Título: Anti-Chávez se espelha em Lula
Autor: Vicentin, Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 14/02/2012, Mundo, p. 17

Henrique Capriles, candidato da oposição à presidência, defende o modelo brasileiro

Pela primeira vez em 13 anos, Hugo Chávez terá de enfrentar um adversário político com reais chances de tomar-lhe o poder. Henrique Capriles, atual governador do estado de Miranda, o segundo maior da Venezuela, venceu as primárias da oposição e se torna uma opção para os insatisfeitos com o chavismo. Analistas apostam que a disputa será bastante acirrada, mas o alto comparecimento de eleitores às urnas, no último domingo, animou os oposicionistas. Cerca de 3 milhões de venezuelanos participaram da primária, quase um milhão a mais do que o esperado pela Mesa da Unidade Democrática (MUD), a coalizão responsável pelo processo.

Aos 39 anos, Capriles já foi prefeito e presidente da extinta Câmara dos Deputados (hoje, o Legislativo é unicameral, chamado de Assembleia Nacional). Definindo-se como de centro-esquerda, o candidato opositor defende o modelo que, segundo ele, foi criado no Brasil pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "A chave é a superação da pobreza, aliada ao crescimento econômico", resume. Quase sempre com um boné na cabeça, ele pretende acabar com algumas mudanças instituídas por Chávez, como a reeleição indefinida e a expropriação de terras.

"As pessoas estão cansadas da situação em que está a Venezuela e querem viver uma verdadeira democracia" disse ao Correio María de Oteyza, membro da comissão eleitoral da MUD. "Capriles conseguiu o apoio de 1,9 milhão de pessoas, o que nós achávamos que seria a participação total. Ele, de alguma maneira, cativou os venezuelanos", afirmou. O segundo colocado, o também governador Pablo Pérez, conquistou 867,6 mil eleitores. Essa foi a primeira vez que os opositores de Hugo Chávez se uniram e organizaram uma primária para definir um candidato único à Presidência. A disputa está marcada para 7 de outubro.

Até lá, Capriles deve adotar um tom mais moderado e não partir para o ataque direto ao presidente. "Ele está tentando não entrar no jogo de Chávez, que costuma desqualificar os oponentes", observa o professor José Vicente Carrasquero, especialista em comportamento eleitoral na Universidade Simón Bolívar. Segundo Carrasquero, Capriles tem posturas opostas às de Chávez, pregando a união e a não divisão do território. "É como uma antítese, algo que está despertando a curiosidade do venezuelano", disse à reportagem. A Venezuela enfrenta uma série de problemas crônicos, como o crescimento da violência e o desabastecimento de energia e comida em algumas regiões. Somente no ano passado, a taxa de homicídios quintuplicou.

Chavistas A insatisfação de parte do eleitorado parece ter colocado os chavistas em alerta. A rede de televisão estatal não cobriu as primárias e o governo só se manifestou sobre a vitória de Capriles no fim da tarde de ontem. "A direita já tem um candidato. Bem-vindo à batalha, mas prepare-se para uma grande vitória do povo bolivariano da Venezuela e do estado de Miranda", ressaltou o vice-presidente, Elías Jaua. Embora Capriles seja uma figura bastante conhecida no país, precisará enfrentar Chávez e sua popularidade, que beira os 55%. Analistas do Eurasia Group preveem que a disputa será bastante apertada. "Mas Capriles é um fenômeno eleitoral. Podemos imaginar, pelo resultado de domingo, que temos condições de chegar à Presidência. Temos uma longa campanha pela frente, mas podemos ganhar", afirmou María de Oteyza.