Correio braziliense, n. 19751, 24/06/2017. Política, p. 3

 

Processo contra Aécio é arquivado

24/06/2017

 

 

O presidente do Conselho de Ética do Senado, João Alberto Souza (PMDB-MA), considera que o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) foi vítima de “uma grande armação”. Ontem, o peemedebista arquivou a representação contra o tucano alegando não estar “convencido” das acusações contra o parlamentar, investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Os membros do colegiado ainda podem recorrer da decisão do presidente.


Para João Alberto, Aécio não agiu de má-fé ao pedir R$ 2 milhões ao dono da JBS, Joesley Batista. “Esse cidadão (Joesley) era tido como um homem sério, um dos principais empresários do país, com trânsito em todas as áreas, e que nunca se pensou que era bandido. Ele (Aécio) entrou para conversar com um bandido pensando que era uma pessoa séria”, defendeu o presidente do Conselho. Ele destacou que as gravações de Aécio com Joesley não o convenceram de que houve quebra de decoro parlamentar, nem as reportagens publicadas pela imprensa.

João Alberto contou que aguardava posição do Supremo sobre a prisão de Aécio nesta semana para tomar a sua decisão, porém o julgamento acabou adiado. O prazo para ele decidir sobre o recebimento ou não da representação no Conselho contra Aécio acabaria na próxima segunda. “Como não tinha material que me desse uma certeza de que houvesse quebra de decoro, decidi pelo arquivamento da petição”, alegou. Ele explicou ainda que, caso haja recurso no plenário, ele dará tramitação “normal” ao processo.

Na petição de arquivamento do processo que pedia a cassação do mandato de Aécio, João Alberto alegou falta de provas. “A fundamentação do pedido deve estar baseada em elementos que possam ser objeto de apuração. O quanto alegado, da mesma forma, deve estar lastreado em conjunto probatório pré-constituído, o qual deverá acompanhar a representação no momento do seu ingresso, o que não ocorreu. Tal circunstância, por si só, seria suficiente para justificar a rejeição preliminar do pedido”, diz trecho do despacho.

A decisão de João Alberto critica ainda a junção de notícias de jornais entre o conjunto de provas, que João Alberto classificou como “temerário” e considera que a delação de Joesley não é suficiente para dar sequência à representação. “Não havendo qualquer prova documental, há aqui claro conflito entre a palavra de um empresário interessado a qualquer custo em se safar da prisão e a palavra de um senador da República que conta com presunção de veracidade.”

“Tratativas”

Para João Alberto, na gravação de Aécio e Joesley “não há qualquer tratativa de vantagem indevida, muito menos envolvendo interesses públicos” e também não houve pedido de contrapartida. O texto destaca ainda que não foi anexado ao processo nenhuma gravação ou troca de mensagens entre Andrea Neves e Joesley Batista, em que teria ocorrido pedido de vantagem indevida. “Ao contrário, das gravações e dos documentos trazidos aos autos em momento posterior fica claro e evidente que a irmã do representado não pediu ‘propina’ ao empresário, mas sim o procurou para tentar vender um apartamento da família”, afirma João Alberto.

Ao saberem da decisão de João Alberto, integrantes da Rede e do PSol — que protocolaram a representação no Conselho de Ética — disseram que vão recorrer da decisão no próprio colegiado.

Briga de tucanos

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), rebateu as críticas feitas pelo 
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante uma palestra na manhã de ontem. “Respeito e admiro muito o ex-presidente Fernando Henrique, mas acho que ele está precisando sair um pouco de seu apartamento e visitar São Paulo”, disse Doria. Em sua apresentação, FHC citou o prefeito ao falar de políticos que gravam e compartilham seu dia a dia nas redes sociais. “Por que o prefeito de São Paulo está fazendo algum sucesso? Porque ele manipula isso (disse, tirando seu celular do bolso) o tempo inteiro. Ele mudou alguma coisa? Eu não vi, mas isso aqui ele sabe fazer (comunicação)”, afirmou. Essa não é a primeira vez que o ex-presidente e o prefeito se estranham em público. Em março, FHC criticou indiretamente a possibilidade de Doria concorrer à Presidência. “Se você for um gestor não vai inspirar nada, tem que ser líder.”