O globo, n.30723 , 18/09/2017. PAÍS, p.4

Prefeituras do PSDB recebem mais recursos das Cidades

SILVIA AMORIM

JULIANA ARREGUY

 

 

Pasta comandada pelo partido vai destinar R$ 158 milhões a prefeitos tucanos

Na gestão do tucano Bruno Araújo (PE) no Ministério das Cidades, prefeituras do PSDB são as que mais têm recebido recursos da pasta por meio de convênios para obras. Até o fim deste ano, a previsão é que prefeitos do partido terão assinado parcerias com o ministério que passarão de R$ 158 milhões. A cifra supera a fatia destinada ao PMDB, partido do presidente Michel Temer e que governa o maior número de prefeituras no país, segundo estimativa de repasses de recursos.

A condição privilegiada do PSDB no acesso a recursos federais é uma das razões pelas quais alguns integrantes do partido defendem prolongar ao máximo a permanência da sigla no governo Temer. O tema esteve no centro dos debates internos no auge do impasse tucano sobre ficar na base aliada ou abandonar os ministérios.

O assunto é tratado com naturalidade entre tucanos. Em uma das reuniões da direção do PSDB de São Paulo, o deputado estadual Barros Munhoz citou os repasses como argumento para a manutenção do partido como aliado do governo.

— É no mínimo inoportuna essa decisão de deixar o governo. Nós precisamos desse suporte do governo federal que ficamos 12 anos sem ter. Nossos prefeitos, há tempo, não recebiam tantos recursos — disse Munhoz.

Representante da ala favorável ao desembarque do partido na administração federal, o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, rebateu:

— Me deixa preocupado apoiar um governo para tentar salvar recursos.

Convênios são um instrumento usado pelo governo federal para repassar recursos a estados e municípios. Esse dinheiro é aplicado na execução de obras como pavimentação, drenagem e a construção de praças e quadras poliesportivas. Os convênios atendem majoritariamente a cidades pequenas e são resultado de emendas parlamentares.

 

CONVÊNIOS SOMARÃO R$ 1,2 BI

Em função da crise fiscal e da falta de recursos, a assinatura de convênios com municípios tem demorado a ocorrer. Levantamento feito pelo GLOBO no Portal da Transparência revelou que, até a semana passada, somente R$ 57 milhões em convênios haviam sido formalizados. O ministério promete que o valor chegará a R$ 1,2 bilhão até dezembro. Serão mais de 1.300 convênios.

Dos repasses firmados até o momento, prefeituras do PSDB abocanharam a maior parcela — R$ 11,3 milhões. Na sequência, aparecem os municípios administrados por prefeitos do PSB, com R$ 8,4 milhões; do PDT, com R$ 7,6 milhões; e do PMDB, com R$ 4,4 milhões.

No fim do ano, o PSDB continuará liderando o ranking de partidos que mais recebem verba do ministério, com a previsão de obter R$ 158 milhões em convênios. Em seguida, o PMDB deverá alcançar R$ 137 milhões, e o PT, R$ 98 milhões.

O secretário-executivo do Ministério das Cidades, Marco Aurélio de Queiroz Campos, nega favorecimento ao PSDB na assinatura de convênios. Queiroz admite, no entanto, que o fato de a pasta ser comandada pelo partido pode estimular tucanos a direcionar emendas para o órgão.

— Não é o Ministério das Cidades que escolhe os convênios a serem assinados. São os partidos e parlamentares que escolhem o Ministério das Cidades para suas emendas. Não tenha dúvida de que parlamentares podem preferir direcionar (emendas) a ministérios representados por seu partido — argumenta Campos.

A distribuição dos recursos do ministério não reflete o quadro partidário municipal. O PMDB é o campeão em prefeituras, com 1.028. O PSDB aparece em segundo lugar, com 793, seguido pelo PSD, que tem 539 prefeitos. O PT, que no ano passado sofreu o maior revés nas urnas de sua história, é apenas a 10ª força política no cenário municipal.

O direcionamento de recursos para suas bases é uma praxe dos partidos quando assumem espaços na administração pública, embora contrarie preceitos republicanos, segundo cientistas políticos consultados. Em tese, recursos públicos não deveriam ser distribuídos conforme a filiação partidária de prefeitos e governadores.

— Quando você tem um partido do governo comandando um ministério, a tendência é que os recursos passem a ser mais direcionados para o que estiver ligado a essas siglas — explica o cientista político e professor da FGV Marco Antônio Teixeira.

 

O MESMO CASO NO PT

Nas gestões dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, prefeituras do PT tiveram tratamento privilegiado na liberação de verbas. Esses convênios são usados muitas vezes para fortalecer eleitoralmente os partidos.

— O prefeito de uma cidade pequena é o maior cabo eleitoral, tanto para deputado quanto para governador. Uma obra que a gente imagina pequena tem uma dimensão muito grande para aquele lugar. Seja uma barragem no interior ou a construção de uma ponte. Além de cabos eleitorais preciosos, são pessoas que têm votos em convenções de partidos que definem candidatos — observa Teixeira.