O Estado de São Paulo, n. 45215, 03/08/2017. Política, p. A5.

 

‘Não é uma vitória pessoal’, diz presidente

Anne Warth / Carla Araújo / Tânia Monteiro

03/08/2017

 

 

Após vitória no plenário, Temer faz discurso conciliador e prega agenda de reformas; durante a votação, presidente se incomodou com ‘traições’

 

 

Após o encerramento da sessão que barrou a denúncia na Câmara, o presidente Michel Temer fez um discurso de conciliação ao exaltar a decisão do plenário, tentou demonstrar que o governo vai manter a agenda de aprovação de reformas econômicas e reafirmou que vai cumprir o mandato até 31 de dezembro de 2018.

Mas, apesar da vitória de ontem, Temer ficou contrariado com o número de “traições” de deputados – a avaliação do governo era de 15 a 20 traições efetivas de parlamentares que prometeram votar contra o prosseguimento da denúncia e fizeram exatamente o contrário.

Temer deixou o Planalto às 23 horas, depois de receber o cumprimento de ministros e dezenas de parlamentares. O presidente recebeu ainda dezenas de deputados que foram cumprimentá-lo e seguiu sozinho para o Palácio do Jaburu, sua residência oficial.

Durante a votação, ele só se incomodou quando apareceram as primeiras traições inesperadas e os xingamentos à sua pessoa, principalmente com a declarações dos deputados do Rio Grande do Sul. “Não vou ficar ouvindo isso”, desabafou Temer, levantando-se da poltrona e saindo em direção a uma sala de trabalho, contígua ao seu gabinete, no terceiro andar do Planalto, deixando ministros e assessores assistindo pela TV à sessão do plenário.

No pronunciamento feito no Palácio do Planalto, Temer disse que o resultado da votação era a manifestação “incontestável” da vontade do povo brasileiro. “A decisão soberana do Parlamento não é uma vitória pessoal de quem quer que seja, mas uma conquista do Estado democrático de direito, da força das instituições e da própria Constituição”, afirmou. “O poder da autoridade, tenho repetido isso com muita frequência, emana da lei. Extrapolar o que a Constituição determina é violar a democracia.”

Em seu discurso, Temer voltou a dizer que seu governo está retirando o País da “mais grave crise econômica” da história. “Embora seja repetitivo, digo que é urgente colocar o Brasil nos trilhos do crescimento, da geração empregos, da modernização e justiça social.”

O presidente disse não ter parado nem “um minuto sequer” desde que assumiu o governo, em 12 de maio de 2016, e disse que não vai descansar até 31 de dezembro de 2018. “Durante esse breve período, espero terminar a maior transformação já feita no País em vários setores do Estado e da sociedade.”

Temer citou que, durante seu governo, já propôs mudanças na lei de exploração do petróleo e mineração e reduziu a burocracia. “Enfrentamos e derrotamos a inflação”, disse. “Os juros estão caindo a cada mês.”

Temer mencionou ainda recordes na produção agropecuária e nas exportações e voltou a falar na necessidade de geração de empregos. Segundo ele, assim, que a modernização da lei trabalhista entrar em vigor, os resultados de geração de empregos serão “ainda mais expressivos”. “Faremos todas as demais reformas estruturantes de que o País necessita.”

Sem mencionar nomes, Temer disse ainda que aqueles que tentam dividir o Brasil erram. “Todos nós somos brasileiros, detentores dos mesmos direitos e deveres. Devemos nos dedicar a fazer um Brasil melhor”, afirmou o presidente.

 

Confiança. Após votação na Câmara, Temer exaltou resultados positivos na economia

 

Pronunciamento

“A decisão soberana do Parlamento não é uma vitória pessoal de quem quer que seja, mas uma conquista do Estado democrático de direito, da força das instituições e da própria Constituição.”

 

“O poder da autoridade, tenho repetido isso com muita frequência, emana da lei. Extrapolar o que a Constituição determina é violar a democracia.”

Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA