O Estado de São Paulo, n.45206 , 25/07/2017. Política, p.A6

 

Por apoio, Temer vai ligar para 80 deputados

Por: Tânia Monteiro / Carla Araújo

 

Tânia Monteiro

Carla Araújo/BRASÍLIA

 

O presidente Michel Temer passou o dia ontem ao telefone para tentar convencer parlamentares a votar contra o prosseguimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção passiva com base na delação do Grupo J&F. Pela contabilidade do Palácio do Planalto e da base aliada na Câmara, cerca de 80 deputados são considerados indecisos.

Os parlamentares estão fora de Brasília e, na quarta-feira da próxima semana, o plenário da Casa deve começar a analisar a acusação formal contra o presidente. De posse de uma lista com números de telefones dos deputados preparada por Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo na Câmara, Temer tem ligado para cada um deles.

O presidente pede para que o parlamentar leia sua defesa e afirma que é inocente. Temer vai repetir o gesto ao longo de toda esta semana.

O peemedebista vai manter também o corpo a corpo com os deputados, com convites para visita a seu gabinete, e vai continuar a receber seus pedidos, como cargos e emendas. A maioria dos parlamentares quer postos em autarquias em seus Estados, como gerências do INSS, da Conab, do Incra e da Funasa.

O Planalto já estima pelo menos 250 votos pró-Temer, mas o presidente quer chegar no plenário com um saldo maior, em torno de 300 deputados pela rejeição da denúncia.

Com um número de votos considerado significativo, o Planalto pretende dar demonstração de força política para derrubar, não só esta denúncia, mas qualquer outra que ainda pode ser pelo procurador-geral Rodrigo Janot. Investigado também por obstrução da Justiça e organização criminosa, Temer aproveita ainda as conversas com os deputados para pedir apoio à reforma da Previdência, uma resposta ao mercado.

 

Agenda positiva. Paralelamente à busca de votos, Temer continua em busca de agendas positivas. Para hoje, estão previstas pelo menos duas cerimônias no Palácio do Planalto. O primeiro evento, às 11 horas, será a posse do novo ministro da Cultura, o jornalista Sérgio Sá Leitão. O segundo, às 16 horas, é o lançamento do Programa de Revitalização da Indústria Mineral Brasileira, quando será anunciada a criação da Agência Nacional da Mineração (ANM), que substituirá o atual Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Temer vai anunciar ainda o ajuste na Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM).

 

Denúncia. A uma semana de votação de acusação no plenário, Temer vai dizer a deputados indecisos que é inocente

 

 

 

 

 

 

Alckmin reúne DEM, e aliado prevê desembarque do governo

Maia e ministro jantam com governador no Palácio dos Bandeirantes e discutem assédio a deputados do PSB
Por: Pedro Venceslau / Caio Rinaldi

 

Pedro Venceslau

Caio Rinaldi

 

Principal aliado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na Executiva do PSDB, o deputado federal Silvio Torres (SP), secretário-geral da legenda, disse ontem em entrevista à TV Estadão que depois da votação da admissibilidade da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer no plenário da Câmara dificilmente os tucanos continuarão no governo. A declaração foi feita poucas horas antes de um jantar que começou às 21h30 a pedido da cúpula do DEM na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

O encontro, que não estava na agenda oficial de Alckmin, durou uma hora e meia e reuniu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM-PE), o líder do DEM na Casa, Efraim Filho (PA), o senador e presidente da legenda, José Agripino Maia (RN) e Rodrigo Garcia (SP).

Os convidados foram embora sem falar com a imprensa. Segundo a assessoria de Alckmin, a reunião tratou da conjuntura política e das reformas que tramitam no Congresso. Além do cenário político, havia outra pauta polêmica: o assédio de Maia aos deputados do PSB, partido do vice-governador de São Paulo, Márcio França, que é um dos principais articuladores da pré-campanha de Alckmin à Presidência em 2018. O movimento do presidente da Câmara enfraqueceu a articulação de França para presidir o PSB.

Torres, que se reuniu ontem com França no Bandeirantes antes da reunião com o DEM, afirmou que não foi definida a posição oficial do partido sobre a votação da denúncia no plenário, mas disse que a bancada de 46 deputados deve ser liberada.

 

‘Maioria’. O secretário-geral do PSDB avalia que hoje há uma “ampla maioria” favorável ao desembarque dos quatro ministros tucanos no governo. São eles Bruno Araújo (Cidades), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo), Luislinda Valois (Direitos Humanos) e Aloysio Nunes (Relações Exteriores).

“Após a votação o PSDB dificilmente ficará no governo. Teremos a liberdade política de nos articular para 2018. Ficaremos em uma posição crítica de poder fazer a avaliação do atual governo”, disse o tucano./COLABOROU MARCELO OSAKABE

 

Cenário

Após a votação, o PSDB dificilmente ficará no governo. Teremos a liberdade política de nos articular para 2018. Ficaremos em uma posição de poder fazer a avaliação do atual governo”.

Silvio Torres (PSDB- SP)

DEPUTADO FEDERAL