Correio braziliense, n. 19745, 18/06/2017. Política, p. 2

 

A reação de Temer ao delator 

Alessandra Azevedo 

18/06/2017

 

 

REPÚBLICA EM TRANSE » Presidente afirma que processará amanhã Joesley Batista - que, segundo o peemedebista, é o "bandido notório de maior sucesso na história do país". O empresário é o protagonista da pior crise enfrentada pelo Planalto

Exatamente um mês após a maior ofensiva contra o governo Michel Temer, o Palácio do Planalto anunciou que processará o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo JBS e responsável pela crise mais forte desde que o peemedebista assumiu o lugar da ex-presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2016. Em nota divulgada ontem pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Temer garantiu que “tomará todas as medidas cabíveis” contra o empresário, que ele acusou, mais uma vez, de “desfiar mentiras em série”. Amanhã, o presidente pretende protocolar ações civil e penal contra Joesley.

Desde que vazaram as gravações comprometedoras entre Temer e Joesley no Palácio do Jaburu, em maio passado, o Planalto tem atuado em duas frentes para amenizar a situação. Uma delas é acusar o empresário de, ao apontar o dedo para Temer, proteger “os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens” e os “grandes tentáculos da organização criminosa” que ele teria ajudado a forjar. Embora não tenha citado explicitamente os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ele fez referência clara aos governos do PT, que teriam instalado a política de campeões nacionais no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A nota do Palácio do Planalto lembra que, em 2005, o Grupo JBS, de Joesley, conseguiu o primeiro financiamento no banco de fomento e, dois anos depois, faturava R$ 4 bilhões. Em 2016, o faturamento das empresas da família Batista chegou a R$ 183 bilhões. “Relação construída com governos do passado, muito antes que o presidente Michel Temer chegasse ao Palácio do Planalto”, destaca o texto.

Temer busca se defender da nova acusação de Joesley, publicada ontem pela revista Época, de que seria o chefe da “maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil”. Segundo o empresário, os integrantes do grupo que não estão presos, hoje, estão no Planalto. Ele citou, entre os integrantes da “organização criminosa”, o ex-deputado Eduardo Cunha, os ex-ministros Geddel Vieira Lima e Henrique Alves, além do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco. Moreira Franco negou ontem ter relacionamento com Joesley e afirmou que esteve com o empresário “uma única vez, em um grupo de brasileiros, numa viagem de trabalho em Pequim”.

Outra estratégia que tem sido usada pelo governo para defender Temer é desqualificar as acusações e os delatores. Desde que as delações foram divulgadas, o presidente acusa Joesley de ser um “criminoso”, que lucrou milhões de dólares ao especular com uso de informação privilegiada e deixar o país. Na troca de farpas mais recente, ontem, Temer afirmou que o dono da JBS é “o bandido notório de maior sucesso na história brasileira”, por ter conseguido enriquecer “com práticas pelas quais não responderá” e, de quebra, ainda manter o patrimônio no exterior “com o aval da Justiça”. “Suas mentiras serão comprovadas e será buscada a devida reparação financeira pelos danos que causou, não somente à instituição Presidência da República, mas ao Brasil”, diz a nota da Presidência.

O vice-líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, Carlos Marun (MS), um dos mais ferrenhos defensores de Temer no Congresso, definiu a entrevista de Joesley como “mais um capítulo” de uma “conspiração asquerosa” contra o presidente da República e as reformas que vêm sendo tocadas pelo governo. “Trata-se de mais um capítulo dessa novela em que se constitui a conspiração asquerosa que tenta acabar com as reformas, depor o presidente Temer e garantir exílio dourado para Joesley e para os outros delinquentes que o cercam”, disse Marun. “É óbvio que, orientado por sua defesa, o meliante tenta proteger seu escandaloso e benevolente acordo de delação, que está sendo contestado na Justiça já que a lei veda o perdão judicial a chefes de quadrilha delatores”, completou.