O Estado de São Paulo, n. 45204, 23/07/2017. Política, p. A6.

 

‘O governo não perde de jeito nenhum’

Caio Junqueira / Daiene Cardoso

23/07/2017

 

 

Para vice-presidente da Câmara, denúncia contra Temer não passa porque troca de governo agora ‘não é bom para o País’

 

 

ENTREVISTA - Fábio Ramalho

‘O governo não perde de jeito nenhum’, diz Ramalho.

Fábio Ramalho (PMDB-MG), Vice-presidente da Câmara dos Deputados

 

Vice-presidente da Câmara dos Deputados e substituto imediato de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), defende em entrevista ao Estado/Broadcast um “prazo de validade” para a Lava Jato. “O Brasil não vai aguentar isso para o resto da vida. Ela (Lava Jato) não pode ser indeterminada. Ela já fez o seu trabalho.”

Ele ainda afirmou que nenhuma denúncia contra o presidente Michel Temer será aceita pela Câmara. “O governo não perde de jeito nenhum”, afirmou. Ramalho é conhecido na Casa pelas festas oferecidas aos colegas. “Fabinho Liderança”, como é chamado, já se coloca até como pré-candidato a presidente da Câmara em 2019 em uma disputa que pode ser contra Maia, que já fala, nos bastidores, em concorrer ao terceiro mandato.

“Eu estou preparado para assumir a presidência da Câmara dos Deputados quando eu for candidato, daqui a um ano e meio”, disse o parlamentar.

 

Como o senhor vê a Lava Jato?

A Lava Jato tem de ter prazo de validade. Tudo tem de ter prazo para terminar. Ela é excelente para o Brasil, mas que tenham mais operações. Ela não pode ser indeterminada.

 

Por quê?

Porque ela já fez o seu trabalho. Em qualquer país do mundo, investigação tem de ter prazo para terminar.

 

Mas ela ainda não terminou...

Então eles têm de ter uma maneira de terminar até para você começar com outra pauta. A pauta todinha do Brasil é só a Lava Jato.

 

Mas não é importante ir até o fim com as investigações?

Eu sou favorável que vá até o fim, mas tem de ter tempo de validade. Não pode ficar eternamente. Me mostre uma operação no mundo que teve prazo indeterminado. Defendo a Lava Jato, mas tem de ter prazo de término. O Brasil não vai aguentar isso o resto da vida. Além da corrupção, tem de se avançar na desburocratização do País, na segurança jurídica do País, nas reformas.

 

E qual seria esse tempo para ela terminar?

Determina um tempo: seis meses.

 

Mas é que uma investigação leva a outra...

Você pode achar o que for, mas tem de ter um prazo para terminar.

 

O governo precisa de 308 votos para aprovar, por exemplo, a reforma da Previdência, mas a base aliada está cada vez menor...

Esquece base. A base do governo hoje, para manutenção do governo, é de mais de 250 deputados. Para aprovar a Previdência são 308 votos necessários, mas nessa questão não é de base, é de responsabilidade. É hora de fazer todo tipo de reforma. A reforma penal, a reforma tributária, a reforma da Previdência. O que tiver de ser feito, a gente tem de fazer nesses dois anos.

 

E a denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva será aprovada na Câmara dos Deputados?

A questão da denúncia, o que eu falei para o presidente, é que tanto faz votar ela ou não. Se realmente quer votar a denúncia, o que vence no Parlamento é o número de votos. Se quem vota a favor vai defender o a favor, quem vota contra é que vai arrumar os votos para ser contra (o governo).

 

Existe a possibilidade de não votá-la?

O presidente não deu resposta. A denúncia tem de ser um consenso do Parlamento para votar. Não é consenso de governo, é o Parlamento que vai decidir se quer votar ou não.

 

Mas tem de dar uma resposta ao Supremo Tribunal Federal ao pedido da Procuradoria-Geral da República.

Eu sou favorável que o Parlamento tem de votar. No meu ponto de vista tinha de votar na segunda-feira (passada), mas vi que segunda não votava. Conversei com várias pessoas, até de oposição, que me disseram que não votariam neste instante, mas em agosto votariam.

 

A tendência é de que os lados contrários, prevendo a derrota, vão tentar esvaziar a sessão.

Olha, o governo não perde de jeito nenhum. Ninguém está defendendo Michel Temer nem anistiando nenhum governo. O que a gente pensa hoje é que uma troca de governo neste momento não é bom para o País. O que o País ganhará com isso? Ganhará um crédito ruim no exterior e dentro do Brasil não ganhará nada. Não vai mudar nada. Os empregos não vão surgir.

 

Por que um deputado votaria a favor de um presidente que é impopular, acusado de corrupção e com a economia patinando? Qual o argumento dos governistas?

Não sou governista, sou independente. Não foram colocadas provas robustas para a gente. Não estamos votando contra a investigação, mas contra a suspensão de mandato agora.

 

A votação é por chamada nominal. Existe um constrangimento de dizer no microfone que é contra a aceitação da denúncia?

Quem não tiver coragem, vai para casa. Pode passar na Globo, em tudo quanto é televisão. Quem tem medo não pode ser político. O Parlamento é coisa para gente de coragem.

 

O senhor acredita na fidelidade do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia?

Não tenho nada para desacreditar nele, não.

 

O Centrão está, agora, com Maia ou com o presidente Michel Temer?

O Centrão está bem alinhado, junto e amarrado ao Palácio do Planalto. E amarrado não só com a cúpula, mas com a base também. Mas não vejo disputa entre Michel e Rodrigo.

 

O senhor estaria preparado para assumir a Câmara dos Deputados de vez?

Eu não vou na hipótese, não. Eu estou preparado para qualquer coisa, mas essa é uma hipótese. Eu estou preparado para assumir a presidência da Câmara dos Deputados quando eu for candidato, daqui a um ano e meio. Se eu puder ser e for eleito. Pretendo ser candidato, mas não agora.

 

Mas Rodrigo Maia tem pretensão de ser reeleito presidente da Câmara dos Deputados...

Ele é um grande presidente da Câmara. Quem estiver melhor apoia o outro.

 

Como vê o cenário para a eleição presidencial de 2018?

O candidato mais forte que nós temos até hoje ainda é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se ele puder ser candidato, é o candidato mais forte, é inegável que ele é o mais forte. Ele tem uma multidão de gente, foi um grande estadista. A gente espera que ele possa, nos tribunais superiores, provar sua inocência, né?

 

QUEM É

Ex-prefeito da pequena Malacacheta (MG), aos 56 anos está em seu terceiro mandato na Câmara. Filiou-se ao PMDB em março de 2016, a poucas semanas da autorização dada pela Casa para o impeachment de Dilma Rousseff. Passou também pelo PTB, PV e PMB.

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Delegada vê criminalização de ‘movimento legislativo’

Luiz Vassallo

23/07/2017

 

 

Ao concluir que os senadores peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) e o ex-presidente José Sarney não tentaram barrar as investigações da Lava Jato, a delegada de Polícia Federal Graziela Machado da Costa e Silva afirmou que, ainda que “lamentável”, é “natural” que projetos de lei tivessem o propósito de “amainar consequências criminais que rondam os próprios legisladores”.

‘Status criminal’. “Soa desarrazoado dotá-las de status criminal, sob pena de criminalizar qualquer movimento legislativo que, mesmo sem aprovação ou sequer tramitação, tenha como mote disciplinar de forma diversa, por exemplo, o instituto da colaboração premiada ou qualquer outro instituto penal ou processual penal”, sustenta a delegada.

O relatório da PF concluiu que os três peemedebistas, que tiveram conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, não cometeram obstrução da Justiça e que Machado não “merece” os benefícios da delação premiada.

Nos diálogos, divulgados em maio do ano passado, Jucá afirmou ser necessário “mudar o governo para estancar a sangria” – o que foi interpretado como uma tentativa de barrar a Lava Jato – e mencionou como “solução” o então vice-presidente Michel Temer. Renan e Sarney também falaram sobre os avanços das investigações. Para a delegada, os “posicionamentos” dos peemedebistas são prerrogativas de seus cargos e “inerentes à atividade parlamentar”.