O Estado de São Paulo, n. 45218, 06/08/2017. Política, p. A13.

 

Alianças no AM reúnem adversários nacionais

Pedro Venceslau

06/08/2017

 

 

As alianças feitas às pressas para a campanha suplementar em Manaus reuniram no mesmo palanque antigos adversários de partidos que, em alguns casos, são antagônicos no cenário nacional.

O prefeito de Manaus, Arthur Virgilio (PSDB), aliou-se com o ex-governador Amazonino Mendes, seu rival histórico na política local que, agora, é candidato pelo PDT com apoio do DEM. No plano federal, seja no Congresso ou nas articulações para as eleições presidenciais de 2018, o PDT está no campo oposto ao do PSDB e do DEM.

“Eu disse com clareza para o Amazonino, de quem sempre fui adversário, que nosso compromisso foi para 2017, e não entra em 2018. Apoiamos um candidato que não tem pretensões de se reeleger”, disse Virgilio. O tucano desconversou, no entanto, sobre a possibilidade de disputar o governo estadual no ano que vem. “Não penso em ser candidato.”

O ex-governador Eduardo Braga, do PMDB, tem como vice Marcelo Ramos (PR), que em campanhas passadas fez críticas a ele. Adversário do PMDB em Brasília, o PCdoB está no palanque de Braga agora. Já o PT, aliado histórico dos PCdoB, lançou uma chapa pura encabeçada por José Ricardo.

“Aqui os sinais são muito trocados. Essa é uma característica da política do Amazonas”, disse a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). “Nosso acordo com Braga passou pela oposição às reformas do governo Michel Temer”, afirmou a senadora sobre a aliança.

No PMDB, Braga faz parte da mesma ala do senador Renan Calheiros (AL), que faz oposição ao Planalto. O fato de Braga ser do PMDB foi explorado pelo PT na campanha eleitoral na TV, o que levou o peemedebista a ganhar direito de resposta.

“O PT saiu sozinho porque não conseguiu fazer coligação com um espectro mais à esquerda”, disse o sociólogo Luiz Fernando Souza, da Universidade Federal do Amazonas.

 

Disputa

 

Candidatos ao governo do Estado durante debate realizado na quinta-feria passada

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Candidatos que lideram disputa são ex-aliados

06/08/2017

 

 

Formados às pressas para a eleição suplementar no Estado, palanques dos candidatos unem antigos rivais e partidos com vertentes antagônicas

 

 

Os três candidatos ao governo do Amazonas na eleição suplementar marcada para hoje mais bem posicionados nas pesquisas de opinião – Amazonino Mendes (PDT), Rebecca Garcia (PP) e Eduardo Braga (PMDB) – foram, em algum momento, do mesmo grupo político. Tudo começou em 1982, no período da redemocratização, quando Gilberto Mestrinho, então líder de oposição à Arena, elegeu-se governador pelo PMDB. Amazonino Mendes, seu aliado, foi também seu herdeiro político e elegeu-se governador do Amazonas e prefeito de Manaus.

No último debate, na quintafeira passada, Braga e Rebecca foram os alvos preferenciais dos adversários, que lembraram justamente que a dupla já esteve junta em eleições passadas. O ex-prefeito Amazonino Mendes foi poupado.

 

Segurança pública. Durante a campanha ao governo do Estado, Rebecca, Amazonino, Braga e os outros candidatos focaram na segurança pública, tema seguido pela economia. Segundo o Atlas da Violência de 2017, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Manaus teve o quinto maior crescimento do País em homicídios. Em duas semanas, os jornais A Crítica e Manaus Hoje, os dois maiores da região, noticiaram dez casos de estupro.

Outro tema relacionado à segurança pública que mobilizou os candidatos são os presídios. Em janeiro, o Amazonas registrou três violentas rebeliões em penitenciárias em menos de 24 horas. O episódio jogou luz sobre o polêmico contrato do governo com a empresa Umanizzare Gestão Empresarial, que administra o Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), onde uma rebelião deixou 56 presos mortos.

No último debate entre os candidatos, a empresa foi citada. “São R$ 5.100 por preso no presídio dominado por xerifes do tráfico no contrato da Umanizzare”, disse o candidato Luiz Castro, da Rede. “A Umanizzare é um câncer. Paga mais que o dobro do resto do Brasil”, afirmou o candidato Marcelo Serafim (PSB). A empresa não se manifestou.

Para o deputado estadual David Almeida (PSD), que tornouse governador do Estado em maio após ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassar o mandato de José Melo (Pros) por compra de votos, “a eleição foi ignorada em nível nacional”. Ele admite que a compra de votos é uma prática que ainda existe na eleição estadual. “Essa prática está enraizada em todo o Brasil. Aqui no Amazonas ainda tem a questão geográfica.” / P. V. , ENVIADO ESPECIAL

 

“Essa prática (compra de votos) está enraizada em todo o Brasil. Aqui no Amazonas ainda tem a questão geográfica.”

David Almeida (PSD)

GOVERNADOR DO AMAZONAS