O globo, n.30720 , 15/09/2017. PAÍS, p. 4

Temer manterá ministros, apesar da denúncia

JEFERSON RIBEIRO

15/09/2017

 

 

Em fevereiro, presidente havia se comprometido a afastar auxiliares

Embora tenha assumido o compromisso público de afastar qualquer ministro que fosse alvo de denúncia criminal, o presidente Michel Temer decidiu que não fará nada contra seus principais auxiliares, os ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e da Secretaria-Geral, Moreira Franco. A decisão de afastar os integrantes do primeiro escalão denunciados foi anunciada em fevereiro deste ano, quando Temer ainda não aparecia nas investigações da Operação Lava-Jato. À época, inclusive, o presidente lembrou que, uma vez que a Justiça aceitasse pedidos formulados pelo Ministério Público Federal, não restaria outra alternativa, a não ser a demissão do integrante do governo.

— Se houver denúncia, o que significa um conjunto de provas eventualmente que possam conduzir a seu acolhimento, o ministro que estiver denunciado será afastado provisoriamente. Depois, se acolhida a denúncia e aí sim a pessoa, no caso o ministro, se transforme em réu, estou mencionando os casos da LavaJato, se transformando em réu, o afastamento é definitivo — afirmou o presidente em rápido pronunciamento no Palácio do Planalto, em fevereiro.

À época, a delação da Odebrecht acabara de ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e ao menos oito ministros do governo eram alvo dos delatores. Temer também tentava se desvencilhar das críticas por ter nomeado Moreira Franco para o primeiro escalão do governo, justamente depois que foi revelado que seu nome era implicado pelos executivos da empreiteira. A nomeação chegou a ser suspensa pela Justiça, que via no ato uma ação de obstrução à Justiça, já que o aliado ganharia foro privilegiado e só poderia ser julgado no STF.

Desde então, até mesmo Temer foi denunciado por corrupção pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e só não continuou sendo investigado porque a Câmara dos Deputados não autorizou o andamento da denúncia. Agora, além dos dois ministros, o presidente foi novamente denunciado.

Padilha e Moreira são considerados os auxiliares mais próximos ao presidente e convivem com Temer há décadas no comando do PMDB, que nessa semana também virou alvo de denúncia específica da PGR na investigação que ficou conhecida como “quadrilhão do PMDB”. Temer seria o chefe do quadrilhão.

Outros seis ministros do governo são alvo de inquérito no STF, sem denúncia formalizada: Gilberto Kassab (PSD), da Ciência e Tecnologia; Helder Barbalho (PMDB), da Integração Nacional; Aloysio Nunes (PSDB), das Relações Exteriores; Blairo Maggi (PP), da Agricultura; Bruno Araújo (PSDB), das Cidades; e Marcos Pereira (PRB), da Indústria e Comércio Exterior.

Desde o início da gestão, em maio do ano passado, oito ministros já foram exonerados. A Presidência da República não informou a razão pela qual Temer decidiu não cumprir o compromisso assumido em fevereiro.