O Estado de São Paulo, n. 42214, 02/08/2017. Política, p.A7
Por: Isadora Peron / Renan Truffi
Isadora Peron
Renan Truffi / BRASÍLIA
Após uma série de reuniões, partidos da oposição decidiram obstruir a sessão destinada a votar a denúncia por corrupção passiva apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. A estratégia pode ser revista durante o dia, mas, pelo menos na sessão marcada para o período da manhã, os deputados oposicionistas não devem marcar presença para testar a força do governo e verificar o tamanho da base de Temer na Câmara. Está prevista até uma “passeata” no Salão Verde da Câmara pedindo a saída do presidente.
O primeiro desafio dos governistas será colocar 257 parlamentares em plenário e aprovar um requerimento para encurtar a discussão na Casa. Para dar início a votação, o quórum exigido é ainda maior: 342 deputados. O governo admite que, sem a ajuda da oposição, não conseguirá alcançar esse número, o que poderá inviabilizar a votação.
Também faz parte da estratégia da oposição empurrar a votação para o período da noite, para que a sessão tenha mais visibilidade. “Votar a denúncia à noite é fundamental para que o trabalhador acompanhe”, disse o líder da minoria na Casa, deputado José Guimarães (PT-CE).
A estratégia, no entanto, divide a oposição e o partido que mais resiste a apoiar a ideia de obstruir a sessão é justamente o PT, que conta com 58 deputados. Maior liderança da sigla, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que petistas comparecessem ao plenário.
“Qualquer que for a decisão de vocês, é importante ter em conta que nesse lenga-lenga de se vota o processo do Temer, se não vota, é preciso que a nossa bancada fique atenta à situação do povo brasileiro. Porque, enquanto se briga no Congresso Nacional, o desemprego cresce, o salário cai e a dificuldade do povo aumenta”, disse o petista em um bate-papo com o deputado Wadih Damous (PT-RJ) transmitido pelo Facebook.
Apesar da recomendação de Lula, a bancada do PT decidiu, em reunião realizada ontem à tarde, que vai obstruir a votação pelo menos durante a manhã e depois iria analisar a situação “a cada momento”.
Peregrinação. Um dos mais ferrenhos defensores da abertura da investigação contra Temer, o deputado Sílvio Costa (PT do B-PE) chegou a ir até o plenário onde os petistas estavam reunido para tentar convencê-los a não marcar presença. “Deputado que marcar presença vai estar fazendo o jogo do presidente Michel Temer. É uma oposição do Paraguai”, disse Costa, que tentou convencer até mesmo deputados do PSDB que são a favor do desembarque do partido do governo a participar da estratégia.
Igor Gadelha / BRASÍLIA
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), exonerou ontem dois secretários estaduais para que retomem os mandatos de deputado federal e ajudem a barrar a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Michel Temer na votação prevista para hoje no plenário da Câmara dos Deputados.
Costa destituiu os secretários de Desenvolvimento Urbano, Fernando Torres (PSD), e de Relações Institucionais, Josias Gomes da Silva (PT). Torres e Silva devem abster-se na votação do parecer, o que na prática favorece Temer já que são necessários 342 votos para aprovar a abertura de investigação. Os suplentes deles eram, respectivamente, Robinson Almeida (PT) e Davidson Magalhães (PCdoB), que haviam declarado voto contra Temer.
Aliados do governador da Bahia afirmam que o afastamento do presidente do cargo, caso a denúncia seja aceita, não interessa a Costa. Se Temer for afastado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assumirá o comando do País. Isso fortalece politicamente o prefeito de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), o ACM Neto, que deve concorrer contra Costa na eleição para o governo da Bahia em 2018.
“Se Rodrigo Maia assume, ele vai se fortalecer”, disse Josias Gomes, ressaltando que essa não é uma tese só dele, mas do grupo político de Costa. “É minha, do governador e da maioria dos partidos que apoiam ele no Estado”, disse. “Vou absterme na votação. Não sou a favor nem de Michel Temer nem de Rodrigo Maia. Sou a favor de eleições diretas para presidente”, justificou Fernando Torres.
Procurado, Rui Costa não quis se manifestar.