O Estado de São Paulo, n. 45215, 03/08/2017. Economia, p. B3.

 

Governo arrecada apenas R$ 1,7 bi com repatriação

Lorenna Rodrigues/ Idiana Tomazelli

03/08/2017

 

 

Expectativa inicial era de levantar R$ 13 bilhões com o programa; Refis dos Estados e municípios também teve baixa adesão

 

 

Sob pressão para revisar a meta fiscal deste ano e prever um rombo ainda maior do que o déficit de R$ 139 bilhões, a área econômica do governo terá de reconhecer a frustração em mais duas medidas desenhadas para turbinar as receitas em 2017. A segunda fase da repatriação de recursos enviados ilegalmente ao exterior arrecadou apenas cerca de R$ 1,7 bilhão, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’. Já o parcelamento de débitos previdenciários de Estados e municípios teve adesão de menos da metade do público potencial, segundo balanço da Receita Federal.

O governo já havia admitido que a nova edição da repatriação não renderia o esperado aos cofres federais. Inicialmente, a expectativa era obter R$ 12,7 bilhões com a medida (pouco mais da metade fica de fato com a União, uma vez que o dinheiro é dividido com Estados e municípios), mas esse valor foi reduzido a R$ 2,852 bilhões no último relatório de avaliação bimestral de receitas e despesas, divulgado em julho. O resultado final foi ainda menor.

As seguidas frustrações de receitas levaram o Tribunal de Contas da União (TCU) a alertar o governo sobre o risco real de a meta deste ano não ser cumprida. Diante desse problema, a área econômica considera inevitável a mudança para prever um rombo ainda maior, desde que não supere o resultado negativo de R$ 159,5 bilhões obtido em 2016, como antecipou o Estadão/Broadcast.

A Receita Federal ainda não divulgou oficialmente os valores arrecadados com a repatriação e com o Refis para Estados e municípios, cujos prazos de adesão terminaram em 31 de julho. A expectativa é anunciar os dados hoje. No caso da repatriação, 1.915 pessoas físicas e 20 pessoas jurídicas aderiram ao programa. A percepção da área econômica é que a maior parte dos contribuintes que tinham recursos ou ativos não declarados já havia aderido à primeira fase do programa, em 2016, quando foram arrecadados R$ 46,8 bilhões.

 

Parcelamento. Mesmo com descontos de 80% nos juros e de 25% nas multas e pagamento em 200 prestações, menos da metade dos 4,5 mil municípios e Estados que devem ao INSS aderiram ao Refis. A expectativa era de que houvesse pelo menos 3 mil optantes, principalmente porque o programa foi negociado com os municípios e anunciado com pompa pelo presidente Michel Temer na Marcha dos Prefeitos em Brasília.

Segundo a Receita, apenas 1.873 municípios e 9 Estados pediram para entrar no programa, o que deve se traduzir em mais uma baixa no Orçamento deste ano. A estimativa do governo era obter R$ 2,2 bilhões, mas na semana passada menos de 10% desse valor havia ingressado nos cofres do governo.

Preocupado com a baixa adesão, o Fisco chegou a enviar cartas aos prefeitos alertando para os riscos de não regularização da situação fiscal. Quem não pagar a dívida está sujeito a bloqueios em repasses de verbas importantes, como o Fundo de Participação dos Municípios, que para muitas prefeituras é a principal fonte de recursos.

A Confederação Nacional dos Municípios ainda tenta dilatar o prazo de adesão ao programa no Congresso para evitar sanções. A MP ainda precisa ser votada pela comissão mista e pelos plenários da Câmara e do Senado, o que abre a possibilidade de mudanças. Mas o governo tem demonstrado que não pretende concordar com alterações nas medidas que permitem parcelamentos tributários.

 

Votação. Em março, Senado aprovou projeto que reabria prazo para repatriação

 

Adesão

1.915

pessoas físicas aderiram ao programa de repatriação de recursos

 

20

pessoas jurídicas aderiram

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Discussão sobre Previdência será retomada

Adriana Fernandes/ Felipe Frazão

03/08/2017

 

 

Barrada a denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara, a equipe econômica quer fazer avançar no Congresso pautas que podem reforçar os cofres da União, como o projeto que permite o parcelamento de dívidas tributárias e previdenciárias (Refis) – na forma como foi enviado pelo governo e não na versão desfigurada aprovada na comissão –e o fim da desoneração da folha de pagamento para 50 setores, mesmo que os efeitos só comecem em 2018.

A estratégia principal será retomar nos próximos dias as negociações sobre a reforma da Previdência. A equipe econômica, que acha possível aprovar a reforma até outubro, conta com a versão da comissão especial, apesar de os deputados dizerem que a proposta terá de ser mais enxuta.

O envio da reforma tributária ao Congresso não está nos planos do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, antes da votação da reforma da Previdência. Por isso, a área econômica não viu com bons olhos as declarações do ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, de que a reforma tributária “pode passar à frente” e ser votada antes.

“Temos de avaliar qual é a mais fácil de passar”, disse Imbassahy. Ele afirmou que a reforma tributária exige menos votos que as mudanças nas regras de concessões de pensões e aposentadorias, que precisam ser aprovadas por 308 votos na Câmara e 49 no Senado.

O ministro afirmou, porém, que a reforma da Previdência continua como “prioritária” e vinculou os cortes orçamentários ao adiamento da votação depois que veio a público, em maio, a delação de Joesley Batista contra o presidente Michel Temer. Imbassahy admitiu que pode haver mudanças no formato da reforma para facilitar a aprovação, sem detalhar alteração de conteúdo.