Decisão de participar do G20

Rosana Hessel

04/07/2017

 

 

Uma semana após ter cancelado sua ida à cúpula de líderes do G20, o presidente Michel Temer voltou atrás e resolveu viajar à Alemanha para participar do encontro do grupo das 19 principais economias desenvolvidas e emergentes do planeta mais a União Europeia, que ocorrerá nos próximos dias 7 e 8, em Hamburgo.

O peemedebista embarca na quinta-feira pela manhã e retorna no sábado, após o almoço. Ele não tem encontros bilaterais agendados com líderes do grupo, segundo fontes palacianas. O presidente deverá participar apenas dos compromissos previstos na agenda da cúpula.

Se Temer não fosse, seria a primeira vez que um presidente brasileiro não participaria da reunião de líderes do G20 desde a instauração do grupo, em 2008, no meio da hecatombe financeira global. No ano passado, assim que assinou o termo de posse, após o impeachment de Dilma Rousseff, em 31 de agosto, o peemedebista voou para a China, a fim de se reunir com os líderes do G20, em Hangzhou. Em território chinês, ficou no canto da foto oficial e não no centro, como a sua antecessora costumava ficar.

Para o cientista político David Fleisher, professor da Universidade de Brasília (UnB), o presidente não deixará de enfrentar críticas de seus pares do G20. “Temer não tem nada positivo para mostrar, mas é importante a presença dele na cúpula do G20 porque o país está pleiteando entrar na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e vai ter que se enquadrar aos padrões da entidade, entre eles, o combate à corrupção”, afirmou.

 

Balanço

Na avaliação do diplomata e economista Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Columbia University, em Nova York, o problema de Temer não ir ao G20 seria maior do que o de ele ir no atual cenário internacional. “Se resolvesse ficar, vestiria a roupa da crise e seria pior para a imagem do país”, avaliou. No entanto, o acadêmico reconheceu que Temer vai ter pouco a mostrar aos parceiros do grupo. “A expectativa a curto prazo é de que a equipe econômica continuaria com uma eventual saída de Temer e, por isso, a bolsa e o dólar não têm oscilado muito”, explicou Troyjo. Para ele, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá ser mais assediado para encontros em Hamburgo do que Temer.

A justificativa para que o peemedebista não viajasse para a Alemanha era que ele se concentraria na votação da reforma trabalhista no Senado e na análise pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), da Câmara dos Deputados, da denúncia de corrupção passiva feita contra ele pela Procuradoria-Geral da República. A expectativa do Palácio do Planalto é que essas votações espinhosas ocorram apenas na semana que vem, o que permitiria a viagem para o G20.

 

 

Correio braziliense, n. 19761, 04/07/2017. Política, p. 3.