O Estado de São Paulo, n. 45220, 08/08/2017. Política, p.A4

 

 

Temer faz agrado a Doria por reforma da Previdência

Aliados. Na busca por apoio para a agenda no Congresso, presidente participa de evento em São Paulo e elogia a ‘visão nacional’ do prefeito tucano; Alckmin não vai à cerimônia

Por: Ricardo Galhardo

 

Ricardo Galhardo

 

Em meio à divisão do PSDB sobre a permanência no governo, à indefinição quanto ao candidato tucano à Presidência em 2018 e a necessidade de recompor a base aliada para aprovar a reforma da Previdência, o presidente Michel Temer distribuiu ontem elogios e alçou o prefeito de São Paulo, João Doria, à condição de líder nacional.

Temer e Doria assinaram na sede da Prefeitura um acordo que prevê a concessão ao Município de parte do Campo de Marte, hoje sob controle da Força Aérea, para construção de um parque e de um museu aeroespacial. A disputa judicial entorno da área vem desde 1958 .

Segundo auxiliares do presidente, o gesto tem por objetivo amarrar o apoio de Doria à reforma da Previdência.

“Vejo aqui um parceiro e um companheiro. Alguém que compreende como ninguém os problemas do País. Porque a visão do João Doria é municipalista, o que é fundamental, mas uma visão nacional”, disse Temer durante o evento em São Paulo.

O primeira gesto do governo Temer de se aproximar de Doria aconteceu no sábado passado, quando o Itamaraty realizou reunião do Mercosul sobre a Venezuela na Prefeitura de São Paulo.

O presidente espera pelos votos da bancada do PSDB para aprovar a reforma mais polêmica de seu governo. Dos 13 deputados tucanos de São Paulo apenas uma, Bruna Furlan, votou contra o prosseguimento da denúncia contra Temer por corrupção passiva. O Planalto avalia que, embora tenham votado contra o governo, estes parlamentares podem apoiar a reforma – uma proposta de emenda à Constituição necessita de um mínimo de 308 votos na Câmara.

Integrantes da equipe de Doria afirmam que o prefeito vai atuar para que a bancada do PSDB dê os votos necessários para a mudança nas regras previdenciárias. Pelos cálculos do governo, levando em conta a votação da admissibilidade da denúncia contra Temer, na semana passada, faltam 22 votos para aprovação da reforma. O governo, no entanto, quer garantir o apoio de ao menos mais 40 deputados para ter margem de manobra.

Temer elegeu Doria como interlocutor com os deputados tucanos porque hoje sua identificação é maior com o prefeito do que com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) que age para ser candidato à Presidência em 2018 e mantém uma postura mais crítica ao governo federal. “Candidatura é o partido que decide. Vamos discutir no momento certo”, afirmou Alckmin, que era esperado na agenda com Temer e evitou comentar a possibilidade de seu afilhado político concorrer à Presidência.

O governador não compareceu ao evento de ontem, embora seu nome estivesse na agenda do prefeito. Segundo Doria, o governador “foi generoso” e decidiu na véspera que não iria ao ato para não ofuscar o papel da Prefeitura.

 

Conciliação. Tanto o prefeito quanto o presidente usaram o simbolismo do ato para reforçar o discurso em torno da conciliação nacional, presente nos primeiros pronunciamentos de Temer ainda durante o governo interino no processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff.

Com isso, Temer, que tem apenas 5% de aprovação segundo o Ibope, espera dar um ar de normalidade ao governo, que na semana passada ainda vivia a apreensão da votação da denúncia por corrupção.

O presidente condenou o “emocionalismo” que tem pautado o debate. “A história do nós contra eles não pode prevalecer”, disse, fazendo referência a uma crítica recorrente aos discursos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Em SP. Michel Temer e João Doria assinaram um acordo que prevê concessão à Prefeitura de parte do Campo de Marte

 

 

 

 

 

 

Presidente retribui lealdade do prefeito

Por: Pedro Venceslau

 

BASTIDORES: Pedro Venceslau

 

Aliados e auxiliares do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), comemoraram o discurso do presidente Michel Temer. A avaliação no entorno de Doria é de que a fala do presidente foi “mais um tijolo” na construção da candidatura presidencial do prefeito, que foi eleito em 2016 e está em seu primeiro cargo eletivo. Doria se empenhou na articulação envolvendo o Campo de Marte, uma pendência entre o governo federal e a Prefeitura que se arrasta há décadas.

Segundo aliados do presidente, o discurso de Temer foi uma retribuição à lealdade de Doria durante a crise deflagrada após a divulgação do áudio de Joesley Batista, da JBS. Enquanto parte do partido defendeu o rompimento com o governo, Doria advogou pela permanência dos tucanos pelo menos até a aprovação das reformas. A atuação de Doria foi considerada pelo Planalto determinante para impedir que o PSDB de São Paulo declarasse uma posição formal pelo rompimento.

Após o evento com Temer, Doria embarcou para Salvador, em seu avião particular, com o ministro Antônio Imbassahy, da Secretaria de Governo da Presidência. Ainda em agosto, Doria vai a Campina Grande, na Paraíba, e também a Rondônia. Em outra ponta, governadores têm sinalizado apoio ao projeto do prefeito. No sábado, Davi Almeida (PSD), governador do Amazonas, disse que Doria é um bom candidato para 2018. Na semana passada, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), fez um discurso na mesma linha durante almoço com empresários, em Curitiba. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), padrinho político de Doria, por sua vez, também planeja reforçar a agenda nacional.

 

 

 

 

 

Doria é atingido por ovo em Salvador

Em visita a Salvador, ontem, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), foi atingido por um ovo em protesto realizado por manifestantes na frente da Câmara pouco antes de ele receber título de cidadão soteropolitano. Segundo o tucano, que estava ao lado do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), ele foi vítima de um ato de “poucos manifestantes de esquerda, agressivos, falando palavrões e jogando ovos, buscando a intolerância”. “Esse é o caminho do Lula, do PT, das esquerdas, que querem isso”, disse Doria, em vídeo nas redes sociais.