O globo, n.30724 ,19/09/2017. PAÍS, p.5

Em busca do ‘menor dano possível’

VINICIUS SASSINE

 
 
 
Raquel quer preservar Ministério Público no episódio da delação da JBS

PGR pode rever modelo adotado para assinatura de colaborações premiadas

 

Ao construir uma tese sobre validade de provas em caso de rescisão de acordo de delação premiada, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, deve adotar uma saída que preserve a instituição e provoque o “menor dano possível”, na visão de auxiliares de Raquel. Ela tomou posse no cargo ontem.

Amanhã, o Supremo Tribunal Federal (STF) volta a analisar pedido da defesa de Michel Temer para que a denúncia por organização criminosa e obstrução de Justiça contra o presidente não tenha prosseguimento enquanto não houver uma definição sobre a análise da delação premiada dos executivos do grupo J&F. Temer foi denunciado pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na última quinta-feira.

Ainda não está definido se Raquel participará da sessão amanhã e se haverá um posicionamento dela a respeito do assunto caso resolva participar. Auxiliares da procuradorageral dizem que a gestão anterior, de Janot, já se manifestou na votação do pedido feito pela defesa de Temer.

Janot foi representado por Nicolao Dino, que foi vice-procurador-geral eleitoral na gestão passada. Dino não fez uma defesa explícita da validade das provas nem construiu um raciocínio jurídico a respeito do assunto, por entender que o julgamento do pedido da defesa do presidente não é o momento adequado para isso.

— Desses dados estão sendo e serão extraídas consequências jurídicas sérias, que passarão pelo crivo do STF. Esses fatos invalidam a prova decorrente, que ainda vai ser apresentada ao crivo do STF? Os aspectos relativos à ilicitude da prova no grau de profundidade exigido pela defesa me parecem demandar, pressupor o próprio exame dessa prova. O STF fará isso no bojo de uma questão de ordem, nos estreitos limites de uma questão de ordem? — questionou o vice de Janot na ocasião.

Janot decidiu rescindir o acordo assinado com Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, e com Ricardo Saud, diretor de relações institucionais do grupo proprietário da JBS, em razão da omissão de crimes na colaboração premiada assinada com a PGR e homologada pelo STF. O ex-procurador-geral defendeu a validade e a continuidade das provas apresentadas.

Outra expectativa dentro da PGR é que Raquel possa promover uma revisão do modelo adotado para assinar colaborações. Ao todo, Janot assinou 159 acordos de delação que acabaram homologados pelo STF, dentro da Lava-Jato. Essas delações são responsáveis por grande parte dos 178 inquéritos instaurados para investigar políticos com foro privilegiado. Ao todo, nesses procedimentos no STF, existem 450 investigados.