O Estado de São Paulo, n. 45231, 19/07/2017. Política, p.A6

 

 

 

Ex-governadores são indiciados por corrupção no Mané Garrincha

José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz estão entre os 21 suspeitos de superfaturar obra de estádio de Brasília

Por: Fabio Serapião Fábio Fabrini

 

Fabio Serapião

Fábio Fabrini / BRASÍLIA

A Polícia Federal indiciou 21 pessoas pelo superfaturamento de R$ 559 milhões e corrupção nas obras do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Entre os indiciados por peculato, corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa estão os ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), e o ex-vice-governador Tadeu Filipelli (PMDB), que foi assessor do presidente Michel Temer.

Segundo a PF, a construção do estádio da Copa do Mundo de 2014, orçada em cerca de R$ 600 milhões, foi entregue ao preço de R$ 1,575 bilhão.

Assinado pela delegada federal Fernanda Costa de Oliveira, o relatório encerra a investigação que tem origem nos acordos de leniência e delação da Andrade Gutierrez e de seus executivos e que resultou na Operação Panatenaico, deflagrada pela PF em 27 de maio deste ano.

Filipelli, Agnelo e Arruda chegaram a ser presos na operação por ordem do juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, mas foram soltos após recorrerem ao Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1).

Diferentemente dos demais estádios da Copa que foram financiados com dinheiro público, o Mané Garrincha não recebeu empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A obra foi financiada com recursos da Terracap, estatal do DF com 49% de participação da União, que, segundo a PF, não atua nesse tipo de operação e hoje se encontra em dificuldades financeiras.

Propina. “Foi narrada a entrega de propina aos ex-governadores do Distrito Federal José Roberto Arruda e Agnelo Queiroz e ao ex-vice-governador Tadeu Filippelli”, diz o relatório. O delator Clóvis Renato Peixoto Primo, em depoimento usado no inquérito, declarou que Filippelli “também solicitou pagamento de propina à Andrade”.

A PF também sugere que seja analisada a possibilidade de rever o acordo de leniência firmado com a Andrade Gutierrez por causa de superfaturamento “averiguado unilateralmente por meio dos laudos periciais” produzidos na investigação.

O advogado de Arruda, Paulo Catta Preta, disse que não concorda com a interpretação da PF, pois a licitação “somente ocorreu cinco meses” após sua saída do governo. Daniel Gerber, que representa Queiroz, disse que ele “se declara inocente das acusações”. Em nota, a Andrade Gutierrez informou que continua “colaborando com as investigações”. O Estado procurou a defesa de Filipelli, mas não obteve resposta.