Todas as atenções para Sergio Zveiter

Luana Melody Brasil e Natália Lambert

06/07/2017

 

 

A vida do deputado carioca de segundo mandato Sergio Zveiter mudou da noite para o dia. Desde que o presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), anunciou, às 18h de terça-feira, que o colega de partido seria o responsável por pedir o andamento ou o arquivamento da denúncia de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer, o telefone não parou de tocar. As mensagens pipocaram. Até um assessor de imprensa foi contratado para ajudar o parlamentar a organizar as demandas.

O primeiro dia como relator da denúncia começou cedo. Zveiter chegou por volta das 9h à Câmara, passou rapidamente pelo gabinete no 4º andar do anexo IV da Casa e foi para a CCJ. Numa sala mais distante, ocorria a reunião de líderes que tratava do rito da denúncia. Ele preferiu não participar para não interferir na decisão. Na maior parte do dia, ficou por ali mesmo, no colegiado, conversando com colegas.

Depois que o advogado de Michel Temer Antônio Carlos Mariz entregou a defesa na comissão, por volta das 16h, Zveiter se reuniu com Pacheco para definir um prazo de entrega do parecer. A data ficou acertada para segunda-feira. O relator, porém, deixou bem claro que pode precisar de mais tempo e que isso só será definido depois que analisar a defesa.

Nos corredores da Câmara, colegas o cumprimentavam e o parabenizavam pelo papel momentâneo de protagonismo, no qual parece estar bem à vontade. De muitos ouviu conselhos sobre a responsabilidade que tem em mãos e até toques paternais como “juízo, hein” ou “vê lá o que vai fazer, viu?”. Até por causa do assédio, Zveiter não decidiu se vai trabalhar no relatório em Brasília ou no Rio de Janeiro. Paz, ele sabe que não terá em nenhum dos dois lugares. Entre as dezenas de mensagens e ligações recebidas ao longo do dia, garante que nenhuma foi do presidente da República ou de algum de seus ministros mais próximos. O deputado repete em entrevistas que não se sente intimidado por nenhum dos lados, nem pelo Planalto nem pela PGR.

Apesar de interlocutores do Planalto não terem recebido de forma muito amistosa a notícia da escolha de Zveiter, o líder da maioria na Câmara, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) avalia o colega como “equilibrado e sensato”. Ribeiro disse que não há motivo para achar que ele será suscetível aos conflitos políticos e jurídicos que dão o tom da relação entre o Executivo e o Ministério Público. Além disso, paira sobre os governistas a desconfiança da amizade entre Zveiter e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “O momento exige alguém com a cabeça no lugar, e ele é essa pessoa. Não vejo isso de que vai beneficiar quem quer que seja”, frisou Ribeiro.

 

 

Correio braziliense, n. 19763, 06/07/2017. Política, p. 4.