O Estado de São Paulo, n. 45219, 07/08/2017. Política, p.A8

 

 

Amazonino e Braga vão para o 2º turno no Amazonas

Adversários de eleição suplementar, que ocorre após cassação de titular por compra de votos, foram aliados até 1997

Por: Pedro Venceslau

 

Pedro Venceslau

 

Dois caciques da política do Amazonas vão se enfrentar no segundo turno da eleição suplementar para o governo do Estado, marcado para o dia 27 de agosto. Com 99% das urnas apuradas, o ex-governador Amazonino Mendes (PDT) venceu o primeiro turno com 38,3% dos votos válidos, o que equivale a 574.395 votos. Amazonino vai disputar o segundo turno com o também ex-governador Eduardo Braga (PMDB), que obteve 27,4% dos votos (372.941 votos). A ex-deputada Rebecca Garcia (PP) ficou em terceiro, com 17,6%, seguida por José Ricardo (PT), 11,9% dos votos.

Amazonino classificou a votação como um “reconhecimento”. Na entrevista coletiva após a divulgação do resultado, ele fez um aceno a Rebecca Garcia, terceira colocada. “Não é propósito, nem despropósito procurar Rebecca. Respeito muito essa senhora. Fez uma campanha limpa”, disse. “Apoiar é uma questão de consciência.”

Candidata a vice de Braga na disputa pelo governo em 2014, a ex-deputada foi indicada pelo peemedebista para o comando da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) no governo da presidente cassada Dilma Rousseff.

Em 2017, porém, ela rompeu com o senador, que aliou-se ao PCdoB e o PR. Braga escolheu como candidato a vice o deputado estadual Marcelo Ramos (PR), que até recentemente era o seu mais feroz adversário.

Braga foi vice-prefeito de Amazonino em 1992 e os dois foram aliados até 1997.

Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir no começo de maio, por 5 votos a 2, manter a cassação do governador José Melo (PROS) por compra de votos na eleição de 2014, o cenário local passou por uma mudança de paradigmas. Adversários políticos históricos se uniram enquanto o grupo que disputou junto as eleições de 2014 se desfez neste ano.

“Marcelo não pensa igual a mim, mas somamos propostas diferentes por algo democrático. Houve humildade dos dois lados”, disse Braga ao Estado. A eleição registrou uma grande abstenção: 24% dos votos , ou 567.341. Mais de 12% dos eleitores, 219.104 amazonenses, votaram nulo, e 61.794 (3,5%) em branco.

 

Judicialização. Sobre a insegurança jurídica do pleito, que chegou a ser suspenso por determinação do ministro Ricardo Lewandowski em 28 de junho, Braga declarou que a Justiça tardou, mas acabou legitimando a decisão. “José Melo foi o primeiro governador cassado da República e sucedido por eleição direta. A decisão do TSE gera uma jurisprudência. Até 2014, quem tomava posse era o segundo colocado”, afirmou.

O ministro do STF definiu, porém, que o vencedor do segundo turno não poderá tomar posse até que todos os recursos do governador cassado sejam julgados.

Em visita a Manaus, ontem, o ministro Gilmar Mendes, presidente do TSE, disse que os embargos de declaração serão julgados em duas semanas. “Essa questão está praticamente resolvida. Me parece que essa decisão é definitiva. Claro que pode haver recursos ao STF, mas a reclamação (embargos de declaração) é mais de índole formal, o fato de ter se mandado cumprir o julgado sem a publicação do acórdão”, afirmou.

“Entre mortos e feridos, nos salvamos todos, diante da perplexidade do processo. Resolvemos bem uma tensão constitucional”, afirmou o presidente do TSE em entrevista coletiva. Afastado da política nos últimos anos e com a saúde frágil, Amazonino também aliou-se ao um antigo adversário nesta eleição: o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, do PSDB.

O PT entrou na disputa com uma chapa “pura”, mas o candidato da sigla, José Ricardo, escondeu o nome do partido na campanha. Ele chegou em quarto lugar, com 12% dos votos.

 

Segundo turno

“Não é propósito, nem despropósito procurar Rebecca (Garcia) (...) Apoiar é uma questão de consciência.”

Amazonino Mendes

CANDIDATO DO PDT