Correio braziliense, n. 19752, 25/06/2017. Política, p. 4

 

Os nomes dos procuradores 

Paulo de Tarso Lyra e Renato Souza

25/06/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Lista tríplice para procurador-geral da República será escolhida na próxima terça-feira. Oito nomes estão na disputa para substituir Janot

Na próxima terça-feira, quando os 1,3 mil procuradores da República votarão para eleger uma lista tríplice de postulantes ao cargo máximo do Ministério Público Federal, poderá parecer que é algo corriqueiro, que se repete de dois em dois anos, desde 2003. Mas isso não é verdade. Eles estarão escolhendo, entre os oito candidatos que se apresentaram, quem querem para conduzir, ao longo do próximo biênio, as investigações da Lava-Jato, iniciada em 2014. Em 2015, esse processo ocorreu, mas Rodrigo Janot era um candidato natural e acabou reeleito. Agora, o cenário apresenta um nome novo para prosseguir com um trabalho que vem sacudindo o país.

As incógnitas não param por aí. Será a primeira eleição, desde 2003, sem o PT no poder. E qual a diferença fundamental agora? Os petistas sempre respeitaram a lista tríplice apresentada pela Associação Nacional dos Procuradores (ANPR). E mais. Indicavam o nome mais votado na relação. Uma sugestão — quase imposição — feita pelo então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para dar um caráter republicano ao governo de Lula. “Você não vai querer ser acusado de ter escolhido um engavetador de processos”, aconselhou Márcio, que morreu em 2014.

“O presidente Temer não precisa, necessariamente, escolher o primeiro nome da lista. Qualquer um dos três tem legitimidade. Mas, nesse momento de crise, é fundamental que essa relação seja respeitada”, defendeu o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti. Até o momento, não há certezas firmadas se o presidente Temer vai manter a tradição petista. Até porque o último governante antes da era do PT no Planalto, o tucano Fernando Henrique Cardoso, não respeitou.

Xadrez

O PMDB, partido de Temer, apoia a indicação de Raquel Dodge. Bastante ligada ao presidente e aos caciques peemedebistas, ela é uma procuradora de carreira reconhecida e tem grandes chances de figurar entre os três mais votados. Mesmo que não esteja, há quem defenda que ela seja indicada mesmo assim. “Quem terá a coragem de questionar um nome que foi votado pelos seus pares, que tem competência, e ainda é mulher? Os colegas de MPF não agirão assim, pode apostar”, disse um analista arguto do processo de sucessão de Janot.

O xadrez na mesa presidencial não é apenas esse. A eleição será em 27 de junho, mas Janot só concluirá o mandato em 17 de setembro. Temer indicará com rapidez o sucessor do procurador-geral? Se isso acontecer, por uma questão de espírito de corpo, o indicado não vai ficar dando palpite nos trabalhos de Janot, que ainda estará no posto. “Mas o novo nome começará a escolher sua equipe, o que, inevitavelmente, indicará futuros rumos de trabalho e pensamento”, reconheceu um procurador.

Temer também poderá demorar a indicar o novo nome — algo não raro. Mas aí os desdobramentos seriam outros. Neste caso, o vice-procurador-geral assumiria interinamente. Informações de bastidor dão conta que uma tendência defende que o atual vice-procurador-geral, Bonifácio de Andrada, deixe o cargo que exerce atualmente no Conselho Superior do Ministério Público e concorra a um novo posto no mesmo colegiado, na disputa que acontecerá em agosto. Esse conselho é quem indica o vice-procurador.

Dessa forma, ele poderia ocupar, ainda que por um lapso de tempo, o cargo de procurador-geral após expirar o mandato de Janot. Nicolao Dino, atual vice-procurador-geral eleitoral, é outro nome cotado. “Bonifácio tem apoio político, mas não dos procuradores. Dino tem força no Ministério Público, mas não tem trânsito político”, resumiu um procurador. Essa saída é pouco provável, contudo. “Bonifácio é próximo do PSDB de Minas e essa relação causará desconforto no MPF”, contrapôs um jurista.