Brasil busca apoio de Pequim para retomar obra de Angra 3

Assis Moreira e Rodrigo Polito

29/08/2017

 

 

Bruno Barretto, da Eletronuclear, participará de assinatura de acordo na China A Eletrobras, sua subsidiária Eletronuclear e a China National Nuclear Corporation (CNNC) assinarão na sexta-feira, em Pequim, um memorando de entendimentos de cooperação do setor nuclear envolvendo Brasil e China, durante visita do presidente Michel Temer. O documento, o terceiro do tipo a ser firmado pelas empresas, prevê a criação de oportunidades de aprofundamento da cooperação bilateral para uso da energia nuclear para fins pacíficos, com destaque para interesses comuns em estabelecer parceria para conclusão da usina nuclear de Angra 3. A assinatura do memorando foi antecipada na manhã de ontem pelo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, e confirmada no fim do dia pela Eletrobras. Pelo lado brasileiro participarão da cerimônia de assinatura o presidente Temer, o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, o presidente da Eletronuclear, Bruno Barretto, e o chefe da superintendência internacional da Eletrobras, Pedro Luiz Jatobá. Enquanto negocia com os chineses a conclusão das obras de Angra 3 e a expansão da energia nuclear no Brasil, a Eletronuclear tem discussões semelhantes com a gigante russa Rosatom e a francesa EDF, com o mesmo propósito. Segundo um negociador envolvido no assunto, está em discussão a possibilidade de a China colocar recursos financeiros na conclusão de Angra 3. A Eletrobras não mencionou esse ponto na nota enviada ao Valor, porém a própria estatal, a Eletronuclear e o governo brasileiro já admitiram que a retomada da terceira usina nuclear do país só virá com dinheiro de um sócio. A conclusão do lado brasileiro é que não há mais recursos para colocar no empreendimento. Estima-se que são necessários mais de R$ 16 bilhões para concluir o projeto. Com o novo memorando, a expectativa no mercado é que os chineses estão um passo à frente na disputa pela conclusão de Angra 3. Temer esteve em junho na Rússia e, apesar de ter discutido o assunto com o governo local, voltou ao Brasil sem um acordo. O principal modelo em estudo pelo governo brasileiro e pela Eletronuclear é criar uma joint-venture, ou uma sociedade de propósito específico, com o novo sócio para concluir as obras de Angra 3. A participação de cada um no projeto será na proporção dos recursos aportados na construção da usina. O modelo se assemelha ao previsto em memorando assinado pela Petrobras e a China National Petroleum Corporation (CNPC), em julho. Um dos pontos em aberto no documento, no qual ambas as partes se comprometem a avaliar oportunidades em áreas de interesse mútuo, é uma parceria para concluir a construção da refinaria do Comperj. No caso de Angra 3, a parceria, porém, seria apenas na construção. A operação da usina continuaria apenas nas mãos da Eletronuclear, para não ferir a Constituição. Pelo lado dos sócios, franceses, russos e chineses olham para além de Angra 3. No entendimento das empresas desses países, o Brasil necessitará de novas usinas nucleares no longo prazo. Também durante a visita de Temer, o Ministério do Planejamento e o Ministério de Comércio chinês vão assinar um memorando de entendimento para promover investimentos recíprocos. O mecanismo não prevê recursos ou obrigações, mas a expectativa é que estruture o diálogo e facilite a aproximação dos setores privados dos dois países, focando em parte, mas não exclusivamente, na agenda que o Brasil tem apresentado na área de infraestrutura. Na explicação de um importante negociador, é um guarda-chuva para organizar agendas objetivas, remover barreiras e avançar em projetos específicos. O mecanismo se somará ao Fundo Brasil-China de US$ 20 bilhões (US$ 15 bilhões da China e US$ 5 bilhões do Brasil). Dois projetos brasileiros já apresentaram carta-consulta às autoridades em Brasília, para se beneficiarem de recursos do fundo. Outros 19 projetos, incluindo chineses, estão em preparação. 

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4329, 29/08/2017. Brasil, p. A4.