Advogado de Rocha Loures nega delação

Antonio Temóteo e Paulo de Tarso Lyra

01/07/2017

 

 

A defesa do suplente de deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), que teve a prisão revogada ontem após decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, negou que o cliente negocia uma delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava-Jato. Além disso, o advogado do ex-assessor do presidente Michel Temer, Cezar Bittencourt, partiu para o ataque e classificou como “política” a decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de fatiar o processo que pode tornar o chefe do Executivo réu por suposto crime de corrupção no caso JBS.

A decisão de Fachin foi elogiada por Bittencourt, que se disse aliviado pelo fato de a mulher de Rocha Loures estar grávida. “Ele não vai delatar nada nem ninguém, ele confia no nosso trabalho. Ele agora vai para casa ver a esposa que está grávida e pode ter o filho a qualquer momento”, afirmou. No recurso que pediu a soltura de Loures, o advogado destacou que a prisão preventiva não pode ser um instrumento para forçar colaborações premiadas. O defensor ainda avaliou que a libertação do cliente não terá impacto na tramitação da primeira denúncia contra o presidente da República.

Diante da decisão de Janot de enviar à Câmara três denúncias contra Temer e Loures, o advogado destacou que o pedido não se sustenta e tem motivação política. Para ele, o natural era que o Ministério Público Federal (MPF) encaminhasse à Justiça apenas uma denúncia, envolvendo as três acusações. “Por ser uma decisão política, ele resolveu dividir em mais de uma. Deve ser porque está se aposentando e quer ser candidato a governador em algum estado”, provocou.

Apesar das negativas do advogado, pessoas próximas ao ex-parlamentar avaliam que a família pode pressioná-lo a negociar uma colaboração premiada para passar menos tempo preso caso fique comprovado que ele é culpado das acusações. “Os pais dele estão abaladíssimos, e a mulher, que dará à luz a qualquer momento, pode fazer cobranças, já que terá de cuidar sozinha do filho”, disse o interlocutor.

Mesmo após a decisão, Loures só deve deixar a carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, na manhã de hoje, já que faltam tornozeleiras eletrônicas e uma será buscada em Goiânia (GO). Fachin determinou que o suplente de deputado federal não poderá sair de casa entre as 20h e as 6h, que ele está proibido de se comunicar com qualquer outra pessoa citada no processo, réu ou testemunha. O ex-assessor de Temer também não poderá deixar o país e terá de comparecer em juízo para informar e justificar atividades sempre que requisitado, devendo manter atualizado o endereço de residência.

Isonomia

No despacho, Fachin destacou decisão da Primeira Turma do STF, que decidiu, em 20 de junho, remover a prisão preventiva e aplicar a detenção domiciliar em relação a três investigados no inquérito que envolve o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) que foram presos na Operação Patmos: Andréa Neves, irmã do tucano; Frederico Pacheco de Medeiros, primo dele; e Mendherson Souza Lima, ex-assessor parlamentar de Zezé Perrella (PMDB-MG). “Nada obstante a solução dada pela respeitável decisão colegiada, entendo que o atual momento processual vivenciado pelo aqui segregado autoriza a adoção de providência semelhante, em homenagem ao tratamento isonômico que deve inspirar a jurisdição”, ressaltou Fachin. Andréa Neves, entretanto, está em prisão domiciliar e não pode deixar a residência.

Loures estava preso desde 3 de junho por suspeita de recebimento de propinas da JBS. Ele foi filmado saindo de um restaurante com uma mala recheada com R$ 500 mil em propina, após negociação com Joesley Batista. Na noite de 28 de abril, foi filmado por agentes da PF, em ação controlada autorizada por Fachin, correndo numa rua de São Paulo carregando uma mala preta estufada de propinas da JBS — 10 mil notas de R$ 50, somando R$ 500 mil. O dinheiro da propina foi devolvido aos investigadores.

 

 

Correio braziliense, n. 19758, 01/07/2017. Política, p. 3.