Correio braziliense, n. 19765, 08/07/2017. Política, p. 4

 

A nova estratégia do governo

Luana Melody Brasil 
08/07/2017
 
 
De olho num eventual parecer negativo de Sergio Zveiter na CCJ, Planalto trabalha para rejeitar o relatório e tentar emplacar outro relator, alinhado ao Palácio. Trocas de parlamentares seguem a todo vapor na comissão

Prevendo uma possível derrota na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, o governo agora trabalha para derrubar o relatório de Sergio Zveiter (PMDB-RJ) e, com isso, colocar um relator do bloco alinhado ao Planalto. Mesmo que essa estratégia provoque mais corrosão na credibilidade do Palácio, aumentaria as chances de barrar a denúncia e livrar Michel Temer de um afastamento do cargo.

A mudança se deve à crescente apreensão dos governistas sobre o perfil do relator da denúncia. Considerado próximo a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e beneficiário direto da queda de Temer, Zveiter não tem sinalizado aos correligionários um parecer favorável ao peemedebista.

A partir de um relatório acatando a denúncia, há duas avaliações correntes nos bastidores do Congresso: se o documento for meramente técnico, considerando apenas a constitucionalidade da acusação, é ruim para Temer, porém ainda deixa brecha para uma vitória do peemedebista no plenário. Por sua vez, se o parecer entrar no mérito da denúncia, fazendo juízo de valor sobre a acusação de corrupção passiva, haverá mais pressão pela admissibilidade no plenário, especialmente sobre os votos de parlamentares indecisos.

Nesse quadro, o time de Temer começa a se mobilizar em busca de um nome que esteja declaradamente disposto ao enfrentamento da denúncia. Um dos perfis que aparecem como opção é o do deputado Carlos Marun (PMDB-MS). Um movimento nesse sentido foi dado ontem pela legenda, quando colocou o parlamentar como titular na CCJ e passou José Fogaça (RS) para a suplência.

A manobra também foi adotada na semana passada pela liderança do Solidariedade. Foi retirado da titularidade o deputado Major Olímpio (SP), declarado opositor de Temer, para assumir o líder da bancada, Áureo Moreira (RJ). Em nota, Áureo declarou que a decisão se baseou na isenção total do partido frente à denúncia. “Avaliamos que, para garantir total isenção ao processo, aqueles que haviam manifestado a intenção de voto não deveriam compor a comissão como titulares”, argumentou o parlamentar.

Dança das cadeiras

No PP alagoano, o líder, Arthur Lira, admitiu que poderá mexer também na comissão. “Nenhum deputado é nato numa comissão, todos estão sujeitos à decisão da liderança. Se for preciso, vai ser mudado”, disse. De acordo com ele, a bancada vai se reunir na próxima semana para decidir a composição e a orientação dos membros da CCJ.

Na avaliação do deputado Júlio Delgado (PSB-MG), já passou o tempo de mudar integrantes da comissão, uma estratégia que pode gerar, inclusive, desavenças entre correligionários. “Não adianta mais, a situação está cada vez mais complicada. Se a primeira denúncia for derrubada, vem a segunda, vêm fatos novos de uma delação, então, eles ficam desmoralizados.”

Mesmo com o clima tenso, aliados de Temer tentam demonstrar otimismo. O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) declarou o ‘já ganhou’, pois, nas contas dele, são 44 votos contra a denúncia na CCJ. Na avaliação de outros parlamentares, o placar está muito apertado, e Temer não poderá contar com mais de 30 votos dos 66 membros da comissão.

Para Delgado, apesar da movimentação dos governistas, não será possível vencer o relatório de Zveiter e a denúncia. “O voto do relator será o vencedor na CCJ, porque há muita pressão popular. Eu, que não sou da comissão, já recebi mensagens do ‘Zveiter, estou de olho em você’”, contou. Ele fez referência a um movimento que começou nesta semana nas redes sociais para cobrar do relator a aceitação da acusação feita pela Procuradoria-Geral da República. Entre as dezenas de postagens que tomaram a página pessoal de Zveiter no Twitter com essa mensagem, estão publicações e vídeos de artistas, como Renata Sorrah, Lázaro Ramos e Tico Santa Cruz.

"Nenhum deputado é nato numa comissão, todos estão sujeitos à decisão da liderança. Se for preciso, vai ser mudado”

Deputado Arthur Lira (PP-AL)