Título: Referendo de Constituição não aplaca críticas
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 28/02/2012, Mundo, p. 21

Defendido pelo presidente Bashar Al-Assad como uma solução para a crise na Síria, a aprovação por "89,4% dos votos" de um projeto para uma Constituição mais democrática não abafou as críticas internacionais ou a violência no país. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), baseado em Londres, denunciou que 68 civis foram mortos durante um "massacre" em Homs. Enquanto os Estados Unidos se referiram à votação como um "absoluto cinismo", a União Europeia aprovou um pacote de sanções contra o regime. Por outro lado, China e Rússia se uniram para reiterar o apoio a Damasco. Em Genebra, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário Nunes, afirmou que o Brasil é contra a entrega de armas à oposição síria. Ela participou da abertura da sessão anual do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, que hoje deve promover um debate sobre a situação na Síria.

O ministro do Interior sírio, Mohamad Nidal Al-Shaar, informou que o referendo teve participação de "8,37 milhões de eleitores, ou seja, 57,4% do corpo eleitoral". Pelas novas regras, outros partidos políticos podem participar das eleições, e não apenas o governamental Baath, que está no poder desde 1963. Além disso, o mandato presidencial estaria limitado a dois anos. Salem Nasser, especialista em Oriente Médio da Fundação Getulio Vargas, afirmou que havia expectativa de que o regime promovesse essas reformas, mas as chances de que elas sejam favoráveis ao atual cenário diminuem a cada dia. "O problema é que se não tiver efeito, o país vai caminhar mais rapidamente para uma guerra civil", alertou, em entrevista ao Correio.

Cinismo Mas o projeto foi bombardeado por críticas. Os EUA o classificaram de "absoluto cinismo". "O referendo realizado é ridículo, no sentido de que requer que o Estado aprove qualquer desses grupos de oposição", declarou a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland. Para a ONU, o referendo "dificilmente será crível". O principal fórum de direitos humanos do organismo fará hoje um debate urgente sobre a Síria. Após falar na abertura da sessão anual do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a ministra Maria do Rosário reiterou a posição brasileira de que a "política e a diplomacia ocupem o lugar do confronto". Ela lembrou que o Brasil condena "ações armadas de qualquer lado".

Rússia e China, mais uma vez, saíram em defesa do regime sírio. Pequim criticou os EUA por instarem a comunidade internacional a aumentar a pressão sobre o governo chinês a "modificar sua postura". Moscou atacou o "caráter unilateral" da conferência de amigos da Síria, na sexta-feira, na Tunísia. A União Europeia aumentou a pressão e anunciou um novo pacote de sanções contra o regime, que prevê o congelamento dos depósitos do Banco Central sírio. O bloco afirmou estar "cada vez mais horrorizado com a situação"

O OSDH denunciou o massacre de 68 civis em Homs. As vítimas, segundo o observatório, seriam "pessoas que deixavam Homs e que foram mortas pelos chabbiha (milícias civis do regime)", declarou o presidente da ONG Abdel Rahmane, ressaltando que as informações não puderam ser confirmadas. O Crescente Vermelho noticiou ter retirado três feridos do bairro de Baba Amro, em Homs, mas não conseguiu resgatar dois jornalistas.