O Estado de São Paulo, n. 45207, 26/07/2017. Política, p.A6

 

DEM e Alckmin alinham interesses

Democratas e tucanos projetam a retomada de parceria e definem uma agenda comum caso Michel Temer permaneça no cargo até 2018

Por: Pedro Venceslau / Felipe Resk / Igor Gadelha

 

Pedro Venceslau

Felipe Resk

Igor Gadelha / BRASÍLIA

 

Em um gesto de deferência ao governador Geraldo Alckmin (PSDB), a cúpula do DEM desembarcou anteontem em São Paulo para “informar” o tucano sobre a perspectiva de crescimento da legenda na Câmara e propor a retomada da parceria histórica entre as duas siglas. Aliados desde a eleição presidencial de 1994, PSDB e DEM se afastaram após a divulgação de conversas entre um dos donos da JBS, Joesley Batista, e o presidente Michel Temer.

Os atritos começaram no auge da crise política. Com Temer acuado no Palácio do Planalto, o PSDB passou a articular a candidatura do senador Tasso Jereissati (CE) à Presidência em caso de eleição indireta, enquanto o DEM defendia a “opção” Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara.

Os dois lados avaliam que o peemedebista deve conseguir barrar a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra ele na Câmara por corrupção passiva. A votação na Casa da aceitação ou não da denúncia está marcada para 2 de agosto.

Há dúvidas, porém, se Temer conseguiria sobreviver a uma segunda denúncia. A estratégia do DEM é reduzir a resistência do PSDB a uma eventual administração Maia no Palácio do Planalto e elaborar uma agenda comum para agir em bloco caso o presidente consiga se manter no cargo até 2018. “O governo precisa enfrentar as reformas da Previdência e política dentro do menor espaço de tempo possível para superá-las. Precisa encontrar o caminho da aprovação das reformas política e previdenciária”, disse ao Estado o senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM.

O jantar no Palácio dos Bandeirantes, anteontem, com dirigentes do DEM, Reuniu, além de Agripino, o presidente da Câmara, o ministro da Educação, Mendonça Filho, o deputado Efraim Filho (PB), o secretário de Habitação do Estado, Rodrigo Garcia, e o prefeito de Salvador, ACM Neto.

 

Coerência. “Nós temos uma parceria que não é de hoje, uma parceria antiga do PSDB com os Democratas. No tempo do presidente Fernando Henrique tivemos sempre um trabalho conjunto. Nos governos do PT mantivemos a coerência de exercemos um papel importante de oposição - é tão patriótico ser governo quanto oposição”, afirmou Alckmin ontem.

No jantar, o governador paulista disse que o PSDB só deve desembarcar do governo federal após a aprovação da reforma da Previdência - a proposta já foi aprovada em comissão na Câmara e aguarda para ser pautada no plenário.

Para integrantes da cúpula do DEM, o posicionamento dos tucanos demonstrou que eles temem desembarcar sozinhos. Já os líderes do DEM previram que somente uma possível nova denúncia da Procuradoria-Geral da República com teor muito contundente teria potencial de derrubar Temer. Nesse cenário, a cúpula do partido informou que permanecerá na base e seguirá “monitorando” a situação do governo.

 

‘Diálogo’. Um eventual afastamento de Temer da Presidência beneficiaria diretamente o partido. Isso porque quem assumiria o País seria Rodrigo Maia. “Foi um encontro para mantermos o canal de diálogo aberto”, afirmou o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho.

A conversa também abordou o futuro político das duas legendas. O ministro da Educação, Mendonça Filho, disse que há espaço para um partido “reformista de centro” e que espera “sinergia” entre o DEM e o PSDB. “Sintonizarmos nossas posições e preocupações”, afirmou Agripino Maia.

 

 

 

 

Siglas ensaiam aliança na Bahia e em SP para 2018

Por: Pedro Venceslau

Além da reaproximação no Congresso Nacional, PSDB e DEM também esperam estar juntos onde for possível nas eleições de 2018. No jantar que tiveram anteontem com o governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, os líderes do DEM falaram sobre a eleição estadual na Bahia, onde o prefeito de Salvador, ACM Neto, deve reunir em seu palanque o PSDB e todos os demais partidos da base do presidente Michel Temer. O objetivo é fazer frente ao governador petista Rui Costa.

“Na Bahia os partidos anti-PT se reúnem em torno do ACM Neto. Há uma unanimidade: onde está o PT, estamos do outro lado”, disse ao Estado o senador José Agripino Maia (RN), presidente nacional do DEM. Ele nega, porém, que a eleição presidencial do ano que vem tenha sido abordada. Em São Paulo, os dois partidos também devem estar juntos em torno do candidato do PSDB ao Palácio dos Bandeirantes escolhido por Alckmin. Já em Pernambuco, não há consenso entre DEM e PSDB. / P.V.

 

 

 

 

 

PMDB pede a Temer pasta de tucano

Por: Igor Gadelha / Renan Truffi

 

BRASÍLIA

 

A bancada do PMDB na Câmara tem pressionado o Palácio do Planalto a nomear um deputado do partido como ministro das Cidades, cargo hoje ocupado pelo deputado licenciado Bruno Araújo, do PSDB. Na próxima quarta-feira, o plenário da Casa vai votar se autoriza ou não o prosseguimento da denúncia contra o presidente Michel Temer, acusado de corrupção passiva com base na delação do Grupo J&F.

A reclamação dos peemedebistas é de que a bancada está “sub-representada” no governo e o PSDB não merece comandar uma pasta com tamanha capilaridade política como Cidades em razão das críticas a Temer e ameaças de desembarque da base. A pasta tem orçamento de R$ 20 bilhões. O PMDB comanda hoje seis dos 28 ministérios.

O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), já levou o pleito da bancada a Temer. “Se houver alguma mudança ministerial, a bancada tem a expectativa de se fortalecer”, afirmou Rossi. O Estado/Broadcast apurou que são defendidos dois nomes: o do deputado Carlos Marun (MS), vice-líder da sigla e um dos mais aguerridos defensores de Temer, e o do deputado José Priante (PA)./I.G. e RENAN TRUFFI

 

 

 

 

 

Doria promove 'onda cívica' por São Paulo

'Verde e Amarelo' / Após condenação de Lula, prefeito eleva tom anti-PT e espalha bandeiras do Brasil pela cidade
Por: Pedro Venceslau

 

Um dos cotados para ser o candidato do PSDB à Presidência em 2018, o prefeito João Doria promove uma espécie de “onda cívica” na cidade: os prefeitos regionais da capital foram orientados a espalhar bandeiras do Brasil em áreas estratégicas de São Paulo.

O tucano, que já costumava encerrar seus eventos políticos com o tema da vitória de Ayrton Senna e o mote de que a bandeira do País não é vermelha como a do PT, reforçou o tom nacionalista após o juiz Sérgio Moro condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava Jato.

Após Doria colocar bandeiras no muro de sua casa e na sacada do gabinete na Prefeitura, os prefeitos regionais Eduardo Odloak (Sé/Centro) e Paulo Mathias (Pinheiros) disputam o “título” de quem tem a maior bandeira de São Paulo. “Fizemos uma parceria (com o setor privado) e doaram uma nova bandeira, com mastro de 60 metros e 17 metros de largura. É a maior da cidade”, disse Odloak.

Também foram colocadas bandeiras no Vale do Anhangabaú, Pátio do Colégio e dezenas de praças. Até a Secretaria de Abastecimento do Estado foi acionada para trocar a bandeira do Mercadão. “Essa foi uma solicitação do prefeito para despertar o espírito cívico da população”, afirmou Odloak.

Para superar a bandeira do centro, Mathias encomendou uma bandeira ainda maior para o Largo da Batata, que passa por uma reforma: 56 metros de largura em um mastro de 33 metros de altura.

O correligionário do prefeito nega que a ideia seja preparar uma eventual “nacionalização” do prefeito no tabuleiro político. “Não se trata da nacionalização do João Doria, mas do resgate do orgulho de ser brasileiro”, disse Mathias.

Doria afirmou que a iniciativa não tem conotação eleitoral. “A reverência à bandeira é um elemento de respeito pela instituição”, afirmou o prefeito./P.V.

 

Símbolo. Bandeiras ganham espaço na Faria Lima (acima), na Prefeitura (esquerda) e no Túnel Ayrton Senna (direita)