Maia, espectador privilegiado

Paulo de Tarso Lyra

02/07/2017

 

 

Toda essa instabilidade vivida pelo governo do presidente também depende da discrição de uma figura-chave: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Maia já avisou que manterá a “neutralidade”, mesmo sendo um integrante da base de apoio do governo na Casa. “Ninguém esperava outro comportamento dele”, ressaltou um ministro palaciano. Na verdade, em tempos passados, os ocupantes da mesma cadeira, como o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba, tiveram um papel bem mais ativo fustigando o titular do Planalto.

“Ele pode ser da base, mas esse não é um assunto de governo. A postura de Maia está corretíssima”, elogiou o líder do Solidariedade, deputado Áureo (RJ). Até porque a situação de Maia é delicada. Se o processo contra Temer for autorizado pela Câmara e aceito pelo STF, o presidente é afastado por um período de até 180 dias. Nesse caso, Maia assume a presidência de maneira interina. Caso Temer seja condenado, o presidente da Câmara assume o posto e tem até 30 dias para marcar uma eleição indireta.

Por isso, o demista é um dos favoritos caso Temer tenha que, de fato, deixar o Planalto. “Ele ficará com a caneta na mão durante 7 meses. Como será uma eleição indireta entre os 513 deputados e 81 senadores, a força dele nesse processo será enorme”, destacou um integrante da base. “Até por tudo isso, a discrição de Maia é importante. Se ele fizer qualquer movimento, vai desestabilizar o governo. Essa postura de independência que ele vem adotando ajuda a torná-lo ainda mais forte”, elogiou o líder do PSD na Câmara, Marcos Montes (MG).

A cautela de Maia, no entanto, tem outra razão, na avaliação de alguns interlocutores do mercado. O presidente da Câmara, embora citado nas delações da Odebrecht sob o pseudônimo Botafogo, estaria mais interessado em concorrer ao governo do Rio em 2018. (PTL)

 

 

Correio braziliense, n. 19759, 02/07/2017. Política, p. 2.