Correio braziliense, n. 19772, 15/07/2017. Brasil, p. 6

 

Polêmica em morte dentro de delegacia

Priscila Rocha e Anderson Costolli 

15/07/2017

 

 

Motorista bate em carro de policial e, dentro de unidade em Sobradinho, aparece morto segundo autoridades, ele cometeu suicídio. Advogado da família diz que deve processar o Estado, uma vez que estava sob a tutela do governo

Um caso de prisão e morte dentro de uma delegacia no Distrito Federal causou revolta na família da vítima. O motorista Luiz Cláudio Rodrigues, 48 anos, acabou detido por dirigir embriagado e bater no carro particular de um policial, por volta das 15h de ontem. A família foi chamada e, após o pagamento da fiança na 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho), o cunhado o encontrou sem vida dentro da cela.

Marcos Eustáquio, 48 anos, autônomo, cunhado de Luiz Cláudio, conta que os familiares chegaram à unidade policial por volta das 16h. Segundo ele, nenhum parente teve autorização do delegado para vê-lo enquanto detido, apesar de a vítima não ter passagem ou apresentar qualquer sinal de periculosidade. “Ele tem 1,67m, é franzino. Não apresenta perigo nenhum”, argumentou Marcos. Na cela, foi informado que Luiz Cláudio havia se matado.

Segundo o delegado plantonista da 13ª DP, Robert Araújo Menezes, o teste de bafômetro da vítima apontou 1,35 miligrama por litro de ar. Menezes também apontou que a morte aconteceu entre 18h e 18h40. “Quem o viu morto primeiro foi o escrivão, que me chamou. Logo depois, chamei o cunhado da vítima. Infelizmente, uma pessoa não precisa de uma forca para se enforcar”, afirmou o policial.

“Ele se enforcou com a própria camisa. Geralmente, a polícia não deixa isso acontecer. Ele estava sob a tutela do Estado. Os policiais são tão safos que, quando prendem alguém, retiram qualquer coisa que apresente risco: cadarço, cinto, cordões... Não fizeram isso”, lamentou Marcos Eustáquio.

Luiz Cláudio faria 49 anos neste sábado. Ele era motorista terceirizado da Caixa Econômica Federal (CEF) há 28 anos. Atualmente, cuidava da presidência do banco. “Ele era uma pessoa muito querida. Todo mundo está muito desacreditado do que aconteceu. É muito triste”, lamentou o cunhado.

Advogado e primo de Luiz Cláudio, Paulo César Machado Feitoza disse que, em um primeiro momento, a família pretende processar o Estado, uma vez que Luiz Cláudio estava sob a tutela do governo. “A minha preocupação é que a perícia vem da própria instituição, da Polícia Civil do DF, que está no olho do furacão aqui. Outra coisa que me preocupa é o descaso: o fato de o delegado ter saído à tarde e só voltar por volta das 23h. Isso é preocupante”, diz Machado.