Título: Famílias turbinam o PIB
Autor: Caprioli, Gabriel ; Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 15/02/2012, Economia, p. 11

Volume de vendas acima do previsto e reajuste do mínimo aumentam apostas no crescimento do paísNotíciaGráfico

Em um ano que promete uma sucessão de obstáculos a serem vencidos pela equipe de Dilma Rousseff para reativar a economia, o mercado consumidor interno deve continuar tracionando a atividade no país. O avanço de 6,7% do comércio em 2011, divulgado ontem, mostrou que, mesmo com a adoção de medidas de contenção de crédito e uma elevada taxa básica de juros (Selic) — que vigoraram durante todo o primeiro semestre —, os gastos dos brasileiros resistiram e o varejo encerrou o ano melhor do que se previa. Agora, com juros menores, desoneração de impostos em setores como o de linha branca e aumento do salário mínimo de 14,1%, o consumo voltou a ser a peça fundamental do crescimento.

Não à toa, os economistas já refizeram suas projeções para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) para 2011 — o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o número em março — e 2012, uma vez que os resultados no quarto trimestre passado e dos primeiros três meses deste ano devem vir mais fortes do que o esperado. "Com o anúncio de dezembro, nossa expectativa é de que o produto tenha crescido entre 0,4% e 0,6% frente aos três meses anteriores, o que resultaria em um crescimento de 2,9% em 2011", destacou Felipe França, economista do Banco ABC Brasil.

Esperava-se, pelos cálculos do mercado, que o volume de vendas enfraquecesse em dezembro e ficasse estável em relação a novembro. O que se viu, porém, foi um avanço de 0,3% no varejo restrito e de 1,6% no indicador que inclui a comercialização de automóveis e materiais de construção no mês. O resultado foi positivo na avaliação de Aleciana Gusmão, técnica do IBGE e uma das responsáveis pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). "Foi um pouco menor do que se viu em 2010, mas era esperado que as medidas de contenção do consumo fizessem isso. Como esse freio foi relaxado no segundo semestre, fechamos o ano com um bom cenário", detalhou.

Se a imagem no retrovisor é favorável, o horizonte é ainda mais animador, de acordo com a economista do Santander Fernanda Consorte. "Quando olhamos a média dos últimos três meses, o varejo ampliado (inclui automóveis e materiais de construção) cresceu a 1%. Se você considerar a renda mais alta e os incentivos fiscais, as vendas seguirão crescendo", comentou.

Salário Os consumidores estão aproveitando esse incremento no salário e a facilidade no crédito para irem às compras, mesmo em uma época do ano em que, tradicionalmente, o movimento é mais fraco. A auxiliar de depósito Quelza Silva dos Santos, 20 anos, aproveitou o aumento para R$ 678 nos ganhos mensais e comprou um armário e uma câmera digital. "Foi melhor ter comprado logo do que ficar com o dinheiro na mão e acabar gastando sem necessidade", disse. Os produtos adquiridos por Quelza compõem os grupos que mais puxaram o comércio no ano passado. O segmento de móveis e eletrodomésticos acumulou alta de 16,6%, enquanto os equipamentos para escritório, informática e comunicação avançaram 19,6%.

Nos supermercados, outro setor impulsionado pelo salário, a tendência é a mesma. Com orçamento mensal maior, a advogada Auzira Cristina, 28 anos, aumentou a frequência com que vai ao mercado. "O preço até que está razoável e está dando para comprar mais um pouco", relatou. Além do salário mínimo maior, a inflação mais baixa também joga a favor do comércio. Marianne Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio, destacou que o ajuste de preços implícito no varejo, calculado com base no aumento de volume das vendas e da receita, foi de 4,6% em 2011, abaixo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O indicador oficial leva em consideração os serviços e chegou a 6,5% no ano passado. "A inflação no varejo é menor porque a importação detém os reajustes, o que não ocorre nos serviços. No fim das contas, a competição maior beneficia o consumidor", ponderou.

Revisão A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) sofreu modificações em sua metodologia e, de acordo com o IBGE, as alterações já estarão incorporadas aos números a partir de março, quando será publicado o levantamento referente a janeiro deste ano. O instituto explicou que, ao contrário do que ocorreu com o IPCA, as mudanças na PMC terão pouco impacto no resultado da aferição. As revisões estão restritas à troca de algumas empresas na amostragem e outros detalhes técnicos.

Folia alimenta o Leão No Carnaval, o consumidor vai ajudar a engordar o Leão. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), a cachaça poderia ser 81,87% mais barata, não fosse o apetite grande do governo. "É como se alguém, ao tomar um copo, pagasse por 5,5, sendo que 4,5 caem nas garras do Leão", explicou o economista Alfredo Marcolin Peringer, do Instituto Millenium. A vodca carrega 82% de tributos, seguida pela caipirinha (76,66%), o uísque (61%), a cerveja (55,6%), o refrigerante em lata (46,47%) e a água (44,55%). Confete e serpentina têm incidência de 43,83% de imposto. No colar havaiano, a carga chega a 45,96%.