Título: Itamaraty repatria família da Síria
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 15/02/2012, Mundo, p. 17

Governo pagou passagens para pai e filhos e retirou cidadãos de cidade bombardeada

Três brasileiros — pai e dois filhos adolescentes — deixaram a Síria e foram repatriados anteontem por intermédio do Itamaraty, após a intensificação da violência no país. O Ministério das Relações Exteriores arcou com os custos das passagens. Em entrevista ao Correio, o embaixador brasileiro em Damasco, Edgar Casciano, explicou que outros dois jovens de nacionalidade brasileira foram retirados de Homs e estão em uma área "mais segura", após o pedido de ajuda feito pela família, cujos pais são sírios. Uma terceira família, de mãe e filhos brasileiros, também foi deslocada de Homs. A cidade, centro dos protestos contra o regime do presidente Bashar Al-Assad, sofre bombardeios diários, e ativistas têm denunciado uma situação humanitária caótica. Falta água, comida e medicamentos, e a comunicação é precária. Segundo o Itamaraty, cerca de 3 mil brasileiros com dupla cidadania vivem na Síria, uma parte deles em Homs.

O governo sírio rejeitou as acusações da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas de que estaria cometendo crimes contra a humanidade. O regime alegou que o organismo mundial tem ignorado as violações que Damasco atribui a grupos terroristas com apoio estrangeiro. Na segunda-feira, a alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, em sessão da Assembleia Geral, argumentou que a falta de ação do organismo "encorajou" o governo da Síria a reprimir de forma esmagadora os civis.

Na ocasião, a embaixadora do Brasil nas Nações Unidas, Maria Luiza Ribeiro Viotti, reiterou que a solução para o conflito requer um processo conduzido pelos próprios sírios. Mas enfatizou que o "governo brasileiro está profundamente preocupado com a rápida deterioração da situação na Síria". Ela destacou o caso de Homs. "Episódios recentes em Homs e em outras cidades são particularmente perturbadores", afirmou. Na semana passada, o chanceler Antonio Patriota já havia demonstrado preocupação com a crise na Síria e com os brasileiros no país.

Segundo o embaixador Casciano, os adolescentes brasileiros, de 12 e 13 anos, que estavam em um local de conflito, no bairro de Inshaat, em Homs, "já se encontram em área mais segura, para a qual foram levados com o apoio da embaixada e do cônsul-honorário em Homs". "Estamos aguardando a decisão dos pais dos menores, que possuem apenas a cidadania síria, mas residiram no Brasil, quanto à vinda a Damasco, como era a intenção inicial, e o eventual embarque para o Brasil", afirmou ao Correio. A situação deles havia sido mencionada pelo chanceler na semana passada, que explicou que o pedido de ajuda partiu da própria família, com quem a embaixada tem contatos diários.

Retorno Após também pedir intermediação do governo brasileiro para deixar a Síria, outra família — pai e dois filhos, de 10 e 12 anos — foi repatriada na segunda-feira. Há ainda uma terceira família: mãe e duas crianças de 2 e 4 anos, todas brasileiras, solicitaram o apoio da embaixada para se deslocarem para uma área de menor risco, também em Homs. Segundo Casciano, isso também já foi feito. Os três, como explicou o embaixador, não pretendem deixar a Síria. Em todos os casos, a identidade das pessoas não foi revelada pelo Itamaraty, como é de praxe. Desde o início dos protestos, em março de 2011, a Embaixada do Brasil em Damasco mantém contato permanente com a comunidade brasileira.

Enquanto alguns brasileiros tentam deixar a Síria, com medo da violência dos conflitos, há outros que não pensam em sair e afirmam não crer que Al-Assad tenha cometido "grandes maldades" contra o povo. É o caso de uma brasileira entrevistada pelo Correio, que prefere não se identificar. A mulher, moradora da cidade mediterrânea de Tartus e vivendo desde 1996 na Síria, explicou não ter muito contato com outros brasileiros. Ela relatou não ter queixas, "apesar das grandes maldades já constatadas por aqui, alegando serem feitas pelo pobre do presidente". "Nunca houve problemas como atualmente. Tínhamos paz e sossego", lamentou. "Sinto um grande amor e consideração do povo daqui ao presidente Bashar."

Rei pede coesão no Barein As forças antimotins do Bahrein dispersaram violentamente manifestantes que celebravam ontem o aniversário do início dos protestos contra o regime, cuja repressão afundou o pequeno reino do Golfo em um atoleiro político. Em um discurso no qual não se referiu ao aniversário do levante, o rei Hamad Ben Isa Al-Khalifa convocou a "coesão" entre as comunidades xiita e sunita — hoje, mais do que nunca, divididas. A polícia, mobilizada nas principais artérias, interveio para dispersar centenas de manifestantes que tentaram se aproximar da Praça da Pérola, símbolo da contestação em Manama. Segundo testemunhas, vários manifestantes foram presos, entre os quais mulheres que tentaram se aproximar da praça, totalmente cercada por tanques.