O globo, n.30725 , 20/09/2017. PAÍS, p.9

Delatores da Lava-Jato no Rio pagarão R$ 74 milhões em multa

JULIANA CASTRO

20/09/2017

 

 
 
Força-tarefa denunciou 116 pessoas; Cabral é réu em 13 processos

Onze delatores da Lava-Jato no Rio que tiveram os acordos homologados pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do estado, se comprometeram a pagar R$ 74 milhões em multas, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Apenas parte desses recursos está depositado em conta judicial porque alguns colaboradores parcelaram o valor ajustado com o MPF em seus acordos.

No montante, não estão incluídas multas pagas por delatores que tiveram os acordos homologados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), como é o caso, por exemplo, de ex-executivos da Andrade Gutierrez. Eles foram os primeiros a relatar que o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) cobrava propina referente a 5% do valor de contratos.

Cabral é um dos 116 denunciados na operação desde que a força-tarefa da Lava-Jato no Rio foi instituída, em julho do ano passado. Ao todo, foram apresentadas 22 denúncias — Cabral é réu em 13 delas. Também viraram réus a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo e os ex-secretários na gestão do peemedebista, como Wilson Carlos (Governo) e Hudson Braga (Obras), presos com Cabral em novembro do ano passado, na Operação Calicute, e Sérgio Côrtes (Saúde), preso em abril, na Operação Fatura Exposta. Dez tipos diferentes de crimes foram denunciados, entre eles corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

 

CASO DE CABRAL É O PRÓXIMO DA FILA

O levantamento do MPF reúne informações até o final de agosto. Em pouco mais de um ano, foram expedidos 55 mandados de prisão preventiva e nove de prisão temporária. Outros 192 mandados de busca e apreensão foram expedidos para a realização de 14 operações em conjunto com a Polícia Federal e a Receita Federal. As investigações já englobam as áreas de Obras, Saúde e Transportes do governo Cabral.

A estimativa de valores e bens bloqueados chega a R$ 1 bilhão nas operações Calicute, Eficiência e Fatura Exposta. O bloqueio é um mecanismo para ressarcir os cofres públicos em caso de condenação dos réus.

Até o momento, as investigações da Lava-Jato no Rio já levaram a uma sentença. Treze pessoas foram condenadas por desvios nas obras da usina nuclear de Angra 3, entre elas o ex-presidente da Eletronuclear Othon Silva. A expectativa é que a próxima sentença do juiz Marcelo Bretas seja a da Operação Calicute. Essa será a primeira decisão do magistrado em um dos processos contra Sérgio Cabral na Justiça Federal do Rio.

Entre os delatores da operação no estado estão os irmãos Marcelo e Renato Chebar, doleiros que apontaram contas no exterior, com saldo de US$ 100 milhões, atribuídas ao ex-governador e a Wilson Carlos e Carlos Miranda. Ao todo, R$ 319 milhões foram ressarcidos aos cofres públicos, incluindo os recursos revelados pelos irmãos Chebar. O governo do estado recebeu R$ 270 milhões.

 

EX-PRIMEIRA-DAMA RECLAMOU DE JOIAS

Integrantes da diretoria da rede de joalherias H.Stern também são delatores na operação. O acordo envolve o presidente, Roberto Stern; o vice-presidente, Ronaldo Stern; o diretor financeiro, Oscar Luiz Goldemberg; e a diretora comercial, Maria Luiza Trotta. Eles concordaram em pagar multas que somam R$ 18,9 milhões e estão prestando serviços comunitários, dando seis horas de aula por semana em São Cristóvão. Ontem, eles prestaram depoimento a Bretas.

Roberto Stern disse que foi criado um sistema paralelo para que os pagamentos das joias fossem efetuados diretamente na tesouraria da empresa. Já Maria Luiza Trotta afirmou que Adriana Ancelmo chegou a reclamar da qualidade dos diamantes e preferia peças exclusivas e com pedras preciosas.

A defesa de Cabral disse que toda as provas trazidas pelos delatores da H.Stern foram extraídas da memória de Maria Luiza e que ficou claro que nem o presidente da empresa, nem seus diretores sabiam o que se passava na operação de compra e venda de joias. A defesa de Adriana disse que lamenta que diretores faltem com a verdade em juízo para manter os prêmios obtidos com delações em que inventam fatos.