O Estado de São Paulo, n. 45209, 28/07/2017. Política, p. A6.

 

Ministro admite que bloqueio afeta ações da PF

Leonencio Nossa

28/07/2017

 

 

Após crítica de procurador, Torquato reconhece que contingenciamento obriga a ‘processo seletivo’

 

 

Ao rebater críticas do procurador Athayde Ribeiro Costa, o ministro da Justiça, Torquato Jardim, admitiu ontem que o contingenciamento de verbas do governo federal afeta a Polícia Federal, mas negou que a restrição orçamentária seja uma tentativa de esvaziar a Operação Lava Jato.

“Sendo honesto, sincero e transparente, (o contingenciamento) poderia implicar um processo seletivo de ações, não realizar todas as ações necessárias. Isso é um juízo que compete ao próprio Departamento (da Polícia Federal)”, afirmou o ministro, em entrevista coletiva à tarde na sede da pasta.

Mais cedo, Costa, que integra a força-tarefa do Ministério Público Federal na Lava Jato, em Curitiba, disse que a PF precisa ser “fortalecida” para dar continuidade às investigações. Athayde atribuiu a Torquato medidas que levaram à “diminuição do efetivo” da PF.

“O ministro anterior, Alexandre de Moraes, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, se comprometeu a fortalecer a Lava Jato. O atual ministro não fez movimento no mesmo sentido, nem sequer consultou a forçatarefa sobre o quanto de investigação tinha e o quanto de necessidade de efetivo havia”, disse Athayde, na entrevista coletiva sobre a Operação Cobra, 42.ª fase da força-tarefa da Lava Jato deflagrada ontem.

Torquato afirmou que são “infundadas” as críticas do MPF. Segundo o ministro, a PF teve contingenciamento de R$ 400 milhões, mas conseguiu liberar R$ 170 milhões. “De agosto a dezembro, está previsto um repasse de R$ 70 milhões por mês, o que é suficiente para executar o necessário até fim do ano.” Para ele, há um “constrangimento orçamentário”, não corte.

 

Caneta. O ministro voltou a dizer que não atua para a queda do diretor-geral da PF, Leandro Daiello. “Nunca houve pressão para que ele saia”, afirmou. Questionado se haveria um prazo para se definir a situação de Daiello, Torquato respondeu: “O ‘deadline’ cabe ao dono da caneta. E o dono da caneta é o presidente Michel Temer”.

Ao assumir a Justiça, no fim de maio, no lugar do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), Torquato não confirmou a permanência de Daiello no cargo e chegou a dizer que só em “três meses” poderia responder a essa pergunta./ COLABORARAM JULIA AFFONSO e FAUSTO MACEDO

 

Verba. Torquato diz que são ‘infundadas’ críticas do MPF

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PERFIL - Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobrás e do Banco do Brasil

 

 

Executivo era da confiança de Lula

Malena Oliveira / Murilo Rodrigues Alves

28/07/2017

 

 

O executivo Aldemir Bendine foi confirmado no cargo de presidente da Petrobrás em fevereiro de 2015, com a missão de ajustar o balanço da companhia e contabilizar as perdas com a corrupção diante do escândalo que já fazia a petrolífera sangrar desde março de 2014. Dias antes, sua antecessora, Graça Foster, havia renunciado ao posto diante da pressão por causa dos desdobramentos das investigações.

Vindo do Banco do Brasil, onde se tornou presidente em abril de 2009, Bendine era um nome de confiança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi indicado pela então presidente Dilma Rousseff. A nomeação foi uma surpresa para o mercado. No dia de sua confirmação no cargo, as ações da Petrobrás fecharam em queda de 6%, mas chegaram a recuar 9% durante as negociações.

Na gestão de Bendine, a empresa contabilizou, em abril de 2015, prejuízo recorde de R$ 6,2 bilhões, por baixas contábeis relacionadas à corrupção entre 2004 e 2012. O resultado referente a 2014 ficou negativo em R$ 21,6 bilhões. Ele renunciou à presidência da Petrobrás em maio de 2016, já na interinidade de Michel Temer na Presidência.

Uma das polêmicas mais graves em que Bendine esteve envolvido foi um empréstimo do Banco do Brasil aprovado em sua gestão para a socialite e amiga Val Marchiori, de R$ 2,7 milhões, em outubro de 2014. Na época, o banco informou não haver ilegalidade na operação.