidente alegou anteriormente que 50 trechos da gravação teriam sofrido alterações. Análise de peritos da PF, porém, sustenta que a conversa do peemedebista com o empresário no Palácio do Jaburu está na íntegra

O relatório da Polícia Federal, que será enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), complica a situação do presidente Michel Temer. A perícia realizada no áudio gravado durante uma conversa entre o peemedebista e o empresário Joesley Batista, dono da JBS, afirma que não ocorreram edições no conteúdo. Durante a análise, foram identificadas 180 interrupções. No entanto, essas pausas na captação do áudio ocorrem por causa de um dispositivo do gravador, que interrompe a captação do áudio nos momentos de silêncio e retoma a gravação quando o som é identificado.

Fontes ligadas à Polícia Federal afirmaram ao Correio que, com o resultado da perícia, fica prejudicada a argumentação da defesa do presidente Temer de que esse material não poderia ser utilizado como prova no processo contra ele. Os advogados de Temer alegaram que a gravação tinha mais de 50 trechos editados e solicitou a perícia da Polícia Federal.

Na conversa, Temer teria indicado dar o aval para a compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba. O relatório com a conclusão dos trabalhos de perícia pode ser enviado a qualquer momento para o Supremo. Os peritos da PF conseguiram tornar audíveis vários trechos da gravação nos quais não se conseguia entender o diálogo entre o presidente e Joesley. Dessa forma, podem surgir novas evidências de uma ligação mais aprofundada do peemedebista com o empresário.

O ministro Edson Fachin, do STF, determinou que a PF enviasse o relatório com os resultados da perícia assim que os trabalhos fossem concluídos. No começo da semana, a corporação solicitou prazo de mais cinco dias para concluir o trabalho de investigação. A PF já enviou ao Supremo um relatório parcial, onde afirma que o presidente Michel Temer cometeu atos de corrupção passiva.

O professor Paulo Henrique Blair, especialista em direito constitucional da Universidade de Brasília (UnB), afirma que a gravação é uma prova importante. “Esse item tem uma importância relevante neste inquérito. No entanto, essa prova não é absoluta. A defesa também tem direito de apresentar assistência pericial própria. É claro que existe a confiança e respeitabilidade da Polícia Federal, que é conhecida por ser cuidadosa em suas perícias”, ressalta o professor.

De acordo com o relatório parcial da polícia, que já está nas mãos do ministro Edson Fachin, Temer teria recebido pagamentos de vantagens indevidas do grupo J&F, controlador dos frigoríficos JBS. Em nota, o Planalto informou que não vai comentar o caso. A defesa de Temer afirmou que “a perícia da PF não é absoluta e outras avaliações apontam edições na gravação”.

Contratado pela defesa de Temer, há um mês, o perito Ricardo Molina disse que a Procuradoria-Geral da República (PGR) era “ingênua” e “incompetente” ao utilizar a gravação de uma conversa como prova para abrir um inquérito contra o peemedebista. Segundo o perito, o gravador usado pelo empresário da JBS é “vagabundo” e “não seria possível” garantir que a gravação é “autêntica”. “O que tem no laudo é coisa de gente que não sabe mexer em áudio”, disse o perito. “Não vou citar nomes, mas conheço quem assina (o documento) e, se colocarem eles aqui na minha frente, vão começar a gaguejar.”

Varredura

A Polícia Federal vai fazer hoje uma vistoria no gabinete da ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo, e dos demais ministros que solicitarem. O objetivo da ação é avaliar se o local está livre de grampos e demais dispositivos de espionagem. A ação deve ocorrer no terceiro andar do prédio, que fica na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

A vistoria foi solicitada pela ministra Carmen Lúcia, motivada por denúncias de que o ministro Edson Fachin estaria sendo espionado. Além de fazer buscas nas salas que comportam os gabinetes, a Polícia Federal também vai analisar os aparelhos de telefone usados pelos ministros. As denúncias que chegaram ao STF indicam que o ministro Edson Fachin estaria sendo espionado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Temer ligou para Cármen Lúcia e negou a suposta espionagem a um integrante do Supremo.

Uma carta com fezes

O Departamento de Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados abriu investigação para apurar o envio recente de um envelope com fezes ao gabinete do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A correspondência chegou ao gabinete parlamentar de Maia, que fica no Anexo 4 do Congresso. Por ser atualmente presidente da Câmara, Maia ocupa um gabinete no prédio principal da Casa e pouco frequenta o antigo escritório. O envelope foi “interceptado” antes de ser encaminhado ao destinatário. A investigação procura apurar de qual agência dos Correios foi despachado o envelope. Procurada, a assessoria de imprensa de Maia não quis comentar o episódio. Com a viagem de Michel Temer para a Rússia e a Noruega, desde o início desta semana, Maia ocupou a Presidência da República.