O globo, n.30723 , 18/09/2017. PAÍS, p.5

APÓS ACUSAR LULA NA LAVA-JATO, PALOCCI PODE SER EXPULSO DO PT

SÉRGIO ROXO

THIAGO HERDY

18/09/2017

 

 

‘Rompeu completamente seu vínculo com o partido’, diz Gleisi

Depois de acusar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de receber propina de empreiteiras, o ex-ministro Antonio Palocci pode ser expulso do PT. A Comissão de Ética do diretório municipal do partido em Ribeirão Preto (SP) abre hoje processo para retirar o ex-ministro dos seus quadros.

Até agora, o ex-deputado André Vargas (PR) e o ex-senador Delcídio Amaral (MS) foram afastados pela legenda em função de denúncias. Delcídio foi suspenso do PT, mas pediu para sair antes da conclusão do processo. Sob ameaça, Vargas também pediu desligamento. Em outros partidos investigados na Lava-Jato, como PMDB, PP e PSDB, não há registro de afastamento definitivo em função de investigações.

— Palocci rompeu completamente seu vínculo com o partido ao mentir para comprometer Lula na tentativa de livrar-se da prisão e salvar seu patrimônio. Acho difícil sua permanência, mas a decisão deverá sair desse processo iniciado em Ribeirão — disse ontem a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

 

IMPACTO SOBRE IMAGEM DE LULA

A decisão de abrir o processo contra Palocci foi tomada, segundo o presidente do PT de Ribeirão Preto, Fernando Tremura, por orientação do diretório estadual, presidido por Luiz Marinho, um dos principais aliados de Lula. Palocci terá prazo para apresentar defesa.

— Vamos abordar as declarações dele no depoimento — disse Tremura.

Segundo os advogados do ex-ministro, a possível saída não é uma preocupação, hoje, para o cliente. Como não ocupa cargo público, o processo deve ser conduzido pelo diretório da cidade onde é filiado e não pelo nacional. O comando se reúne nesta semana em São Paulo. Ainda assim, o tema poderá entrar na pauta.

Apesar de o discurso oficial desqualificar as acusações de Palocci, dirigentes petistas reconhecem, reservadamente, que as palavras do ex-ministro provocarão um forte abalado na imagem de Lula e podem significar a pá de cal em sua candidatura à Presidência em 2018. Em depoimento no último dia 6, Palocci imputou crimes ao ex-presidente ao dizer que Lula selou um “pacto de sangue” com os dirigentes da Odebrecht.

Os impactos das declarações e as consequências de um eventual acordo de colaboração com o Ministério Público Federal são reconhecidos pelos petistas, inclusive por integrantes da corrente do ex-presidente, a Construindo um Novo Brasil (CNB). Caso a candidatura de Lula se inviabilize, petistas admitem que as chances eleitorais da sigla são remotas.

Com a imagem abalada pelas denúncias e pela sentença do juiz Sergio Moro, Lula não serviria nem com um grande cabo eleitoral, função que ele próprio vinha cogitando caso fosse tirado da eleição por uma condenação em segunda instância no processo sobre o tríplex do Guarujá.

Na avaliação de petistas, mesmo que as acusações de Palocci não tenham desdobramentos jurídicos, o impacto político é inevitável diante da proximidade do ex-ministro com Lula.

— A situação do Lula é difícil. No campo jurídico, ele até consegue se defender porque o Palocci não apresentou provas. Mas, no político, é complicado. Quem ataca é uma pessoa que estava junto com ele há muito tempo — reconhece um petista.