O Estado de São Paulo, n. 45231, 19/08/2017. Política, p.A7

 

 

Gilmar manda soltar de novo empresários no RJ

Ministro do Supremo reverte decisão do juiz Marcelo Bretas e concede novo habeas corpus aos investigados Jacob Barata Filho e Lélis Teixeira

Por: FAUSTO MACEDO, LUIZ VASSALLO, RAFAEL MORAES MOURA, BRENO PIRES, BEATRIZ BULLA, ROBERTA PENNAFORT e CONSTANÇA RESENDE

 

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu ontem um novo habeas corpus para soltar o empresário Jacob Barata Filho e o ex-presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio (Fetranspor) Lélis Teixeira. Anteontem, Gilmar já havia determinado a soltura dos dois, mas, pouco depois, o juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal, expediu novos mandados de prisão contra os investigados.

Barata Filho e Teixeira foram presos no início de julho, alvos da Operação Ponto Final, um desdobramento da Lava Jato no Rio que apura pagamento de propina a autoridades do Estado em troca de benefícios no sistema de transporte público.

No novo habeas corpus, o ministro do STF disse que “é certo que houve um atrapalho na documentação da segunda prisão”. Gilmar determinou a substituição da prisão preventiva por outras medidas cautelares.

Antes de decidir soltar novamente os investigados, o ministro do Supremo havia dito que a decisão do juiz federal foi “atípica”. “Isso é atípico, né? Em geral, o rabo não abana o cachorro, é o cachorro que abana o rabo”, afirmou Gilmar ontem, após participar de aula magna sobre direito eleitoral no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O Estado apurou que Bretas não vai determinar nova prisão de Barata e de Teixeira. A 7.ª Vara Federal Criminal não tem, no momento, instrumentos legais para expedir novos mandados de prisão contra os dois empresários na Operação Ponto Final. Os investigados seriam libertados assim que a ordem judicial chegasse à cadeia onde estão presos, em Benfica, zona norte da capital fluminense.

Jacob Barata Filho, conhecido como “rei do ônibus”, é dono de um conglomerado de empresas no Rio e em outros Estados com mais de 4 mil veículos. Herdou o negócio do pai, que atuava no ramo desde os anos 1960. Os negócios da família incluem ainda operadores de turismo, entre outras empresas, e se estendem por Portugal.

Suspeição. Antes da decisão de Gilmar de ontem, a força-tarefa da Lava Jato no Rio havia enviado à Procuradoria-Geral da República um pedido de suspeição do ministro do Supremo para julgar casos relacionados às investigações da Operação Ponto Final, que se debruça sobre atos de corrupção do ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB) em conluio com empresas de ônibus.

O mesmo pedido já havia sido feito no fim de julho pela Procuradoria da República no Rio.

Procuradores afirmam que Gilmar e mulher dele, Guiomar Feitosa Mendes, foram padrinhos do casamento de Beatriz Barata, filha do “rei do ônibus”, e Francisco Feitosa Filho. O noivo é sobrinho de Guiomar.

‘Apreensão’. A ProcuradoriaGeral da República analisa a possibilidade de pedir a suspeição ou o impedimento do ministro do Supremo no caso. Na manifestação de ontem, os procuradores da República disseram-se apreensivos com a decisão de Gilmar de conceder “liberdade precoce” aos empresários Jacob Barata e Lélis Teixeira.

“Os membros da força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro vêm a público manifestar a sua apreensão diante da possível liberdade precoce de empresários com atuação marcante no núcleo econômico de organização criminosa que atuou por quase dez anos no Estado”, afirma a nota.

Segundo os procuradores, o ministro Gilmar Mendes deveria ter se “autoafastado”. / FAUSTO MACEDO, LUIZ VASSALLO, RAFAEL MORAES MOURA, BRENO PIRES, BEATRIZ BULLA, ROBERTA PENNAFORT e CONSTANÇA RESENDE

 

- 'Atípico'

“Isso é atípico (decisão do juiz Marcelo Bretas), né? Em geral o rabo não abana o cachorro, é o cachorro que abana o rabo.”

Gilmar Mendes

MINISTRO DO STF

 

“Os membros da força-tarefa da Lava Jato no Rio vêm a público manifestar a sua apreensão diante da possível liberdade precoce de empresários.”

FORÇA-TAREFA DA LAVA JATO NO RIO