Moro torna Bendine réu por crimes de corrupção e lavagem

André Guilherme Vieira

25/08/2017

 

 

Ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, Aldemir Bendine tornou-se réu, ontem, por decisão do juiz Sergio Moro, pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução à Justiça - atribuídos ao executivo pelo Ministério Público Federal (MPF) e relacionados ao suposto recebimento de R$ 3 milhões em propina da Odebrecht. A defesa do executivo afirma que ele é inocente e que não há prova de que tenha recebido propina.

Segundo a acusação, o Grupo Odebrecht, por meio do Setor de Operações Estruturadas (a divisão de propinas da empresa), pagou propina a Bendine entre 17 de junho e 1º de julho de 2015. A vantagem indevida teria sido solicitada por Bendine enquanto ele ocupava o cargo de presidente do Banco do Brasil, e em decorrência de uma operação de crédito que favoreceu a Odebrecht Ambiental. Os dirigentes da empresa somente concordaram com o pagamento depois que Bendine assumiu a presidência da Petrobras.

"Marcelo Bahia Odebrecht, presidente do Grupo Odebrecht, e Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos, presidente da Odebrecht Ambiental, foram os destinatários da solicitação de propina e concordaram em efetuar o pagamento", aponta a decisão de Sergio Moro.

Segundo o MPF, o empresário André Gustavo Vieira da Silva teria participado da negociação da propina, em nome de Bendine, e de sua intermediação. Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior também teria participado do recebimento do dinheiro. Os dois também são réus.

A acusação diz que Bendine, motivado por propina, "deu início a movimentações internas na Petrobras, com o intuito de favorecer o grupo empresarial Odebrecht", e aponta mensagens eletrônicas como provas de corrupção.

A denúncia narra ainda que os repasses feitos pelo setor de propinas da Odebrecht também caracterizam lavagem de dinheiro, tendo por antecedentes os crimes de cartel, ajuste fraudulento de licitações e corrupção.

O MPF afirma que o dinheiro que teria sido pago a Bendine foi disponibilizado pelo doleiro Álvaro Galliez Novis, que prestava serviços para o departamento de propinas da Odebrecht, recebendo dinheiro no exterior e o tornando disponível em espécie no Brasil - essa transação é conhecida como 'dólar-cabo'.

Sergio Moro requereu a cópia da delação de Álvaro Novis ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). O doleiro entregou à corte planilha com R$ 260 milhões em propina pagos a políticos e a empresários.

A denúncia descreve ainda que André Vieira da Silva e Antônio Silva Júnior pagaram US$ 9,8 mil em despesas de Bendine em Nova York. Os valores representariam parcela da propina paga pela Odebrecht. Bendine manteria parte dos valores com os irmãos André e Antônio, que pagavem despesas do executivo, caracterizando uma espécie de conta-corrente informal de propina, segundo a Lava-Jato.

André Silva também teria tentado dar aparência legal aos R$ 3 milhões por ele intermediados, depois que as delações da Odebrecht foram divulgadas, diz o MPF.

Como André Silva também é suspeito de operar propina a políticos para a J&F, Moro pediu cópia da delação premiada do ex-diretor da empresa, Ricardo Saud, ao ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal. Bendine está preso preventivamente em Curitiba e foi detido em 27 de julho.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4327, 25/08/2017. Política, p. A9.