O Estado de São Paulo, n. 45213, 01/08/2017. Política, p.A6

 

Janot diz que prisão de Aécio é ‘urgente’

Procurador-geral da República pede, pela terceira vez, detenção do senador tucano

Por: Breno Pires Rafael Moraes Moura

 

Breno Pires

Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

 

Em um recurso apresentado no Supremo Tribunal Federal (STF) ontem, a Procuradoria-Geral da República pediu, pela terceira vez, a prisão do senador Aécio Neves (PSDBMG), no curso da investigação aberta contra o tucano com base nas delações do Grupo J&F, que controla a JBS. Para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a prisão do senador é “imprescindível e urgente”.

“O recolhimento provisório de Aécio Neves à prisão é medida imprescindível e urgente, não apenas para preservar a ordem pública e a instrução criminal das investigações em curso, mas também por ‘descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares’”, afirmou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Em maio, o tucano foi suspenso das atividades parlamentares pelo ministro do STF Edson Fachin, que negou, na ocasião, prender o senador. No fim de junho, o ministro da Corte Marco Aurélio Mello, que assumiu a relatoria do caso, também rejeitou pedido de prisão e decidiu suspender a restrição que havia sido imposta e Aécio retomou o mandato no Senado. A Procuradoria recorre dessa decisão. O novo pedido já se encontra no gabinete de Marco Aurélio.

O Estadão/Broadcast apurou que o ministro deverá manter a decisão, pedir a manifestação da defesa de Aécio e levar o recurso para julgamento na Primeira Turma do STF, composta ainda por Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux.

 

Acusação formal. Aécio foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, em 5 de junho, pelos crimes de corrupção passiva e obstrução à investigação de organização criminosa. Em delação premiada, o empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, entregou uma gravação na qual Aécio lhe pede R$ 2 milhões para pagar a defesa dele na Operação Lava Jato.

Em ações controladas, a Polícia Federal e a Procuradoria conseguiram imagens que mostram um primo de Aécio e um ex-assessor parlamentar recebendo dinheiro. Para a Procuradoria, os valores eram propina e tinham como destinatário o senador tucano.

“O robusto acervo probatório carreado aos autos desta ação cautelar – com destaque para as provas colhidas no bojo das ações controladas e interceptações telefônicas, todas devidamente autorizadas pelo ministro Edson Fachin – não deixam dúvidas de que, na época do pedido de prisão, tal como os demais requeridos, o senador Aécio Neves também estava tecnicamente em estado de flagrância em relação aos crime de corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e embaraço a investigação criminal que envolve a organização criminosa”, disse Janot.

Janot pede que, caso a decisão não seja reconsiderada, o Supremo aplique medidas alternativas à prisão – “proibição de contato de qualquer espécie com qualquer investigado ou réu na Lava Jato ou em algum dos seus desmembramentos; proibição de ingresso em quaisquer repartições públicas, em especial o Congresso Nacional, salvo como usuário de serviço certo e determinado ou para o exercício de direito individual desde que comunicado previamente a essa Corte; proibição de deixar o País e obrigação de entregar passaportes”.

 

‘Afronta’. Em nota, o advogado do tucano, Alberto Zacharias Toron, afirmou que o “agravo apresentado limita-se a repetir os argumentos já refutados pelo ministro Marco Aurélio, por representarem afronta direta à Constituição Federal”. “Nenhum fato novo foi apontado pela Procuradoria para justificar a prisão do senador Aécio Neves.” “A defesa segue tranquila quanto à manutenção da decisão que revogou as medidas cautelares impostas contra o senador, pois, diferentemente do agravo do PGR, está ancorada no que diz a legislação vigente no País”, afirmou Toron.

Como mostrou o Estado, Aécio, afastado da presidência do PSDB desde maio, deve retomar temporariamente o comando da legenda em agosto para coordenar a transição de seu substituto. Ao mesmo tempo, tentará evitar o rompimento do partido com o presidente Michel Temer. No sábado, Temer jantou com o senador e ministros tucanos no Jaburu.

A articulação para manter a sigla na base do governo inclui ligações para deputados do PSDB em busca de reverter votos daqueles que são favoráveis à aceitação da denúncia por corrupção passiva contra Temer apresentada por Janot. A votação da denúncia na Câmara está marcada para amanhã.

 

Medida

“O recolhimento provisório de Aécio Neves à prisão é medida imprescindível e urgente, não apenas para preservar a instrução criminal das investigações, mas por ‘descumprimento de qualquer das obrigações impostas por outras medidas cautelares’.”

Rodrigo Janot

PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA

 

 

 

 

Procurador critica atuação de ministério

Por: Fabio Serapião

 

Fabio Serapião / BRASÍLIA

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, criticou, ontem, a atuação do Ministério da Justiça e afirmou ao Estado que a pasta “compromete toda a estratégia do combate regional à corrupção”. A fala de Janot se dá no mesmo dia em que os Ministérios Públicos Federais do Brasil e da Argentina emitiram uma nota conjunta criticando a tentativa dos Poderes Executivos de cada país em criar “obstáculos” para a criação de um grupo de trabalho conjunto para investigar o caso Odebrecht.

Em junho, os MPs da Argentina e do Brasil assinaram um acordo para criação de uma equipe conjunta de investigação (ECI) para os crimes relacionados à Operação Lava Jato e ao caso Odebrecht. Pelo acordo, os dois órgãos atuariam de forma conjunta no esclarecimento das condutas ilícitas e na investigação financeira para recuperação do produto ou proveito de crimes relacionados à Odebrecht.

Segundo o MPF brasileiro, “as informações e qualquer outro meio de prova obtido em virtude da atuação da ECI tramitarão entre os membros da equipe e poderão ser utilizados nas investigações”.

Em nota, o Ministério da Justiça diz que o acordo entre os órgãos não obriga o Estado brasileiro a cumpri-lo. “Com o devido apreço à reconhecida dedicação dos MPFs da Argentina e do Brasil, o ato entre eles firmado não vincula o Estado brasileiro.”

 

Suíça. Em janeiro, o Estado revelou que outra proposta da PGR para criar um grupo de trabalho, dessa vez com as autoridades suíças, estava travada no Ministério da Justiça brasileiro. Uma troca de e-mails entre os suíços e o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional mostrava exigências feitas pelo governo brasileiro, entre elas, o nome de suspeitos e a lista de potenciais alvos da investigação. A condição causou estranhamento e o pedido não foi acatado.