O globo, n.30721 , 16/09/2017. PAÍS, p.4

Palocci diz que entregou pacotes de dinheiro diretamente a Lula

GUSTAVO SCHMITT

16/09/2017

 

 

Ao MPF, ex-ministro petista afirma que repasses eram de até R$ 50 mil

Em proposta de delação premiada ao Ministério Público Federal (MPF), o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci afirmou ter entregue pessoalmente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em pelo menos cinco ocasiões, pacotes de R$ 30 mil, R$ 40 mil e R$ 50 mil. O dinheiro seria proveniente de propina e teria sido usado para despesas pessoais do petista, segundo o ex-ministro, que está preso desde setembro do ano passado. A informação foi publicada pela revista “Veja” e confirmada pelo GLOBO. O expresidente nega as acusações.
As afirmações foram feitas pelo ex-ministro num dos anexos da negociação de sua colaboração. Segundo a “Veja”, Palocci conta que se encontrou várias vezes com Lula em 2010 para entregar “pequenas quantias” pedidas pelo então presidente. A revista diz que os repasses operados por Palocci também foram pagos por meio do sociólogo Branislav Kontic, o Brani, ex-assessor do ministro, sobretudo quando eram quantias mais elevadas.

Na proposta de delação de Palocci, consta, de acordo com a revista, que até recursos do Instituto Lula eram usados para pagar despesas pessoais do ex-presidente, numa contabilidade paralela que seria organizada por Paulo Okamotto, presidente do instituto. Essas operações de caixa 2 estariam documentadas num HD de Clara Ant, ex-diretora do instituto.

Em depoimento ao juiz Sergio Moro no último dia 6, o exministro disse que Lula firmou um “pacto de sangue" com a Odebrecht que envolvia R$ 300 milhões em propina. Segundo ele, em troca de benefícios, a empresa teria dado ao ex-presidente o sítio de Atibaia, um terreno para o Instituto Lula e a contratação de várias palestras por R$ 200 mil.

A Moro, Palocci disse ainda que recebeu pedidos de repasses em espécie de Okamotto, além de ter repassado R$ 4 milhões da Odebrecht para cobrir um rombo nas contas do instituto em 2014.

O empresário Marcelo Odebrecht afirmou que os pagamentos em espécie feitos a Lula saíam da conta de propina “Amigo”, criada pela Odebrecht para custear as despesas pessoais do ex-presidente. Marcelo Odebrecht relatou pagamentos que somavam R$ 9 milhões e teriam sido entregues por Branislav a Lula.

Na negociação com os procuradores, afirma a “Veja”, Palocci promete revelar alguns dos principais clientes de sua empresa de consultoria, que ele abriu após deixar o Ministério da Fazenda, em 2006, alvo do escândalo da quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa. Nos anos seguintes, Palocci multiplicou seu patrimônio com a consultoria. Quando a ascensão financeira pessoal foi revelada, em 2011, ele se demitiu do cargo de chefe da Casa Civil do governo Dilma Rousseff. Palocci confessa que recebeu pagamentos em troca de abrir portas e usar influência no governo em favor dos clientes.

Em nota, advogado Cristiano Zanin, que defende Lula, diz que Palocci acusa Lula na tentativa de se livrar da cadeia.

“PALOCCI MENTE”

“O ex-presidente Lula já declarou em depoimento que Palocci mente para obter benefícios judiciais, que envolvem não só a sua liberdade como também o desbloqueio de seu patrimônio. Lula já teve suas contas e de parentes devassadas e jamais foram encontrados quaisquer valores ilícitos”, diz a nota da defesa de Lula.

O advogado Fernando Fernandes, que defende Okamotto, diz que Palocci busca benefícios da delação e nega irregularidades no instituto.