Consumo reagiu e fez PIB fechar estável no 2º tri, dizem analistas

Estevão Taiar, Ana Conceição e Arícia Martins

28/08/2017

 

 

O Produto Interno Bruto (PIB) deve ter desacelerado no segundo trimestre, na série com ajuste sazonal, mas a abertura dos dados tende a ser mais animadora que a do primeiro, quando o crescimento de 1% foi puxado quase que exclusivamente pela agropecuária. Depois de cair por nove períodos consecutivos, o consumo das famílias liderou o avanço da atividade, segundo economistas. Do lado da oferta, os serviços, puxados por comércio e transporte, devem finalmente subir, após oito trimestres de queda seguidos por estabilidade no período de janeiro a março deste ano.

A média de 18 analistas consultados pelo Valor Data prevê um PIB estável no segundo trimestre, ante o primeiro. O intervalo das estimativas vai de queda de 0,3% a alta de igual intensidade. Na comparação com o segundo trimestre do ano passado, a previsão é de avanço de 0,1%. As Contas Nacionais Trimestrais serão divulgadas na próxima sexta-feira, dia 1º de setembro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Passados os dias de tensão com as delações da JBS que ameaçaram o presidente Michel Temer, os dados relativos à atividade econômica do segundo trimestre e de 2017 devem mostrar bom desempenho, afirma Sergio Vale, sócio da MB Associados.

Ele prevê alta de 0,1% no período. "Parece que caminhamos para uma recuperação mais relevante do que no primeiro trimestre, que foi muito baseada no setor agropecuário", diz. O desempenho agro ainda deve contribuir para o PIB, caindo menos que o esperado por causa da segunda safra de milho, que superou as expectativas, segundo alguns analistas. Beneficiado pela leve melhora do mercado de trabalho e também pela queda da inflação e parte do dinheiro liberado das contas inativas do FGTS, o consumo das famílias aumentou 0,4%, prevê Mauricio Nakahodo, economista do Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG) no Brasil.

"O recuo da inflação em especial abriu espaço na renda para a expansão do consumo", diz, acrescentando que a demanda pode ter tido alguma contribuição da queda dos juros. Esse fator, contudo, deve ajudar a economia de forma mais pronunciada neste segundo semestre. Luis Afonso Lima, economista-chefe da Mapfre Investimentos, estima alta maior, de 1,1% no consumo, mas vê essa expansão como pontual.

A desaceleração da inflação contribuiu para elevar os salários reais, disse, mas o impacto da liberação do saldo inativo do FGTS não deve ser observado nos próximos trimestres. Os gastos do governo também devem ter crescido de abril a junho nos cálculos da Mapfre, com expansão de 0,7% sobre os três meses anteriores. "As despesas do governo em relação ao PIB seguem em alta, assim como o déficit orçamentário. O governo ainda está tendo papel expansionista na economia", avalia. A Mapfre prevê queda de 0,1% no PIB do segundo trimestre.

Ainda pela ótica da demanda, não será desta vez que os investimentos ajudarão o PIB na previsão do MUFG. A construção civil continua em retração forte e o segmento de máquinas e equipamentos também pode vir negativo. O banco estima queda de 0,5% na formação bruta de capital fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas, construção civil e pesquisa) de abril a junho.

Se realizada, será a quarta retração consecutiva. A FBCF caiu em 12 dos 13 trimestres desde o período entre outubro e dezembro de 2013. A exceção foi uma alta marginal de 0,1% no segundo trimestre de 2016. "Há muita ociosidade na indústria. Não há incentivo à vista para os investimentos", diz Nakahodo. Lima, da Mapfre, ressalta que a produção industrial está caindo menos, mas os estoques continuam aumentando. "Isso está puxando o investimento para baixo", diz ele, que espera redução de 0,2% nessa linha do PIB.

O Credit Suisse reviu sua previsão de queda do produto no segundo trimestre deste ano, de -0,5% para -0,1%, por causa da dinâmica mais favorável da produção na agropecuária e dos serviços. A projeção da safra, em particular a produção de grãos e de cana-de-açúcar, tem sido elevada sucessivamente pelo IBGE e por isso o banco prevê queda de 3,5% no PIB agropecuário ante o primeiro trimestre, mas um aumento de 12% ante o segundo trimestre do ano passado.

Já os serviços devem crescer 0,2%, com destaque para comércio e transportes, este último um segmento impulsionado pela maior expansão da agricultura e da indústria manufatureira. O Credit estima que o consumo das famílias cresceu 0,8% no período de abril a junho. Na média, os economistas consultados pelo Valor Data estimam alta de 0,9%. O Votorantim é uma das instituições que preveem alta no PIB da agropecuária no segundo trimestre, de 1%, ante o primeiro, ainda que num nível bem menor que os 13,4% vistos de janeiro a março. O banco estima crescimento de 0,3% na indústria e de 0,2% nos serviços, na mesma base de comparação.

"Se confirmado esse resultado, será o segundo trimestre consecutivo de crescimento da indústria e dos serviços, o que não ocorria desde 2013 e 2014, respectivamente", anota. A instituição pondera que apesar dessas expectativas positivas, a abertura dos setores deve mostrar que o crescimento ainda não está difundido. Na indústria, pouco mais da metade dos segmentos deve ter crescido no trimestre.

Nos serviços, menos da metade. A exceção é o comércio varejista, que mostrará alta em 70% dos segmentos, segundo a previsão do banco. Mas a tendência tem sido positiva, diz o Votorantim em relatório, com cada vez mais setores se expandindo. A MCM, que revisou a estimativa do PIB do segundo trimestre de queda de 0,4% para recuo de 0,2% ante o primeiro, diz que os serviços de utilidade pública e a construção civil puxaram a atividade do setor industrial para baixo.

A previsão da consultoria é de queda de 0,5% na indústria geral ante o primeiro trimestre. Mas há quem estime alta para esse componente do PIB, como o Haitong (0,6%). Para o setor extrativo mineral, a projeção da MCM é de alta de 0,4% por causa da surpresa positiva com a produção de petróleo e da extração de minério de ferro. A estimativa para o PIB agro foi revisada de queda de 3,5% para recuo de 2,6%. No setor externo, as exportações devem continuar a crescer ainda na esteira das commodities agrícolas, diz Nakahodo, do MUFG.

Ele estima alta de 2% nas vendas externas de bens e serviços e de 1,5% nas compras. Ainda que oscilem entre pequena queda e ligeira alta, as previsões para o desempenho da atividade econômica brasileira no segundo trimestre indicam uma expectativa melhor do que aquela pós-delação da JBS, em meados de maio. Vários analistas esperam a confirmação de suas projeções para revisar o PIB de 2017 para cima.

A crise que envolveu Temer há três meses fez a MB, na ocasião, revisar para baixo sua projeção para o PIB deste ano, de alta de 1% para 0,3%. Agora, "mesmo que o segundo trimestre venha um pouco negativo", as projeções para 2017 e 2018 devem ser revistas novamente - mas desta vez para cima, afirma Sergio Vale, que se coloca entre os economistas mais otimistas em relação ao desempenho da atividade neste e nos próximos anos. Ele calcula que a atividade deve crescer entre 0,5% e 1% em 2017 e de aproximadamente 3% em 2018. "Reverter 4,5 pontos percentuais sem política fiscal e tendo que usar a política monetária lá atrás para combater uma inflação de dois dígitos não é pouca coisa", disse.

O Votorantim, que espera crescimento de 0,5% para 2017, diz que se confirmada a expectativa para o segundo trimestre, esse percentual deve subir, ainda que o nível de produção permaneça muito baixo. "A leitura mais importante é que o aumento das incertezas políticas não parece ter comprometido a retomada nem afetado significativamente seu ritmo. Os próximos trimestres devem continuar mostrando expansão gradual da atividade econômica", observa o banco.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4328, 28/08/2017. Brasil, p. A4.