Título: Aposta em Selic de 10%
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 28/02/2012, Economia, p. 10

O mercado financeiro está convencido de que na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 6 e 7 de março, a taxa básica de juros (Selic) cairá mais 0,5 ponto percentual, para 10% ao ano. A expectativa é de que a ata do encontro, divulgada uma semana após a reunião, traga ainda pistas sobre o fim deste ciclo de afrouxamento monetário — as apostas se dividem entre abril e maio, quando a Selic deve estar efetivamente em um dígito, como deseja o Banco Central e a presidente Dilma Rousseff.

Para especialistas, o quadro econômico doméstico e internacional não se alterou desde o último encontro do colegiado, em 17 e 18 de janeiro, situação que deve garantir uma decisão rápida e uma ata muito semelhante à anterior. Porém, a expectativa é tradicionalmente grande em torno dos comunicados e documentos da autoridade monetária, sobretudo depois do surpreendente recado de janeiro, que deixou clara a estratégia da instituição de levar a taxa básica para um dígito em 2012. Agora, o mercado espera mais transparência ainda.

Na visão dos economistas, o cenário de inflação está favorável devido às condições internacionais, que têm derrubado o consumo e o preço das commodities (produtos básicos com cotação internacional), o que facilita a missão do BC de controlar a carestia neste início de ano. “Em função de um cenário internacional complicado, existe uma acomodação maior da inflação dentro da banda. É isso que vem permitindo o BC adotar tal estratégia de cortes nos juros sem correr grandes riscos”, observou Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra.

Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, acredita que não serão feitas mudanças bruscas na ata da próxima reunião do Copom. “O BC manterá a visão de que a taxa migrará para um dígito, como o próprio Alexandre Tombini (presidente do BC) reiterou no México. Fica a dúvida de até onde ele vai cortar”, ponderou.

Motivos não faltam ao BC para justificar sua estratégia. O índice que reajusta os contratos de aluguel, por exemplo, fechou em queda de 0,06% em fevereiro e vai beneficiar os inquilinos que têm de renovar contratos em março. O recuo foi puxado pela retração nos alimentos. Dos 22 grupos analisados, 17 tiveram recuos nas taxas. O, destaque foi a carne bovina, cujo preço médio passou de uma alta de 0,69% em janeiro para -3,13% em fevereiro.

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