O Estado de São Paulo, n. 45213, 01/08/2017. Política, p.A8

 

Moro ordena prisão preventiva de Bendine

Em depoimento, ex-presidente da Petrobrás nega ter recebido propina de R$ 3 mi da Odebrecht; decisão de juiz também alcança publicitários

Por: Julia Affonso / Ricardo Brandt / Fausto Macedo / Luiz Vassallo

 

 

 

 

 

 

Eike se recusa a responder se pagou propina a Cabral

Por: Mariana Sallowicz

Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, o empresário Eike Batista não respondeu se pagou propina ao ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), negou que tivesse relação próxima com ele e admitiu que emprestou ao peemedebista um de seus aviões. Eike é acusado de pagar US$ 16,5 milhões em propina a Cabral para obter vantagens.

“Quero colaborar 100% com a Justiça. É o meu dever. Sobre essa questão (suposta propina a Cabral), a recomendação dos meus advogados neste instante é ficar em silêncio”, disse Eike, em testemunho de 13 minutos.

Também em depoimento a Bretas, Cabral afirmou que nunca manteve com o empresário uma relação de “toma lá dá cá” e que a única vez em que pediu recursos de “interesse pessoal” a Eike foi em 2010, para ajuda financeira de campanha.

A advogada Adriana Ancelmo, mulher do ex-governador, afirmou durante interrogatório não ter atuado diretamente nos processos relacionados ao empresário. Segundo ela, os casos foram conduzidos pelo seu ex-sócio e ex-marido, o advogado Sérgio Coelho. Adriana, Cabral e Eike são réus em processo da Operação Eficiência. /MARIANA SALLOWICZ

Órgãos relacionados:

 

Julia Affonso

Ricardo Brandt

Fausto Macedo

Luiz Vassallo

 

O juiz federal Sérgio Moro converteu ontem em preventiva (por tempo indeterminado) a prisão temporária do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás Aldemir Bendine. O magistrado acolheu pedido do Ministério Público Federal. O prazo para a custódia temporária do executivo terminaria hoje.

Bendine foi preso na quintafeira passada, na Operação Cobra, 42.ª fase da Lava Jato. Ele é suspeito de ter recebido R$ 3 milhões em propina da Odebrecht. Em depoimento ontem à Polícia Federal, o executivo negou que tenha recebido valores ilícitos da empreiteira.

A decisão de Moro alcança ainda os irmãos André Gustavo e Antonio Carlos Vieira da Silva, publicitários apontados como supostos operadores financeiros de Bendine. Segundo os procuradores, foram encontrados elementos que reforçam as suspeitas contra o ex-presidente da Petrobrás e os dois publicitários ligados a ele.

“(Bendine) Teria solicitado vantagem indevida no cargo de presidente do Banco do Brasil e teria reiterado a solicitação depois de assumir o cargo de Presidente da Petrobrás”, afirmou Moro. “Essa sucessão de fatos sugere que a solicitação e o recebimento de vantagem indevida por Aldemir Bendine não foram algo ocasional em sua vida, mas uma prática corriqueira.”

Segundo o Ministério Público Federal, na busca e apreensão na residência do ex-presidente da Petrobrás, em São Paulo, foram encontradas “anotações que corroboram o depoimento dos colaboradores e revelam que Bendine informavase ativamente sobre o arrolamento da dívida da Odebrecht Agroindustrial que baseou seu pedido inicial de propina”.

Uma das anotações dizia: “1/5: encontro com motorista. dissuadi-lo a não depor no MPF”. Segundo os procuradores, Bendine teria escrito o recado em 2014 em referência a um motorista que estava prestes a ser ouvido na Procuradoria da República em São Paulo. Com isso, ele teria praticado “atos concretos para obstrução da Justiça”. O Ministério Público Federal também disse ter encontrado elo entre Bendine e o ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro. Relatório indica uma ligação telefônica do ex-presidente da Petrobrás a Pinheiro, em 2014, além de 27 registros telefônicos de André Gustavo para o ex-presidente da OAS.

 

Depoimento. Ontem, à PF, Bendine disse que tinha boa relação com André Gustavo, mas negou ter “relações profissionais” com ele. Afirmou também que, como presidente do Banco do Brasil, “negou inúmeros pleitos da Odebrecht, como o pedido de financiamento da construção do estádio do Corinthians”. Ainda declarou que “contrariou Marcelo Odebrecht, cancelou negócios e manteve seus contratos suspensos em decorrência da Lava Jato”.

 

Bloqueio. Também por ordem de Moro, o Banco Central bloqueou R$ 3.417.270,55 de Bendine. O confisco foi informado ontem ao magistrado. No Banco do Brasil, foram confiscados R$ 3 milhões de uma conta do executivo. Em outra conta, no Bradesco, foram bloqueados R$ 417.253,09. Na Caixa, foram encontrados R$ 17,46.

O advogado Ademar Rigueira, defensor de André Gustavo e Antonio Carlos Vieira da Silva, afirmou que a prisão preventiva “parece precipitada”. “Apesar dos argumentos trazidos com os pedidos de revogação, a decisão é silente quanto aos argumentos da defesa.” A defesa da OAS e de Léo Pinheiro não foi localizada.

 

Depoimento. Interrogado pela PF, o ex-presidente da Petrobrás Aldemir Bendine disse que ‘contrariou’ Marcelo Odebrecht

 

"(Bendine) Teria solicitado vantagem indevida no cargo de presidente do Banco do Brasil"

Sérgio Moro, juiz federal

 

 

 

 

 

 

Procuradoria recorre e pede que Lula pague multa de R$ 87 milhões

Lava Jato também defende uma pena mais pesada ao petista; defesa do ex-presidente vai ao TRF-4 contra sentença
Por: Luiz Vassallo / Julia Affonso

 

Ao recorrer por uma pena mais pesada ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – condenado a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guarujá (SP) –, a forçatarefa da Operação Lava Jato pretende, ainda, que o petista seja obrigado a devolver R$ 87,6 milhões aos cofres públicos, e não R$ 16 milhões, como fixou o juiz Sérgio Moro, na sentença imposta ao petista.

O valor estipulado por Moro levou em consideração o suposto “caixa de propinas” que a OAS teria mantido em benefício de Lula. O montante pleiteado pelos procuradores é correspondente ao prejuízo causado por desvios na Petrobrás em contratos com a empreiteira.

Moro bloqueou R$ 660 mil em contas correntes de Lula e R$ 9 milhões de fundos em nome dele na Brasil-Prev, do Banco do Brasil. O confisco de valores relacionados ao ex-presidente leva em consideração os R$ 2,2 milhões referentes ao triplex e as reformas bancadas pela OAS.

O Ministério Público Federal sustenta, no entanto, que dos contratos da Petrobrás relacionados às obras das Refinaria Getúlio Vargas, no Paraná, e Abreu e Lima, em Pernambuco, com a empreiteira OAS, nos quais “se comprovou a prática de corrupção”, 3% foram destinados ao pagamento de propinas, com prejuízo de R$ 87,6 milhões.

 

TRF-4. O Ministério Público Federal entrou com apelação ao Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) para aumentar a pena de Lula no caso do triplex. Os procuradores da República também querem que o ex-presidente e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, sejam condenados pela lavagem de R$ 1,3 milhão pelo armazenamento de bens do petista que teria sido custeado pela empreiteira OAS.

Ontem, a defesa de Lula formalizou recurso contra sentença de Moro no TRF-4. “Os sólidos fundamentos que serão apresentados, demonstrando que o Ministério Público Federal não fez prova da culpa e a defesa fez a prova da inocência, deverá levar à reversão da sentença de primeiro grau, para absolver Lula”, afirmou o advogado Cristiano Zanin Martins.

Defensores do ex-presidente já apontaram na sentença de Moro “omissões, contradições e obscuridades”. Alegaram, ainda, ter havido cerceamento de defesa e consideraram “desproporcional” a pena do petista. “O julgamento não passou de uma cerimônia legal para averbar um veredicto já ditado pela imprensa e pela opinião pública que ela gerou”, disseram.

 

Armazenamento. Ao defender a condenação de Lula e Okamotto no caso do armazenamento do acerto presidencial, os procuradores afirmam que “resta evidente que o conteúdo do contrato celebrado não consistiu em erro, mas se apresenta como clara fraude contratual, na tentativa, pelos denunciados, de ocultarem e dissimularem a real propriedade dos bens armazenados e o financiamento de despesas atinentes ao ex-presidente Lula e ao Instituto Lula pelo Grupo OAS”.

Para a força-tarefa da Lava Jato, Lula, Okamotto e o ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, cometeram 61 crimes de lavagem de dinheiro no caso.

O advogado Fernando Augusto Fernandes, que defende Paulo Okamotto, criticou o pedido da Procuradoria. “Os procuradores do Paraná não buscam Justiça com o recurso. O seu compromisso é com o caráter político e midiático da Lava Jato em detrimento dos direitos e garantias dos absolvidos”, afirmou o advogado do presidente do Instituto Lula.

As defesas da OAS e de Léo Pinheiro não foram localizadas pela reportagem. / L.V. e J.A.

 

Sentença

R$ 16 mi

é o montante a ser devolvido por Lula aos cofres públicos, de acordo com a sentença do juiz Sérgio Moro; magistrado considerou os R$ 2,2 milhões referentes ao triplex e as reformas bancadas pela OAS