O Estado de São Paulo, n. 45217, 05/08/2018. Política, p. A6.

 

Bendine tinha ‘conta de propina’, afirma Lava Jato

Julia Affonso/ Luiz Vassallo/ Ricardo Brandt

05/08/2017

 

 

Força-tarefa aponta movimentação de valores feita pelo executivo e operadores; MPF diz que dinheiro bancou hospedagem em bangalôs

 

 

A força-tarefa da Operação Lava Jato diz que “há fortes indicativos” de que o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás Aldemir Bendine tinha uma “conta-corrente de propina” com os operadores André Gustavo e Antônio Carlos Vieira da Silva, que são irmãos. Uma parte do dinheiro, segundo o Ministério Público Federal, foi usado também para bancar hotéis para Bendine e a família.

Bendine foi preso na semana passada, na Operação Cobra, 42.ª fase da Lava Jato. Ele é suspeito de receber R$ 3 milhões em propina da Odebrecht.

A força-tarefa da Lava Jato encontrou no celular de Antônio Carlos registro do pagamento de despesas de hospedagem, em 11 de janeiro de 2016, em favor de Amanda Bendine, filha do ex-presidente da Petrobrás.

Os investigadores atribuem a André Gustavo e a Antônio Carlos, que são publicitários, o papel de “profissionais da lavagem de dinheiro”.

Para o juiz federal Sérgio Moro, “o fato é mais um elemento de ligação entre Aldemir Bendine com os dois irmãos e, eventualmente, pode representar o dispêndio em favor dele de parte da propina por eles recebida do Grupo Odebrecht”.

“A investigação se aprofundou ainda nos elementos indiciários de que Antônio Carlos arcaria com hospedagem em hotéis para Aldemir Bendine e familiares, a partir de anotação em seu celular, datada de 11 de janeiro de 2016 ‘Reserva Amanda Bendine 2 bangalôs 1 apto duplo Fecha a nota e nós resolvemos’”, aponta a Lava Jato.

“A aludida anotação de Antônio Carlos (“Reserva Amanda Bendine 2 bangalôs 1 apto duplo Fecha a nota e nós resolvemos”), constitui indicativo de que, de algum modo, outras despesas de hotéis com bangalôs também foram suportadas pelos operadores financeiros. Há, portanto, fortes indicativos que Aldemir Bendine mantinha com André Gustavo e Antônio Carlos uma conta-corrente de propina, cujos valores iam sendo utilizados à medida da necessidade do então Presidente da Petrobrás e familiares”, indica a investigação.

A Procuradoria da República informou a Moro que “em diligência efetuada junto a Circus Turismo, empresa não investigada e que voluntariamente colaborou com o fornecimento das provas, foi certificado que, de fato, Antônio Carlos utilizou recursos de origem criminosa para arcar com despesas de hotéis para a família Bendine em Nova Iorque, entre os dias 22 de dezembro de 2015 e 4 de janeiro de 2016”.

“O pagamento teria ocorrido com pagamento à vista, em espécie, por parte de André Gustavo e para ocultar a origem e a natureza criminosa dos valores, não foram emitidas notas fiscais do serviço objeto da contratação em nome de Aldemir Bendine e familiares relacionados”, destaca a Procuradoria.

“Na quebra telemática de Amanda Bendine, postulada em razão de tais fatos, foi identificada a reserva do referido hotel em Nova Iorque.”

Procuradas, as defesas dos citados não responderam à reportagem para comentar o assunto até a conclusão desta edição.

 

- PONTOS-CHAVE

Odebrecht teria pago R$ 3 milhões

 

Banco do Brasil

Segundo a PF, em junho de 2014, Aldemir Bendine pede propina à Odebrecht de R$ 17 milhões para facilitar rolagem de dívida no BB. Pedido é negado.

 

Petrobrás

Em fevereiro de 2015, na véspera de assumir a presidência da Petrobrás, Bendine pede propina de R$ 3 mi à empreiteira. Valor é pago em três vezes. Ele nega.

 

Evento

Em julho de 2015, Bendine participa de evento com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, da devolução de R$ 139 milhões desviados da Petrobrás.

 

Confirmação.

No início deste ano, o operador André Gustavo Vieira da Silva, confirma o recebimento de R$ 3 milhões da Odebrecht por meio de empresa de fachada.

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Juiz manda transferir executivo; defesa quer revogar prisão

05/08/2017

 

 
Decisão de Moro para Bendine deixar PF atende a pedido da corporação; supostos operadores vão continuar na carceragem

 

 

O juiz federal Sérgio Moro mandou transferir ontem o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás Aldemir Bendine da carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, base da Operação Lava Jato, para o Complexo Médico-Penal em Pinhais, região metropolitana da capital paranaense. A decisão atende a pedido da própria corporação.

Também ontem, a defesa de Bendine pediu a revogação da prisão preventiva do executivo ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região. O ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobrás foi preso no dia 27 de julho na Operação Cobra, 42.ª fase da Lava Jato, por suspeita de receber propina de R$ 3 milhões da Odebrecht.

Os advogados de Bendine, Pierpaolo Cruz Bottinni, Igor Sant’ana Tamasauskas e Cláudia Vara San Juan Araújo, sustentam que “nada há que justifique esse cerceamento da liberdade”. “O paciente é primário, de bons antecedentes e não há qualquer indicativo concreto – além da mais lacônica suspeita levantada pela autoridade coatora – que irá interferir na colheita da prova”, afirmam.

Os advogados ainda dizem que o executivo está ilegalmente privado de sua liberdade. “Vale destacar, inclusive, que as medidas cautelares decretadas em seu desfavor já foram efetivadas pela Polícia Federal, sem qualquer intervenção ou resistência do Peticionário, já tendo sido colhidas, consequentemente, todas as provas possíveis e necessárias à elucidação dos fatos, inclusive seu interrogatório”.

Por pedido da PF, os publicitários André Gustavo e Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior, apontados como operadores financeiros do ex-presidente da Petrobrás, vão permanecer na carceragem da corporação.

O delegado federal Igor Romário de Paula argumentou que os irmãos “ainda estão sendo ouvidos para fins de esclarecimentos de fatos relacionados ao material apreendido na operação policial” e pediu a Moro que autorize a permanência dos operadores na PF “por mais alguns dias até a conclusão dos trabalhos”.

Integridade física. Em sua decisão, Moro assinalou que, em três anos de Lava Jato, “não houve notícia” de qualquer incidente contra a integridade física dos presos mantidos no Complexo Médico-Penal.

“A carceragem da Polícia Federal é prisão de passagem e a permanência nela depende de condições excepcionais, como é o caso da necessidade de proteção a condenados que celebraram acordo de colaboração premiada, como Marcelo Bahia Odebrecht”, afirmou Moro. “Por outro lado, as instalações do Complexo Médico-Penal, da ala reservada aos presos da assim denominada Operação Lava Jato, ainda que não perfeitas, são bastante adequadas.”/ J.A., L.V. e R.B.

 

- 'Adequadas'

“A carceragem da Polícia Federal é prisão de passagem e a permanência nela depende de condições excepcionais (...) Por outro lado, as instalações do Complexo Médico-Penal, da ala reservada aos presos da assim denominada Operação Lava Jato, ainda que não perfeitas, são bastante adequadas.”

Sérgio Moro

JUIZ FEDERAL