O globo, n. 45220, 11/08/2017. Política, p.A4

 

 

Temer e DEM tentam atrair Doria para a eleição de 2018

Articulações. Presidente diz a prefeito de SP que ‘as portas do PMDB estão abertas’ para ele concorrer ao Planalto no ano que vem; partido de Maia também sonda tucano

Por: Pedro Venceslau / Ricardo Galhardo / Alberto Bombig

 

Pedro Venceslau

Ricardo Galhardo

Alberto Bombig

 

A disputa interna do PSDB pela vaga de candidato à Presidência em 2018 chegou a partidos aliados dos tucanos. DEM e PMDB, que integram a núcleo duro de apoio ao governo Michel Temer, se aproximaram do prefeito João Doria e sinalizaram com a possibilidade de lançá-lo candidato ao Planalto. A abordagem peemedebista foi feita pelo próprio presidente Michel Temer (PMDB). Ele disse ao prefeito que “as portas do PMDB estão abertas” para o tucano disputar a Presidência da República no ano que vem.

O “convite” foi feito durante uma conversa entre eles na segunda-feira na Prefeitura, pouco antes de um evento no qual o presidente distribuiu publicamente afagos a Doria, segundo relatos de quem estava no local. Procurada, a assessoria do Planalto negou o convite.

O DEM também sondou Doria sobre a disputa presidencial tendo no horizonte uma dobradinha entre ele e um quadro do partido em 2018. No limite, o DEM também está de portas abertas a Doria caso ele não consiga se candidatar a presidente pelo PSDB em 2018. Os nomes citados para compor a chapa são o prefeito de Salvador, ACM Neto, e o ministro da Educação, Mendonça Filho.

Tucanos ligados ao prefeito avaliam que a chapa com um deles teria força no Nordeste. Em contrapartida, Doria apoiaria o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na disputa pelo governo do Rio, e o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) para o governo de Goiás.

Questionado sobre a aproximação, o senador José Agripino (RN), presidente do DEM, também negou que o partido tenha convidado Doria. Assim como Temer, a cúpula do DEM quer evitar desgaste com o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Por isso, as negativas públicas e os convites em privado.

O prefeito tem dito que não vai entrar na disputa se Alckmin, que é seu padrinho político, se colocar como candidato. Porém, cada vez mais ele tem adotado discursos e agendas de quem pretende concorrer.

A possibilidade de deixar o PSDB também é rechaçada por Doria. Ontem, durante evento em São Paulo, o prefeito voltou a descartar a saída do partido, mas admitiu o interesse do PMDB e do DEM. “Não tenho intenção de deixar o PSDB. É o meu partido. As portas (do PMDB e do DEM) foram abertas, o que me deixa muito feliz. PMDB e DEM são parte da nossa base em São Paulo”, disse.

 

Apoios. Para aliados de Doria, a mudança de sigla, porém, pode ocorrer caso o governador não se apresente como candidato e, mesmo assim, a cúpula tucana vete uma candidatura do prefeito. São cada vez mais fortes, no entanto, as pressões para que Alckmin desista de concorrer e indique Doria, que trabalha para reunir apoios externos e crescer nas pesquisas.

O nome do prefeito, contudo, enfrenta resistência entre setores tucanos. Presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati (CE), conforme apurou o Estado, disse em reunião interna que Alckmin “tem preferência” na fila na escolha do candidato.

O grupo dos “tucanos históricos” de São Paulo, do qual fazem parte o ex-governador Alberto Goldman e José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, também não aceita a opção Doria. Presidente licenciado do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), que mantém influência na sigla, é outro que entrou em rota de colisão com o prefeito após Doria defender publicamente seu afastamento do comando do PSDB.

 

Reação. O assédio a Doria e a deferência de Temer ao prefeito desagradaram a aliados de Alckmin, que está no quarto mandato no governo paulista e se articula para ocupar a vaga do PSDB na disputa pelo Planalto. Tucanos com trânsito no Bandeirantes reclamam dos movimentos do prefeito e fazem críticas à gestão Doria. “Não mudou nada. Seguimos amigos e unidos”, disse o prefeito ao Estado. A avaliação no entorno de Alckmin, no entanto, é de que Doria está decidido a disputar a Presidência, dentro ou fora do PSDB. Para não perder espaço, o governador vai intensificar a agenda de viagens pelo Brasil e as conversas partidárias. /COLABOROU GILBERTO AMENDOLA

 

 

 

 

 

Atrativos do prefeito são pesquisas e nome fora da Lava Jato

Por: Alberto Bombig

 

ANÁLISE: Alberto Bombig

 

É simples entender o fascínio que João Doria exerce em partidos do campo da centro-direita. Ele permanece fora da Lava Jato, está à frente do terceiro maior orçamento do País, tem dinheiro e contatos para financiar campanhas e conta com um bom capital de votos (pelo menos é o que indicam até agora as pesquisas), algo raro nos desgastados DEM e PMDB.

Como gosta de dizer o cientista político Murilo de Aragão, Doria, por enquanto, trafega sozinho (e em alta velocidade) na faixa do eleitorado menos politizado que não gosta nem do ex-presidente Lula nem do deputado Jair Bolsonaro.

Portanto, na pior hipótese para esses partidos, uma candidatura Doria os colocaria novamente no jogo presidencial como atores principais, algo que eles não experimentam desde 1989, no caso do DEM, e desde 1994, no caso do PMDB.

Do lado de Doria, a aproximação com esses dois partidos aumenta radicalmente o poder dele na divisão de forças dentro do PSDB. Torna-se mais um ativo do prefeito na guerra silenciosa com o governador Geraldo Alckmin.

O DEM ganhou um papel de destaque no governo Michel Temer e, como consequência, na costura das alianças eleitorais de 2018. Se o partido se acertar com o PMDB e ambos decidirem atuar em bloco, eles serão determinantes, seja para influenciar na escolha do candidato tucano, seja para lançar um nome próprio e bagunçar de vez o já confuso cenário eleitoral.

Como essa eventual divisão tenderia a beneficiar o campo do PT e da esquerda, não é um delírio afirmar que João Doria candidato pelo DEM com apoio do PMDB ou vice-versa poderia, no limite, obrigar o PSDB a indicar o vice dele numa chapa que levasse adiante as “conquistas” do Centrão e do governo Temer.