O Estado de São Paulo, n. 45230, 18/08/2017. Economia, p.B3

 

Para economista, crescimento começa a ser visto no varejo, na produção industrial e nos serviços

Por: Fabrício de Castro

 

Fabrício de Castro / BRASÍLIA

 

Recuperação se disseminou entre os setores’

Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central

 

Os dados mais recentes sobre a economia brasileira parecem indicar que a recuperação está mais disseminada entre os setores, e não apenas concentrada no agronegócio. Essa é a avaliação do economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, da consultoria Schwartsman e Associados.

Ele chama a atenção para o fato de o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), que fechou o segundo trimestre com expansão de 0,25%, ter avançado pelo segundo trimestre consecutivo. Para Schwartsman, o processo de recuperação deve continuar no segundo semestre e permitir crescimento “razoável” para o País em 2018, de 2,5%. Confira os principais trechos da entrevista.

 

Qual é a percepção em relação à recuperação da economia?

Os dados têm mostrado tendência de recuperação. Não é uma recuperação extraordinária, é bastante modesta, mas está em linha com o esperado. Do ponto de vista do IBC-Br, estamos falando de dois trimestres consecutivos de expansão, algo que não víamos desde o fim de 2013. O IBC-Br em si não diz muita coisa, porque é apenas um número agregado, mas quando olhamos para o conjunto das evidências - varejo, produção industrial, serviços - a recuperação parece mais disseminada. O desempenho no primeiro trimestre esteve muito ligado à agricultura, mas no segundo trimestre o crescimento parece ser mais difundido por outros setores. Em particular, o consumo, que seria capturado pelas vendas no varejo, sugere que alguma reação está vindo por aí.

 

Esse processo de recuperação continua no segundo semestre?

Acredito que sim. Todas as condições que levaram a isso estão presentes e se intensificam. Em particular, o efeito mais vigoroso da queda da taxa de juros (Selic) acontece agora. E já temos sinais de recuperação da renda do trabalho. Tudo isso aponta para um consumo um pouco mais forte na segunda metade do ano. Em 2017, o crescimento como um todo não vai ser grande coisa, mas 2018 pode apresentar um número mais razoável, de 2,5%. As coisas parecem estar, aos poucos, indo para o lugar, apesar dos muitos desafios.

 

A dificuldade do governo para colocar a área fiscal em ordem pode prejudicar o crescimento?

Sim, mas não no horizonte próximo. É uma vulnerabilidade óbvia do País que ninguém está prestando muita atenção - fora os economistas. Mas o fato é que isso é possível porque estamos em um mundo de juros muito baixos e de investidores globais dispostos a correr riscos. Quando a maré está alta, você pode nadar pelado. O problema é quando a maré baixar.

 

 

 

 

 

ENTREVISTA - Maílson da Nóbrega

Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda Para Maílson, já é possível afirmar que a recessão ficou para trás; ele prevê crescimento de 2,8% em 2018

 

BRASÍLIA

 

'É um ritmo medíocre, mas é uma retomada'

Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda

 

O economista Maílson da Nóbrega está mais otimista que a média do mercado financeiro em relação à retomada da economia brasileira. Enquanto analistas ouvidos pelo Banco Central preveem crescimento de 2% para o País em 2018, Maílson cita uma taxa de 2,8%.

Ontem, o Banco Central informou que seu Índice de Atividade (IBC-Br) fechou o segundo trimestre deste ano com expansão de 0,25%. Ex-ministro da Fazenda do governo de José Sarney e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Maílson prevê a aceleração da retomada neste segundo semestre, principalmente pela recuperação do consumo. “Agora, um crescimento mais robusto só virá quando começarmos um novo ciclo de investimentos”, afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista:

 

Está havendo uma retomada da economia?

Todos os indicadores de produção e renda sinalizam isso. É um ritmo lento, medíocre, mas é uma retomada. Além da influência da safra, da inflação caindo mais do que se esperava, o que tem aberto espaço para um ciclo de política monetária mais intenso do que qualquer analista projetava há alguns meses, temos bons indicadores antecedentes, como o despacho de papel ondulado, o tráfego nas estradas, o crescimento do crédito à pessoa física e a queda do desemprego formal. Assim, já se pode afirmar com razoável dose de convicção que a recessão ficou para trás.

 

A recuperação acelera no segundo semestre?

Tudo indica que sim, porque teremos também, neste contexto de melhoria da renda e do emprego, que são os motores do consumo, uma recuperação da confiança, com retomada do consumo via crédito. Nada brilhante. Isso acontece não porque existe um novo ciclo de investimentos, mas porque se aproveita a capacidade ociosa da economia. A indústria estava com mais de 30% de capacidade ociosa. Tudo indica que o crescimento se firma e acelera no segundo semestre. Talvez o País vire o ano já com crescimento em ritmo superior a 2%. Para 2018, a expectativa é de avanço de 2,8%. Mas um crescimento mais robusto só virá com um novo ciclo de investimentos.

 

O sr. está otimista?

Acho que sim, porque a inflação vai continuar abaixo da meta. Mesmo que o BC não reduza a taxa básica de juros no próximo ano e a mantenha em torno de 7%, a confiança vai continuar se recuperando. A parte mais relevante do efeito da recuperação da renda e do emprego se dará no próximo ano. Portanto, essa taxa de crescimento será explicada pela aceleração do consumo, e não do investimento.