Funaro diz Joesley pagou por seu silêncio

Maíra Magro

01/09/2017

 

 

O operador financeiro Lúcio Bolonha Funaro confirmou em delação premiada que recebeu dinheiro do empresário Joesley Batista, da JBS, para ficar em silêncio e não revelar à Procuradoria-Geral da República (PGR) o que sabia sobre corrupção e outras irregularidades envolvendo políticos e empresários. A informação foi publicada ontem pelo site do jornal O Globo e confirmada pelo Valor.

O delator também falou que era constantemente monitorado por políticos, entre eles o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), para saber se estava ou não fazendo delação. Uma das formas de fazer essa "checagem", de acordo com o delator, seria por meio da indicação de advogados para atuar em sua defesa e manter informado o núcleo político interessado em seu silêncio. Como Funaro é tido como uma pessoa "instável", a preocupação de parlamentares seria grande em torno de uma possível delação.

O operador também disse a procuradores que entregou dinheiro a cerca de 15 a 20 deputados do PMDB a pedido do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, de acordo com fontes com acesso ao caso. Funaro relatou que Cunha fazia, ele mesmo, diversas entregas pessoalmente, com o dinheiro obtido por Funaro.

Valor apurou que a delação do operador contém um total de 30 anexos e envolve, ao todo, de 25 a 30 políticos.

A confissão de Funaro em relação à compra de seu silêncio deve ser um dos elementos importantes da segunda denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer, que deve ser apresentada até o fim da semana que vem. A fala do operador corrobora, nesse aspecto, a delação do empresário Joesley Batista, que diz ter comprado o silêncio de Funaro. Em sua delação, Joesley também afirmou que a compra do silêncio tanto de Funaro como de Eduardo Cunha teria contado com o aval de Temer.

Valor apurou que Funaro relatou nos depoimentos que tinha um acordo prévio com Joesley pelo qual, se viesse a ser preso, o empresário cuidaria financeiramente de questões envolvendo ele e sua família, enquanto Funaro "aguentaria as pontas", ficando calado. Apesar disso, Funaro disse que não sabia que tipo de negociatas envolveriam a compra de seu silêncio, ou seja, com quem Joesley teria se comprometido ou oferecido esse silêncio. Ele relatou que não estava ciente, por exemplo, que Temer teria dado aval à entrega de valores para que ficasse calado, disseram fontes ao Valor.

Joesley Batista afirmou, em sua delação premiada, que na conversa gravada com Temer no Palácio do Jaburu teria ficado claro que o presidente estaria ciente dos pagamentos pelo silêncio de Funaro e de Cunha, para evitar que os dois colaborassem com o Ministério Público.

Mas só depois de revelado o acordo de colaboração de Joesley é que Funaro diz ter tomado conhecimento do suposto aval do presidente da República para que ele recebesse dinheiro para ficar calado. Funaro disse que não tinha ligação direta com Temer, o que ficaria a cargo de Cunha e dos ex-ministros Geddel Viera Lima e Henrique Eduardo Alves. Segundo fontes, a delação de Funaro não traz elementos sobre a suposta compra do silêncio de Cunha.

Funaro também confirmou na delação premiadao que já havia dito em depoimento à Polícia Federal sobre a retirada de um pacote de dinheiro no escritório do advogado José Yunes, amigo íntimo de Temer.

O operador detalhou ainda todo o processo que fazia para estruturar operações financeiras no exterior, entregando supostos esquemas que envolveriam Geddel, Henrique Alves, Cunha e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.

Ontem, a delação premiada de Funaro voltou para o gabinete do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Com isso, fica mais próxima a possibilidade de homologação do acordo pelo Supremo.

Fachin recebeu a delação da PGR nesta semana, mas devolveu os documentos para que fossem feitos alguns ajustes nos termos do acordo. Agora, feitos os ajustes, o Ministério Público remeteu o documento de volta às mãos do ministro.

A expectativa de procuradores é que a delação seja homologada até o fim da semana que vem. O sigilo dos documentos, porém, não deve ser retirado juntamente com a homologação, como já ocorreu em outros casos. Fachin informou à PGR que só vai tornar o conteúdo da delação público após deliberação pelo plenário do Supremo. Isso porque os depoimentos envolvem conteúdo relacionado ao presidente da República, que só pode ser julgado pelo plenário do STF .

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4332, 01/09/2017. Política, p. A6.