O Estado de São Paulo, n. 45220, 08/08/2017. Política, p.A8

 

 

PF atribui a Gleisi corrupção e lavagem

Por: Breno Pires / Rafael Moraes Moura / Luiz Vassallo / Julia Afonso

 

Breno Pires

Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

Luiz Vassallo

Julia Afonso

 

No relatório de conclusão de um inquérito instaurado no Supremo Tribunal Federal, a Polícia Federal atribuiu à senadora Gleisi Hoffmann (PTPR), presidente nacional do partido, a prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O caso em questão, que tramita em segredo de Justiça no STF, apura irregularidades na campanha eleitoral de 2014 ao Senado.

A investigação remonta a fevereiro de 2016, quando a PF apreendeu documentos na residência de Maria Lúcia Tavares, ex-secretária do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como “departamento de propina” da empreiteira. Entre eles, planilhas relatando dois pagamentos de R$ 500 mil cada a uma pessoa de codinome “Coxa”, além de um número de celular e um endereço de entrega.

Segundo a PF, a investigação identificou que a linha telefônica pertencia a um dos sócios de uma empresa que prestou serviços de propaganda e marketing na última campanha de Gleisi.

A PF informou que pôde comprovar a existência de seis pagamentos no mesmo valor, além de um pagamento de R$ 150 mil em 2008 e duas parcelas de R$ 150 mil em 2010. “Também foram identificados os locais onde os pagamentos foram realizados e as pessoas responsáveis pelo transporte de valores. Essas tabelas também foram apresentadas pela construtora no momento em que foi firmado termo de colaboração premiada”, afirmou a PF.

“Há elementos suficientes para apontar a materialidade e autoria dos crimes de corrupção passiva qualificada e lavagem de dinheiro praticados pela senadora, seu então chefe de gabinete, Leones Dall Agnol, e seu marido, Paulo Bernardo da Silva, além dos intermediários no recebimento, Bruno Martins Gonçalves Ferreira e Oliveiros Domingos Marques Neto. Os autos também comprovam que a parlamentar e seu marido, juntamente com Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Valter Luiz Arruda Lana, foram responsáveis pelo cometimento de crime eleitoral”, disse a PF em nota enviada à imprensa.

Em nota, a defesa negou que a senadora tenha cometido crime. “A defesa entende que não há elementos nos autos que autorizem a conclusão alcançada pela Polícia Federal. Não foi praticada qualquer irregularidade pela senadora”, afirmou o advogado da petista, Rodrigo Mudrovitsch. As defesas dos outros citados não foram localizadas.

 

Ação penal. Gleisi já é ré em uma ação penal no STF junto com o marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, e o empresário Ernesto Kugler. Eles são acusados de solicitação e recebimento de R$ 1 milhão do esquema na Petrobrás para a campanha de Gleisi ao Senado, em 2010.

As testemunhas estão sendo ouvidas, e Gleisi deverá ser interrogada no fim do mês. É possível que o julgamento ocorra ainda neste ano. Os acusados negam irregularidades.