Com apoio de paulistas, Tasso mantém comando do PSDB

Vandson Lima, Fabio Murakawa e Marcelo Ribeiro

23/08/2017

 

 

Respaldado por boa parte da ala paulista do PSDB - incluindo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso -, além de intelectuais ligados à sigla, Tasso Jereissati vai se mantendo no comando partidário. Ontem, o senador dobrou a aposta e reafirmou que não fará qualquer movimento para deixar o posto. Disse que cabe aos insatisfeitos convencerem Aécio Neves (MG), presidente afastado, a tomar a iniciativa - e o ônus - de lhe tirarem da presidência. "Eles que vão ao Aécio e digam: Aécio, tira o homem que ele não nos representa. Provem que são majoritários. É tão fácil." "Eu estou consciente que sou interino. Então pra deixar a presidência e a interinidade, não precisa de nenhum tipo de articulação, pressão, nada disso. É um ato puro e simples do presidente efetivo, que ele faz e pronto" disse, momentos antes de entrar na reunião da sigla que faria em seu gabinete. Como resultado, o encontro ocorreu e, segundo os presentes, ninguém fez qualquer tratativa para retirar Tasso do comando do PSDB. Tasso alega que, apesar de articulações como o jantar organizado ontem na casa do deputado Giuseppe Vecchi (GO), um de seus possíveis substitutos, a ala tucana contrária a ele nunca lhe pediu a saída de fato. "Nunca me falaram nada. Nunca. Nem por nota, bilhete, cartão postal. Nem telefonema, WhatsApp. Espero que venham falar comigo alguma coisa. Se estão falando por trás, venham falar pela frente". Ele rechaçou que o governador de Goiás, Marconi Perillo, que esteve no jantar, esteja entre os articuladores de sua saída. "Ele me telefonou, dizendo que não tem nada a ver com isso, não concorda com isso de maneira nenhuma. Não concorda com qualquer movimento e me apoia". Citado por tucanos governistas como um dos nomes para assumir interinamente a presidência do PSDB no lugar de do senador Tasso, o também senador Flexa Ribeiro (PA) descartou qualquer intenção nesse sentido. Assim como outras lideranças tucanas, o senador disse temer que a divisão dentro da legenda, assim como sua participação com cargos no impopular governo Michel Temer, possam minar as ambições do PSDB de reconquistar a Presidência em 2018, depois de um hiato de 16 anos. "[O PSDB] é o partido que tem mais condições de eleger o próximo presidente. Já perdemos quatro [eleições] e agora vamos perder mais uma?", disse Flexa, que afirmou ter sido desde o início contrário à participação dos tucanos no ministério de Temer. "Nós fomos protagonistas no impeachment, não temos como ficar contra o governo. Mas não precisa de cargos para apoiar um programa". A possibilidade de deixar o PSDB está descartada por Tasso Jereissati, aconteça o que acontecer. "Eu não saio. Aécio assumindo, não assumindo, eu não saio do partido. Eu fico no partido", disse, veemente. "Minha vida foi dedicada a esse partido, fui presidente do PSDB nos primórdios do partido e fui talvez o primeiro governador a eleger um governador do partido. Se tiver alguma diferença a ser discutida, a gente discute democraticamente, discute seus espaços e aí sim a maioria que resolve". Defensor do afastamento do PSDB da gestão do presidente Michel Temer, Tasso reafirmou que o partido seguirá votando a favor de propostas que considere importantes para o país. "Para mim, hoje estar ou não no governo Temer é detalhe. Nós estamos 100% votando com os projetos, isso que é importante. Apoiar os projetos, previdência, tributária, política, não depende de ter cargo no governo. Tendo ou não tendo, não muda um milímetro do nosso voto". Por fim, Tasso bateu duro quando questionado sobre a atuação do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, responsável pela articulação política, na distribuição de cargos em favor de votos pró-Temer na Câmara. "Pergunte a ele: 'Você está fazendo isso, menino?'. Se ele disser sim, está fazendo errado, contra um princípio fundamental do partido, que é contra o fisiologismo".

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4325, 23/08/2017. Política, p. A6.